Não se trata de criptomoedas. Estamos falando de Moeda Digital do Banco Central, em livre tradução do inglês – Central Bank Digital Currency, que tem se tornado cada vez mais proeminente no cenário financeiro global. Vários países têm explorado e implementando ativamente a viabilidade do sistema emitido pelo Estado. Dados recentes revelam que mais de 85% dos bancos centrais em todo o mundo estão considerando o desenvolvimento de suas próprias moedas digitais. Dentre os que já adotaram ou estão em processo avançado de implementação dos CBDCs, destacam-se a China, as Bahamas, a Suécia e o Uruguai, com destaque para a China, pioneira em desenvolvimento e implementação do yuan digital. Lá, estima-se que mais de 20 milhões de carteiras digitais já estejam em circulação, demonstrando a aceitação do CBDC na economia do gigante asiático.
Já no caso da insular Bahamas, a adoção da moeda digital em 2020, representa um caso único, onde segundo o presidente de seu Banco Central, o executivo que até 2012 tinha assento no board do FMI, John A. Rolle, “o Sand Dollar tem desempenhado um papel crucial contribuindo com o fortalecimento de nossa estrutura financeira promovendo sua inclusão eficiente e acessível, especialmente em regiões remotas e sobretudo carentes de serviços bancários tradicionais”, revelou ele. O case da ilha paradisíaca vem seguido de países fisicamente distantes, mas quase gêmeos siameses no processo: a europeia Suécia e o sul-americano Uruguai. Os dois seguem em fase de ativa exploração dos CBDC´s como potenciais complementos às suas infraestruturas financeiras, incentivado pelo notável declínio no uso de dinheiro em espécie e correlato aumento nas transações eletrônicas no primeiro, onde estimativas indicam que apenas 1% de seu PIB é presentemente composto por notas e moedas em circulação, um dos níveis mais baixos do mundo.
O segundo, o Uruguai, em sua busca por maior estabilidade financeira e inclusão, encomendou estudos para perceber os benefícios e desafios associados à Moeda Digital, entendendo serem cruciais para determinar o impacto a longo prazo da iniciativa em sua economia. Aqui no Brasil, o DREX, como será chamado o Real digital, iniciou em fase de teste no início do ano, com previsão para entrar em vigor no final de 2024, início de 2025, quando o Banco Central do Brasil pretende disponibilizá-lo para uso por meio de contas digitais, aplicativos, e plataformas de pagamentos.
Fato é que, muito embora os benefícios potenciais dos CBDCs incluam maior eficiência de pagamentos, inclusão financeira aprimorada e redução da dependência de intermediários financeiros, há desafios significativos a serem considerados. Questões como privacidade dos dados, segurança cibernética e um potencial impacto nas políticas monetárias exigem atenção cuidadosa em sua adoção. Assim, enquanto diversos países estão avançando no desenvolvimento e na implementação dos CBDCs, é mister realizar análises abrangentes dos impactos econômicos, sociais e regulatórios para garantir uma transição suave e bem-sucedida para o futuro das transações financeiras digitais. O papel dos CBDCs na evolução do sistema financeiro global está moldando uma nova era de transações monetárias, exigindo uma abordagem equilibrada, orientada por dados para maximizar os benefícios e mitigar os riscos associados.
* Claudia Cataldi é mestre em Ciência Política e Relações Internacionais, pós-graduada pela Harvard Business School, bolsista pela ONU em Desenvolvimento Sustentável Local, formada em Jornalismo, Publicidade, Tecnologia em Processamento de Dados e em Direito
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