As imagens teriam sido gravadas na sexta, depois que um suspeito foi baleado em operaçãoReprodução
Publicado 25/09/2022 10:52
Rio - O comando do Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope) instaurou um procedimento para investigar as circunstâncias em que policiais militares da unidade foram flagrados agredindo mototaxistas no Morro do Dezoito, em Água Santa, na Zona Norte do Rio, na última sexta-feira (23). O ataque foi registrado durante um protesto, após um suspeito ter sido baleado em uma operação da Polícia Militar na comunidade. 
Nas imagens que circulam nas redes sociais, os militares do Bope 'encurralam' os mototaxistas em uma parede e os agridem com socos e pontapés. De acordo com relatos nas redes sociais, a manifestação teria sido ordenada por traficantes, que mandaram ainda fecharem o comércio e igrejas. Nas últimas quinta (22) e sexta-feira, a PM atuou na comunidade por conta da tentativa de criminosos do Morro do Dezoito tomarem o controle total do Morro do Fubá. 
Neste domingo (25), o Batalhão de Ações Com Cães (BAC) reforça o policiamento no Morro do Dezoito, onde, até o momento, não há registro de prisões, apreensões ou novos confrontos. Já o 9º BPM (Rocha Miranda) realiza patrulhamento nos morros do Fubá e do Campinho, além de nas favelas da Caixa D'Água e do Saçu. Não há informações sobre troca de tiros, presos ou material ilícito encontrado. 
Guerra entre traficantes e milicianos
Desde o início do ano, o Comando Vermelho e a milícia do "Tico e Teco" tentam assumir o domínio completo do Morro do Fubá. O local era comandado pelos milicianos, mas a traição de um integrante da organização criminosa facilitou a invasão dos traficantes, liderados por Rafael Cardoso Valle, o "Baby", gerente do Morro do Dezoito. Atualmente, cada grupo chefia uma parte da comunidade, com o tráfíco na parte alta e os paramilitares na baixa. 
"Baby" é do Morro do Urubu, em Pilares, e conhecido por um perfil violento. Ele costuma organizar assaltos, ataques a policiais e homicídios na região. Por também ter atuado no Complexo da Penha, ele recebeu investimento do "Tropa do Urso" - grupo de traficantes do chefe do tráfico da Vila Cruzeiro, Edgar Alves, o "Doca" - para expandir os domínios da facção para Cascadura e Piedade, onde milicianos estavam estabelecidos. 
Para conseguir tomar essas áreas, os criminosos liderados por Rafael usaram como base as favelas do Saçu, Lemos de Brito, Caixa D'Água e o Morro do Dezoito, que haviam sido retomadas recentemente pelo Comando Vermelho. Ao invadirem o Fubá, os traficantes teriam conseguido tomar uma casa que seria utilizada por "Leléo". No imóvel, eles deixaram uma pichação com a frase "Baby, o terror das milícias". 
Já a milícia que atua no Morro do Fubá é comandada pelos irmãos Leonardo Luccas Pereira, o "Leléo" ou "Tico", e Diogo Luccas Pereira, o "Teco" ou "Playboy", que está preso desde 2020, após sete anos foragido. Mas, mesmo de dentro da cadeia, ele ajuda na atuação dos bandidos, que também estão nas regiões de Campinho, Cascadura, Quintino, Tanque e Praça Seca. Com um histórico de violência, a organização criminosa tem ligação com o "Escritório do Crime", grupo de matadores de aluguel. 
Nas favelas controlados pelos irmãos, muros contam com os desenhos dos esquilos Tico e Teco, personagens da Disney. Contra Leonardo, há mandados de prisão em aberto pelos crimes de organização criminosa e roubo majorado e outros dois por homicídio qualificado. A milícia comandada por ele faz cobrança ilegal de uma taxa de segurança de moradores e comerciantes do Fubá, no valor de R$ 50, que pode ser paga aos bandidos por meio da ferramenta 'Pix'. 
Morro do Fubá é chefiado pelo traficante Baby na parte alta e pelo miliciano
Morro do Fubá é chefiado pelo traficante Baby na parte alta e pelo miliciano "Tico" na baixaReprodução
Além de sofrerem com a cobrança indevida, os residentes da comunidade, que acabou sendo apelidada de "Fubaquistão", tiveram suas rotinas completamente afetadas pelos constantes confrontos entre os traficantes e os milicianos. Relatos dão conta de que, tanto quem vive no Morro, quanto nas ruas do entorno, fica impedido de sair para trabalhar ou estudar devido às intensas trocas de tiros. Serviços como transporte escolar, por aplicativo e fornecimento de internet também não querem mais atuar nos bairros próximos como Cascadura e Campinho.
Há pouco mais de um mês, a guerra entre os grupos rivais se intensificou, provocando tiroteios quase todos os dias. Em 9 de agosto, o turista americano Trey Thomas Joseph Barber, de 28 anos, foi atingido por uma bala perdida no pescoço, dentro da casa de amigos, em Cascadura, onde estava hospedado. O disparo partiu de um confronto entre traficantes e milicianos no Morro do Fubá. A vítima chegou a ser socorrida, mas não resistiu após dois dias de internação. Desde então, o 9º BPM (Rocha Miranda) ocupa a favela.
Na última semana, também foram registrados tiroteios todos os dias na região. Na segunda-feira, veículos de moradores do entorno da comunidade acabaram sendo alvejos por tiros de fuzil, mesmo dia em que criminosos invadiram um prédio na Avenida Ernani Cardoso, em Cascadura, para socorrer um deles, deixando um rastro de sangue no edifício. Na terça-feira, a troca de tiros acabou deixando um homem ferido. Nos outros dias, escolas e unidades da rede municipal tiveram seus funcionamentos afetados pela guerra. 
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