Na mesma velocidade que a política brasileira patina em práticas arcaicas e pouco eficazes em termos de gestão para o bem coletivo, a criminalidade avança com todos os seus tentáculos em diversos segmentos da sociedade, inclusive no âmbito eleitoral, ou seja, elegendo ano após ano, nomes que possam representar seus interesses, e “legitimar” um Partido do Crime.
Engana-se quem acha que isso acontece de forma isolada. Esse fenômeno cresce nas cidades grandes e no interior, explicitando a incapacidade do Poder Constituído em frear as organizações criminosas, sejam elas oriundas do tráfico, milícias ou de qualquer outro grupo.
Em São Paulo, por exemplo, cooperativas cobravam o Prefeito de Suzano de uma forma clara e objetiva: distribuíram no final de 2017, faixas e cartazes com as letras PCC – Prefeito Cumpra o Combinado. Um recado audacioso de um grupo que teve vários dos seus diretores presos por serem membros da maior facção criminosa do país, o PCC.
No Rio, há indícios de alta influência de grupos milicianos no legislativo. Caso seja uma realidade, trata-se, assim como em SP, de uma afronta à constituição e ao Poder Público de um modo geral, o que deve ser combatido. Passamos da hora de um plano de segurança pública integrado, juntando as três esferas: federal, estadual e municipal.
Se antes a segurança era uma prerrogativa do Estado, hoje a realidade é outra e isso deve ser revisto. Nossas imensas fronteiras são vulneráveis e corredor para o contrabando de armas e drogas. Só com uma ação baseada na inteligência e de forma conjunta conseguiremos reverter esse cenário.
A intenção daqueles que vivem à margem da lei é expandir suas bases em cada eleição, fazendo vereadores, deputados etc. Fazendo de criminosos, autoridades com direitos e influência o suficiente para governar por interesses próprios. Isso significa atropelar a constituição e o poder legal, tomando o Estado na mão grande, respaldados por votos que muitas vezes são frutos de barganhas, favores etc.
Sabe-se que o Comando Vermelho, oriundo da Falange vermelha na década de 80, e o próprio PCC tinham a pretensão de serem um partido, porém não deu muito certo e a estratégia foi tomar territórios e oferecer à população o que o Estado deixou de fazer, preenchendo uma lacuna que está custando caro à sociedade. É a velha história: “quem não dá assistência perde a concorrência”.
* Marcos Espínola: advogado criminalista e especialista em segurança pública
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