Nos últimos anos o Rio de Janeiro foi tomado pelo Poder Paralelo. Parece alarmante, mas é a realidade. E a reação das autoridades é mais do que providencial. É urgente mesmo e deve ser ampliada com a participação federal para tornar a operação ainda mais consistente, pois os tentáculos do crime estão nas fronteiras, nos estados e em cada comunidade. A tarefa da polícia é árdua, mas com inteligência, persistência e integração será possível vencer essa guerra.
Facções criminosas e grupos milicianos dividiram a Cidade e o Estado. Se da década de 80 aos anos 2000 foram elas que cresceram, nas últimas duas o avanço foi dos grupos “paramilitares”, as chamadas milícias que, sob o argumento de impedir o domínio do tráfico, se organizaram e passaram eles a se aproveitarem da comunidade. O Rio das Pedras foi o berço desse movimento e o que no início para muitos pareceu uma proteção, na prática se tornou um pesadelo, com a exploração de internet ilegal, gás, transporte e, hoje, também o comércio de drogas. Quem questiona ou não segue as regras impostas paga caro, inclusive com a própria vida.
Por outro lado, as facções, que também racharam ao longo dos anos, tendo no Rio, por exemplo, não só o Comando Vermelho (a mais antiga), mas o Terceiro Comando Puro e a ADA – Amigos dos Amigos buscam uma reação para retomar territórios. Assim, estabeleceu-se a guerra e o caos. No âmbito nacional Comando Vermelho e PCC também romperam.
Agora, o Governo do Estado age com o objetivo de asfixiar o crime organizado e combater a lavagem de dinheiro. É esse o caminho. A mega operação envolve mais de dois mil homens e foca na Gardênia Azul, Cidade de Deus e Rio das Pedras, além de outras comunidades na Zona Oeste. Sabemos que é só um começo e há muito para avançar. Operações assim já aconteceram, como a implantação das UPPs e a operação no Complexo do Alemão em 2007, quando as imagens de centenas de bandidos fugindo correram o mundo. Mas faltou continuidade e pouco tempo depois tudo voltou como antes.
Entretanto, esse episódio deixou um legado. Seu sucesso foi porque Polícia Militar, Polícia Civil e Polícia Federal, além de homens do Exército, Marinha, Aeronáutica e Força Nacional de Segurança Pública trabalharam juntos e é isso que ainda falta: integração nacional no combate à violência.
Além de inteligência é preciso integrar as forças de segurança das três esferas num processo permanente e crescente para retomarmos a ordem. Isso só será possível quando segurança pública for uma política de estado e não de governo. Caso contrário, teremos ações pontuais e pouco eficazes, com a violência crescendo e aterrorizando o cidadão.