Raul VellosoReprodução
Vejam que, na última década, os gastos previdenciários cresceram à taxa média real de 12,5% nos municípios; 5,9% nos Estados; 5,1% no INSS; e 3,1% no Regime Próprio Federal. Em razão disso, explodiram os déficits respectivos, enquanto os gastos com o investimento em infraestrutura, para o conjunto do setor público, evoluíam à taxa média de -5,4% (!), e o PIB, que só cresce se o investimento aumentar mais que ele próprio, passou a se expandir apenas a uma taxa média entre 1 e 2% a.a. Como o País poderia voltar a crescer a taxas elevadas?
Para concluir o desastre, os municípios estão deixando de pagar R$ 500 bilhões a três grandes grupos de credores: INSS (nos que estão com ele conectados); regimes próprios seus e, finalmente, a detentores de precatórios contra eles, algo obviamente bastante complicado para equacionar. Registre-se que o passivo previdenciário formal de todos os entes já chegou a algo da ordem de R$ 5 trilhões, praticamente o mesmo valor da dívida pública convencional. Só que o primeiro, e poucos notam isso, é bem mais exigível que o segundo.
Seja pelo que for, uma expectativa de inflação, cada vez menos animadora para o grupo que fixa a taxa de juros Selic no Banco Central, acaba de levar à interrupção das seguidas quedas que vinham ocorrendo na taxa oficial. Daí Lula, que só quer ver quedas expressivas e permanentes dela, ter acabado de cuspir um bocado de mau humor junto à mídia.
Alguém próximo a ele precisa, contudo, convencê-lo de que o problema central que impede que se tenha um período mais longo de reduções seguidas da taxa Selic se chama excesso de gasto previdenciário, e todas as consequências desfavoráveis que, como visto acima, isso acarreta. Como pensar que é possível reduzir sistematicamente a Selic em um quadro tão desfavorável à vista, como o que acaba de ser descrito?
Existe, sim, um passo a passo adequado (e já testado) para zerar os passivos atuariais, única saída para garantir juros baixos e PIB mais alto. Mas os petistas, com raras exceções (Wellington Dias foi uma delas quando governava o Piauí), não querem nem ouvir falar em ajustar a previdência...
* Raul Velloso é consultor econômico
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