Mônica Costa Boruchovitch Divulgação

Você já se perguntou por que, mesmo com tantos anos vividos, ainda sentimos a necessidade de sermos validados pelos outros? Ou por que continuamos a querer parecer interessantes aos olhos dos amigos? Essas inquietações não surgem por acaso. Elas refletem um modo de vida que, desde sempre, nos ensinou a medir nosso valor pela utilidade, pela beleza, pelo desempenho. Com o passar do tempo, quando esses critérios vão sendo transformados pelo envelhecimento, nasce um incômodo profundo: será que ainda seremos vistos, ouvidos, reconhecidos?

Essas questões não dizem respeito apenas a histórias individuais. Fazem parte de uma mudança coletiva. O Brasil está envelhecendo. Segundo o último Censo Demográfico do IBGE, a população idosa cresceu 57,4% em apenas 12 anos. Em breve, teremos mais pessoas com mais de 60 anos do que jovens no país.

Mas qual seria, afinal, o maior desafio de envelhecer, quando se excluem as doenças e as limitações físicas? Talvez seja justamente a sensação de desimportância que se impõe, sutilmente, dia após dia. Vivemos em uma sociedade que exalta o sucesso financeiro, a agilidade, a independência e o vigor da juventude. Envelhecer, nesse contexto, é um ato de resistência.

Se tudo correr bem, se a saúde física e mental se mantiver, chegaremos à velhice saudável. Isso mesmo, na melhor das hipóteses, seremos velhos saudáveis. Mas, ainda assim, enfrentaremos olhares atravessados por preconceitos silenciosos. Aos olhos da cultura do desempenho, o idoso produz menos, consome com mais cautela, move-se com mais lentidão. E, por isso, passa a ser visto como alguém com menor valor.

Contudo, os idosos estão presentes. Frequentam academias, viajam, enchem os teatros, vivem intensamente. Esse tempo também lhes pertence. Mas quando uma pessoa com mais de 60 anos exibe vitalidade, surgem frases como: “Ela tem alma jovem”, “Nem parece a idade que tem”, “Está ótimo, um jovem!”. Como se ser velho e estar bem fossem incompatíveis. Como se o elogio só tivesse validade ao recorrer à imagem da juventude.

Essa associação revela uma distorção cultural. Os envelhecimentos são múltiplos e singulares. Há quem atravesse perdas com leveza, e quem carregue amargura de dores que o tempo não curou. Algumas pessoas encontram na maturidade seus melhores dias. Outras, não. E tudo isso é parte legítima da experiência de viver — e envelhecer.

Se toda vez que quisermos valorizar um idoso recorrermos à juventude como referência, algo está errado na forma como enxergamos a velhice.

Vivemos em um país historicamente identificado como jovem, mas que agora precisa lidar com uma nova realidade. Nas ruas, praças e calçadas das cidades brasileiras, é fácil perceber o avanço da idade média da população. Não se trata mais de futuro. É o presente que exige respostas.

Nesse cenário, é urgente reconhecer o espaço e a importância da pessoa idosa. É necessário garantir o básico: serviços de saúde, moradias assistidas, oportunidades de lazer, viagens, cursos e atividades culturais para esse público que deseja e pode consumir. Ao mesmo tempo, é preciso acolher aqueles que dependem do poder público para acessar o mínimo.

Mais que estrutura, é preciso mudança de olhar. Dar visibilidade, voz e escuta aos mais velhos. Não se trata de concordar com tudo o que dizem, mas de reconhecer que suas experiências têm valor e suas opiniões, importância.

É sobre validar a existência. Validar o valor.

É preciso que o velho tenha importância e saiba que tem. Porque o grande sofrimento da velhice não está nas rugas, mas na progressiva desimportância.
Mônica Costa Boruchovitch é mestre em Psicologia e autora do livro 'Ninguém é triste o tempo todo'