Antônio Geraldo da SilvaDivulgação

Eu costumo dizer em minhas palestras para enviarem mensagens pelo meu Instagram @antoniogeraldo e não pelo WhatsApp, afinal eu entro apenas um momento do dia para as redes sociais, enquanto no aplicativo de mensagens chegam notificações o dia inteiro, nem sempre vou conseguir acompanhar e reservo mais para familiares e pacientes, principalmente pelo senso de urgência que essa ferramenta gera. Pela minha saúde mental eu não fico o dia todo no celular. Essa é uma regra que crio para mim, para organizar melhor o meu dia e controlar o acesso à quantidade gigante de informações que recebemos.
Mas para muitas pessoas ficar sem celular ou desconectado da internet é um grande desafio. Sabemos que a evolução tecnológica tem transformado a maneira como nos comunicamos e acessamos informações, atualmente podemos fazer praticamente tudo através de um só aparelho. No entanto, essa dependência crescente dos dispositivos móveis trouxe à tona um novo fenômeno: a nomofobia, ou o medo irracional de ficar sem acesso ao telefone celular. A palavra é uma abreviação de “no-mobile-phone phobia”.
Uma pesquisa publicada na revista Addictive Behaviors aponta que 53% dos usuários de celulares sentem ansiedade ao se verem impossibilitados de acessar seus dispositivos. Isso não se limita apenas a indivíduos mais jovens; a faixa etária de adultos entre 35 e 55 anos também tem mostrado sinais de dependência crescente.
A nomofobia está muito relacionada a sociedade moderna onde as pessoas fazem conexões pelas redes sociais, trabalham na internet e acessam muitos aplicativos e sites que prometem facilitar o dia a dia. A ideia é ótima, afinal você economiza tempo utilizando esses gadgets para aumentar a produtividade, otimizar rondas ou ter mais tempo para os momentos de lazer com a família e amigos, mas é preciso ter cuidado, pois o efeito pode ser o contrário.
Esse fenômeno pode apresentar sintomas físicos também como, agitação, irritabilidade, dificuldade de concentração, medos irracionais e para pessoas já diagnosticadas com Transtorno de Ansiedade Generalizada, Transtorno de Pânico ou até mesmo a Depressão pode ser ainda pior, pois essa profusão de informação pode ser um galho para crises ou agravamento de sintomas. Quando esses sintomas causam prejuízos é que precisamos ficar atentos e buscar ajuda com o psiquiatra.
Além de todos os alertas de saúde que podem estar relacionados à nomofobia, existem impactos também na produtividade e nas relações interpessoais. As pessoas têm se visto menos pessoalmente e pesquisas afirmam que funcionários que verificam constantemente seus celulares durante o expediente tendem a ter um rendimento menor e são mais propensos a cometer erros.
Reconhecer a existência desse problema e buscar soluções preventivas pode ajudar a mitigar seus efeitos e promover uma relação mais saudável com a tecnologia. A época que vivemos pede que encontremos um meio-termo entre o uso benéfico e a dependência prejudicial de dispositivos móveis. Eu sou um aficionado por tecnologia, mas também sou muito cuidadoso com a minha saúde, por isso respeito o meu corpo e a minha mente. Respeite você também.
Se precisar peça ajuda!
Procure um psiquiatra.
Cuide-se!

*Antônio Geraldo da Silva é psiquiatra e presidente da Associação Brasileira de Psiquiatria