Juliana ArroxellasDivulgação
A polêmica surgiu depois que alguns estudos observacionais apontaram uma correlação entre o uso do remédio na gestação e o diagnóstico de autismo nas crianças. Mas é essencial entender: correlação não significa causa. Esses estudos apenas observaram coincidências estatísticas, sem conseguir provar que o medicamento realmente provoca o Transtorno do Espectro Autista (TEA).
O autismo é uma condição complexa do neurodesenvolvimento, que afeta comunicação, interação social e comportamento. O termo “espectro” é usado justamente porque ele se manifesta de formas muito variadas — algumas crianças têm atraso na fala, outras não; algumas precisam de apoio constante, enquanto outras têm grande independência.
Um dos sinais precoces que podem ser observados ainda nos bebês é o contato visual. Ele não deve ser apenas rápido ou mecânico: precisa ter função social, ser uma ferramenta de engajamento. É importante notar se a criança se interessa mais por objetos e luzes do que por pessoas. Isso pode indicar um alerta, mas não deve ser interpretado isoladamente.
Segundo dados internacionais, 1 em cada 36 crianças está no espectro, um número que reforça a importância de informação correta e apoio às famílias.
Ao contrário do que muitas fake news tentam afirmar, não existe uma causa única para o autismo. A ciência mostra que o TEA é resultado de uma combinação de fatores genéticos e ambientais.
Na genética, não há um “gene do autismo”, mas uma interação de vários genes que influenciam como o cérebro se desenvolve. Em algumas famílias, essas variações são herdadas; em outras, surgem espontaneamente ainda na gestação. É por isso que irmãos de pessoas autistas têm mais chances de também estarem no espectro.
Além disso, fatores ambientais podem aumentar o risco quando já existe predisposição genética. Isso inclui idade avançada dos pais, complicações durante a gestação ou o parto, prematuridade extrema, baixo peso ao nascer ou exposição a certas condições médicas sem orientação. É essencial entender que esses fatores não causam autismo por si só, mas podem contribuir dentro de um conjunto maior.
Culpar um único remédio ou buscar um “vilão” é não só cientificamente incorreto, como injusto com as famílias. Essa visão simplista atrapalha o debate e pode até7 prejudicar quem realmente precisa do medicamento. A luta contra o autismo não é encontrar culpados, mas garantir apoio, diagnóstico precoce e inclusão.
Vivemos em um mundo onde as notícias circulam mais rápido do que a ciência pode responder. Por isso, é fundamental buscar informações em fontes confiáveis e desconfiar de soluções fáceis para problemas complexos. O autismo é parte da diversidade humana e precisa ser compreendido com respeito e responsabilidade.
A lição que fica é clara: em vez de procurar culpados, precisamos oferecer cuidado, acolhimento e conhecimento. Só assim construiremos uma sociedade mais informada e preparada para apoiar nossas crianças e famílias.

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