Paty Fonte é especialista em Pedagogia de Projetos e Educação InfantilDivulgação
Por trás dos aparelhos existem os adultos, nós que permitimos ao “vilão” ocupar tamanho espaço na mecânica do cotidiano infantil. Especialistas de diversas áreas orientam quando oferecer o celular a uma criança, o tempo de tela adequado a cada idade, entre inúmeros outros pontos importantes, mas cá para nós, na prática é quase impossível proibir o bebê curioso de pegar aquele “brinquedo” luminoso e sonoro da mão da mamãe ou deixar a criança maior desvinculada da rede digital de amigos, dos jogos, conversas e produções de vídeos rápidos.
O maior desafio é conseguir atrelar as tecnologias a uma rotina saudável. Somente proibir o celular, sem oferecer outras possibilidades, sem dar a chance da criança explorar e conhecer o mundo por diferentes nuances e perspectivas, não vai amenizar o problema.
Há uma carência do brincar, da brincadeira, do jogo, da ludicidade. Cedo demais as crianças são exigidas, cobradas, pressionadas para que demonstrem um comportamento que a maioria dos adultos não consegue ter.Há uma carência de relações afetuosas, de tempo junto às famílias, ouvindo histórias, desenhando em conjunto, cantando, dançando, cozinhando… Há uma enorme lacuna entre o que vemos nas telas e o que vivemos em nossos lares. Entre o sonho e a realidade. Entre o eu e o mundo. Há uma carência em sentir alegria na simplicidade da vida.
O que todos buscamos viver é o equilíbrio. Independente do celular, há uma dificuldade em educar sem “transbordar” a permissividade exagerada ou a repressão excessiva. Qual é o caminho do meio?
Como não existem receitas em educação nos cabe encarar os fatos, refletir sobre eles e compreender a importância da educação socioemocional.
Queremos crianças concentradas, mas poucos adultos vão ler esse artigo até o final. A falta de concentração, de paciência, de tempo para reflexão é apenas um eixo neste complexo universo humano vivente no século XXI.
Identificar e gerenciar as próprias emoções e sentimentos é uma capacidade, uma competência que engloba várias habilidades a serem desenvolvidas e potencializadas. Logo, está dentro de nós a possibilidade de manter um equilíbrio emocional e assim olhar a vida de maneira diferente, com olhos mais amorosos e menos ansiosos, mais curiosos e menos egoístas, mais criativos e menos reprodutores, mais reflexivos e menos influenciáveis.
Começar este processo de autoconhecimento e alfabetização emocional na primeira infância é o maior e melhor presente que um adulto pode oferecer a uma criança.É presente raro, mais caro que celular de última geração. Em “tempo líquido”, metáfora de Bauman, a qual peço licença para utilizar, só provocam a mudança aqueles quem têm coragem e mergulham fundo.
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