Bernardo Egas. Ambientalista e ex-secretário de Meio Ambiente da Cidade do Rio de Janeiro (2019-2020)Divulgação
Desafios da economia circular no Rio de Janeiro
A gestão de resíduos sólidos é um dos grandes desafios urbanos, especialmente em cidades com alta densidade populacional, como o Rio de Janeiro. Com uma coleta diária de aproximadamente 10 mil toneladas, sendo 50% de resíduos orgânicos, a necessidade de uma gestão eficiente e sustentável se torna ainda mais premente. A integração do Centro de Tratamento de Resíduos de Seropédica, destino de parte dos lixos coletados, representa um avanço significativo, mas é fundamental ir além do simples destino final. Os focos devem ser reduzir a quantidade de resíduos nos aterros e valorizar a economia circular e o conceito de lixo zero.
Afinal, a economia circular minimiza o desperdício e maximiza o valor dos recursos ao longo de todo o ciclo de vida dos produtos, o que envolve redução, reutilização e reciclagem de materiais. A coleta seletiva porta a porta é uma estratégia fundamental nesse processo. Implementada em diversos bairros, ela permite que recicláveis sejam separados e enviados para centros de triagem, diminuindo a quantidade de resíduos que chega aos aterros.
Já o conceito de "lixo zero" visa a eliminação completa dos resíduos sólidos por meio da mudança de comportamento e de processos de produção e consumo. No contexto urbano, isso envolve a criação de sistemas de gestão, que integrem a redução na fonte, a reutilização e a compostagem, diminuindo, assim, os lixos enviados a aterros e incineradores.
Os catadores e recicladores desempenham um papel fundamental. Eles contribuem para a geração dos chamados empregos verdes. Para fortalecer esse papel, são necessárias várias iniciativas: a implantação de centros de reciclagem em todos os bairros, para facilitar o acesso dos catadores e estimular a participação da comunidade; a legalização das cooperativas de catadores com assessoria jurídica gratuita, garantindo melhores condições de trabalho; e investimentos em infraestrutura para as cooperativas, com galpões e áreas de armazenamento adequadas. Capacitações e parcerias com cooperativas são iniciativas importantes para integrar esses profissionais.
Para apoiar a economia circular e diminuir a dependência de aterros, investimentos em infraestrutura e modernização são fundamentais. A ampliação dos centros de triagem, assim como a implementação de tecnologias para a separação e tratamento de resíduos, são passos importantes. Promover a compostagem dos resíduos orgânicos e incentivar práticas de consumo responsável também podem reduzir significativamente os lixos que chegam aos aterros.
A gestão integrada de resíduos sólidos no Rio de Janeiro é um grande desafio e essencial para a construção de uma cidade mais “verde”. A conscientização da população sobre a importância da coleta seletiva e a adesão a práticas ecologicamente corretas ainda precisam de atenção. Com um esforço coordenado entre governos, setor privado e sociedade civil, é possível avançar em direção a processos e sistemas mais eficientes e sustentáveis.
* Bernardo Egas é ambientalista e ex-secretário de Meio Ambiente da Cidade do Rio de Janeiro (2019-2020)
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