Vivemos uma nova epidemia que avança à medida que os smartphones se popularizam, causando impactos em praticamente todas as faixas etárias e classes sociais. Esta é a Epidemia da Distração, com consequências graves à segurança viária causadas pelo uso do telefone celular ao dirigir.
Segundo o Infosiga, no estado de São Paulo, entre janeiro e julho de 2024, 3554 pessoas morreram em acidentes de trânsito, aumento de 23% em relação ao mesmo período de 2023. O resultado mostra que é preciso repensar o modelo de segurança viária, que deve considerar formas para combater a distração ao volante.
Segundo a Associação Brasileira de Medicina do Tráfego (ABRAMET), o celular ao volante é a principal causa de Falta de Atenção ao Conduzir (FAC), sendo determinante para o aumento de acidentes, ao influenciar fatores operacionais, psicológicos e cognitivos do motorista. Trata-se da mesma perda de capacidade daquela causada por 1g/l de álcool no sangue.
Motoristas com falta de atenção causada pelo celular reagem de forma insegura, reduzem a velocidade inesperadamente, têm dificuldade de manter o posicionamento correto do veículo na via e tendem a demorar mais tempo para frear.
A ABRAMET aponta que após o envio de mensagem de texto, o risco de acidente de trânsito permanece por até 3 segundos, o que equivale a quase 100 metros que um carro a 100 km/h percorre sob o “efeito pós-chamada”. O risco começa quando o aparelho toca, com a falta de atenção sendo intensificada durante a conversa ou troca de mensagens.
Quem utiliza o celular ao volante tende a ter menos atenção com a traseira e os lados do veículo, estando exposto ao risco iminente de um sinistro de trânsito. A possibilidade de o condutor se envolver em um acidente de trânsito ao ler uma mensagem é 400% maior do que aquele que permanece atento. E sobe para 23 vezes quando o motorista digita uma mensagem enquanto dirige.
O total de acidentes relacionados ao uso do celular ainda é subestimado. Existe a dificuldade de se montar um banco de dados estruturado, com informações precisas e confiáveis deste tipo de infração e da apuração em perícias e laudos técnicos que apontem este elemento como principal fator gerador da ocorrência. Ainda não foi possível criar o “bafômetro do celular” para medir e constatar de forma precisa a distração do condutor.
Segundo a Cambridge Mobile Telematics, startup ligada ao MIT (Instituto de Tecnologia de Massachussets), pelo menos 25% dos motoristas envolvidos em acidentes de trânsito nos Estados Unidos (EUA) estavam utilizando o celular até um minuto antes da ocorrência. Há um esforço para debater e propor soluções. Nos EUA, a National Distracted Driving Coalition (NDDC) propõe o uso de inteligência artificial para intensificação das ações de fiscalização, além de aplicações que permitam o bloqueio dos aparelhos celulares quando o motorista estiver dirigindo, a partir de dados telemáticos, geolocalização e uso de algoritmos que identifiquem o condutor.
No Brasil, ABRAMET e Observatório Nacional de Segurança Viária (ONSV) conduzem o tema. Como líder do setor de mobilidade, o Grupo CCR quer participar deste debate, assim como fez quando iniciou o Movimento Afaste-se, iniciativa que tem o objetivo de proteger os colaboradores que atuam no atendimento nas pistas. A CCR Rodovias inicia nesta Semana Nacional de Trânsito campanha de segurança cuja temática foca, sobretudo, em pequenas, mas fundamentais atitudes que cada um deve ter ao dirigir, para garantir a segurança de todos: como não usar o celular ao volante. A companhia entende que é preciso ampliar a visibilidade do tema e das ações que cada motorista, ciclista e pedestre deve adotar.
Nesta nova sociedade hiper conectada, para salvar vidas, existe a necessidade de ir além das ações de engenharia, fiscalização e educação. É necessário repensar nossas atitudes. Estamos abertos, dispostos e empenhados a buscar soluções para combater esta nova epidemia e salvar vidas.
* Eduardo Camargo é presidente da CCR Rodovias, plataforma responsável pela administração das 11 concessionárias de Rodovias do Grupo CCR
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