Ricardo Patitucci é psiquiatra e diretor-médico da Clínica da GáveaDivulgação
Depois dessa enxurrada de dopamina, os estoques ficam vazios e o indivíduo vai ao extremo oposto, a abstinência, experimentando intensos sentimentos de tristeza, irritabilidade, pensamentos autodepreciativos, insegurança, culpa, vazio, medo e abandono. Muitas vezes, a mente é preenchida com pensamentos de morte nessas ocasiões. E, nesse contexto, não raro ocorre um suicídio.
Caso o ciclo acima se retroalimente, ele se tornará uma “bola-de-neve” - e isso pode acontecer com diversas outras substâncias químicas, inclusive o álcool.
Por exemplo, na tentativa de se livrar da abstinência, o indivíduo intoxicado tenderá a utilizar a droga novamente, ocasionando adiante outra crise. E assim sucessivamente. Quando estes ciclos se instauram, a pessoa vai restringindo cada vez mais sua existência ao uso da droga. Com gradativos prejuízos
emocionais, sociais e financeiros.
Esses ciclos são, resumidamente, o que chamamos de dependência química. Tal transtorno mental é extremamente impactante na vida do adicto e de sua família e por isso é necessário buscar ajuda especializada o quanto antes. Até porque existem graus de dependência química. E quanto mais cedo se
diagnostica e se inicia o tratamento, maiores são as chances de recuperação.
Por fim, importante registrar que cerca de 30% das pessoas que experimentam cocaína se tornam dependentes químicos. Ou seja, de cada dez pessoas que usam uma única vez, três desenvolvem uma doença que pode se tornar muito grave e incapacitante. Logo, a principal orientação é não experimentar. E se utilizou e entrou em compulsão, seja do álcool ou de outras drogas, busque o quanto antes uma ajuda especializada.
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