Recentemente, vimos um alerta global para o aumento dos casos de coqueluche, doença altamente transmissível que pode ser evitada pela vacinação. Segundo o Centro Europeu de Controle e Prevenção das Doenças (ECDC), somente nos três primeiros meses de 2024 foram registrados, na União Europeia, mais de 32 mil casos em, pelo menos, 17 países. No Brasil, dados do Ministério da Saúde apontam, neste primeiro semestre, 115 casos.

Em 2023, foi a vez de o sarampo preocupar o mundo, incluindo o Brasil, que já havia erradicado a doença. Em 2016, inclusive, recebemos o certificado de país livre do vírus, título que foi revogado três anos depois, após a volta da circulação em nosso território.

Ainda sobre o sarampo, a Organização Mundial da Saúde (OMS) apontou mais de 300 mil casos reportados ao longo do ano passado, um aumento de 79% em relação ao período anterior. Em 2023, 51 países anunciaram grandes surtos da doença, contra 32 nações em 2022. Novamente, outra enfermidade prevenível por meio da imunização vacinal.

Mas o que faz essas doenças já controladas, tão estudadas e com vacinas comprovadamente eficazes há anos, retornarem à circulação de maneira tão significante? Uma das respostas é a epidemia de desinformação impulsionada pela pulverização – tão rápida quanto a dos vírus – de notícias falsas, principalmente disseminadas na internet.

Quem comprova essa teoria é a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), que divulgou, recentemente, a pesquisa Truth Quest¹. Nela, o Brasil figura em último lugar no ranking entre 21 países quando o assunto é a capacidade de adultos identificarem se uma notícia on-line é verdadeira.

O teste foi feito com mais de 40 mil pessoas, que interagiram com conteúdos falsos e verdadeiros em um ambiente parecido com uma rede social, que, para a maioria dos brasileiros, é a fonte prioritária de informação, de acordo com o estudo. As evidências analisadas mostraram que, no cenário nacional, há dificuldade de se distinguir o que é fake news, causando preocupação imediata quando os temas das notícias enganosas são pautas de saúde.

A desinformação, de fato, compromete o bem-estar, e isso não é exclusividade brasileira. Cerca de 24% dos adultos norte-americanos acreditam que há relação entre a vacina contra o sarampo e o autismo, como pontou uma pesquisa² da Universidade da Pensilvânia. Estudos científicos dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) apontam que não há evidências precisas sobre isso e afirmam que a cobertura vacinal contra o sarampo caiu nos Estados Unidos.

Enquanto as notícias falsas circularem livremente na mesma velocidade que os vírus se espalham, a saúde da população estará em risco, e, assim, presenciaremos o retorno de doenças como sarampo e coqueluche. É preciso uma grande força conjunta para avançarmos na educação da população sobre a compreensão e a distinção de questões científicas e de saúde.
* Alberto Chebabo, infectologista dos laboratórios Sérgio Franco e Bronstein, da Dasa