José Beniste - historiador e pesquisador brasileiroDivulgação
O Brasil é um país rico, de culturas universais, sabores e saberes milenares. Corta para os anos 70, representativo por ser a década onde os festivais de melodias de terreiro surgiram e chegaram a ocupar quadras de grandes agremiações, e, até mesmo o Maracanãzinho na década de 90. Com o reaquecimento no Rio, surgiu a ideia de premiar os destaques para incentivar artistas, produtores, intérpretes, dentre outros profissionais que se envolviam nas produções. O impacto foi imediato e levou à fomentação do movimento dos festivais para, inicialmente, sete estados do Brasil.
A importância deste projeto atraiu padrinhos de peso como Alcione, Ivone Lara, Moacyr Luz, Rita Benneditto, Dudu Nobre, Sandra de Sá, entre outra feras, que nesta trajetória deram as mãos para fortalecer este movimento. Suas músicas retratam a cultura de índios, escravos e a mitologia afro-brasileira, tão deturpada por nossa sociedade. O evento já ocupou teatros importantes em todo nosso país e, a cada ano, se fortalece com suas ações que afirmam a importância dessas tradições populares que estão vivas em nosso dia a dia, mas invisíveis em sua origem e importância.
Quem diria que a música que impulsionou a carreira de Tom Jobim, “Águas de Março”, teve a influência de um compositor de pontos de melodias de terreiro, J.B. De Carvalho, misturado com um verso de Camões? Este movimento também revelou artistas de sucesso como Elymar Santos. Cantores como Zeca Pagodinho, Moacyr Luz, Arlindo Cruz, e outros, também buscam suas inspirações na fé popular, que explodem em grandes sucessos desses consagrados artistas.
Diferente de outros momentos, segmentos de cultura popular, terreiros e segmentos culturais estão sendo perseguidos, e hoje esses temas são abordados nas músicas que narram este momento triste e real de nossa história. O prêmio vem registrando essas músicas campeãs desses festivais, que têm repercussão e notoriedade em nossas comunidades e sociedade em geral.
O prêmio foi criado pelo ICAPRA - Instituto Cultural de Apoio e Pesquisa às Tradições Afro, fundado em 1998, para difundir, preservar e contribuir com o desenvolvimento e manutenção dessas tradições. Há 18 anos, sem patrocínio, o prêmio mostra a força desta cultura que resiste, a mobilização de grupos que se organizam e criam estratégias alternativas para que se mantenham presentes neste encontro que é referência em reunir os bambas do ano, chamado o maior encontro de curimbas do Brasil.
Fundamental que tenha ações afirmativas de nossas comunidades que mostram esta cultura no nosso dia a dia, riquezas e heranças de nossos ancestrais, que não aprendemos nas escolas, mas sim nesses quilombos que hoje vão para as ruas se mostrar, mesmo sendo perseguidos e sem políticas eficazes que contribuam para que nossa sociedade conheça a essência dessas tradições em nosso estado e país. A economia tem contribuição significativa dessas culturas, que movimentam a moda, gastronomia, cabelo e estabelecimentos comerciais específicos para estes segmentos.
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