Raul Velloso analisa situaçãoReprodução

Tenho dito que, ao Governo Lula, falta o correto entendimento da natureza do problema macroeconômico brasileiro, o que impede que ele arranje disposição para enfrentar desequilíbrios previdenciários de elevada magnitude como os que existem em nosso setor público, o que exigiria a zeragem de altíssimos déficits atuariais, enfrentamento esse que é obviamente impopular, não importando que tal exigência tenha inclusive virado matéria constitucional via a Emenda 103/19, cuja aprovação Lula herdou de Temer. Dito de outra forma, passado o primeiro ano do atual governo, vê-se que a principal causa da derrocada dos investimentos públicos em infraestrutura e da resultante desabada da taxa de crescimento do PIB continua por aí firme e forte a exigir solução rápida e decisiva.

Olhando de trás para diante, carrego nas minhas andanças vários gráficos que gostaria de poder mostrar a Lula. O primeiro traz a evidência da alta correlação entre investimento em infraestrutura e crescimento do PIB desde o início dos anos 70. Ou seja, sem um, o outro não acontece. (Sobre isso, aliás, ele, que vive criando PACs, não parece ter muitas dúvidas).

Para variáveis medidas em % do PIB, o segundo gráfico mostra a desabada chocante do investimento de origem pública em infraestrutura no mesmo período, que caiu não menos que 8 vezes mesmo medido em % do PIB, enquanto a razão investimento privado/PIB ficava oscilando levemente em torno da média de 1%. Ou seja, o problema está no âmbito público e cabe, portanto, a ele resolvê-lo. E, assim, é de se esperar que, para onde o público for, o privado irá junto. (Mas não creio que esse tipo de dedução seja algo comum dentro das salas de reunião do atual governo).

O terceiro gráfico, na verdade, é um conjunto de gráficos da despesa pública que mostra a maior disparada ocorrendo no item previdência municipal, depois na estadual e, finalmente, na federal. O gráfico fecha com a desabada dos investimentos, já citada. Ou seja, explodem uns e desaba o outro, e, na sequência, o PIB. Tão simples quanto isso, lembrando que o problema extrapola o âmbito federal. O que fazer? Zerar os déficits atuariais de todos, e ponto final.

Tenho em mente o ajustamento do problema previdenciário piauiense que ajudei a implementar, em uma primeira fase, na recente gestão do ministro Wellington Dias, à época como governador estadual. Neste momento, dedica-se à segunda parte da tarefa o novo governador, Rafael Fonteles. Diante da gigantesca dimensão (e, portanto, importância) do problema dos entes subnacionais, torna-se necessária uma nova linha de frente nesse âmbito, que deveria ser coordenada, em nome de Lula, pelo ministro Wellington, alguém que acaba de ganhar experiência para dar cabo da difícil tarefa.

Raul Velloso
Consultor econômico