Em 2023, foi a vez de o sarampo preocupar o mundo, incluindo o Brasil, que já havia erradicado a doença. Em 2016, inclusive, recebemos o certificado de país livre do vírus, título que foi revogado três anos depois, após a volta da circulação em nosso território.
Ainda sobre o sarampo, a Organização Mundial da Saúde (OMS) apontou mais de 300 mil casos reportados ao longo do ano passado, um aumento de 79% em relação ao período anterior. Em 2023, 51 países anunciaram grandes surtos da doença, contra 32 nações em 2022. Novamente, outra enfermidade prevenível por meio da imunização vacinal.
Mas o que faz essas doenças já controladas, tão estudadas e com vacinas comprovadamente eficazes há anos, retornarem à circulação de maneira tão significante? Uma das respostas é a epidemia de desinformação impulsionada pela pulverização – tão rápida quanto a dos vírus – de notícias falsas, principalmente disseminadas na internet.
Quem comprova essa teoria é a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), que divulgou, recentemente, a pesquisa Truth Quest¹. Nela, o Brasil figura em último lugar no ranking entre 21 países quando o assunto é a capacidade de adultos identificarem se uma notícia on-line é verdadeira.
O teste foi feito com mais de 40 mil pessoas, que interagiram com conteúdos falsos e verdadeiros em um ambiente parecido com uma rede social, que, para a maioria dos brasileiros, é a fonte prioritária de informação, de acordo com o estudo. As evidências analisadas mostraram que, no cenário nacional, há dificuldade de se distinguir o que é fake news, causando preocupação imediata quando os temas das notícias enganosas são pautas de saúde.
A desinformação, de fato, compromete o bem-estar, e isso não é exclusividade brasileira. Cerca de 24% dos adultos norte-americanos acreditam que há relação entre a vacina contra o sarampo e o autismo, como pontou uma pesquisa² da Universidade da Pensilvânia. Estudos científicos dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) apontam que não há evidências precisas sobre isso e afirmam que a cobertura vacinal contra o sarampo caiu nos Estados Unidos.
Enquanto as notícias falsas circularem livremente na mesma velocidade que os vírus se espalham, a saúde da população estará em risco, e, assim, presenciaremos o retorno de doenças como sarampo e coqueluche. É preciso uma grande força conjunta para avançarmos na educação da população sobre a compreensão e a distinção de questões científicas e de saúde.
Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor.