Prefeito Eduardo Paes durante cerimônia na Cozinha Comunitária em Renascença Beth Santos / Prefeitura do Rio

Rio – "Hoje, eu consigo oferecer aos meus filhos pelo menos uma refeição por dia e de qualidade", afirmou Ana Carolina Cunha Santos, de 26 anos, mãe de três filhos. De muletas, após um acidente, Ana recebeu, nesta quinta-feira (15), a milionésima quentinha do Prato Feito Carioca, na Cozinha Comunitária no Clube Renascença, em Andaraí, na Zona Central da cidade.
O programa da prefeitura do Rio, por meio da Secretaria de Assistência Social, atua em duas frentes, as Cozinhas Comunitárias Cariocas e o cartão magnético. Desde junho, início do projeto, já foram entregues 504.288 e 495.712 refeições, respectivamente.

O relato de Ana emociona, permeado por um medo que só uma mãe sente frente à possibilidade dos filhos passarem fome. "Há três anos, fui baleada na perna, em um bairro da Baixada Fluminense. Fiquei um ano internada e, quando voltei pra casa, não pude mais trabalhar porque fiquei com uma sequela grande e usando muletas. A situação que já era difícil, ficou pior. Muitas vezes, para dar de comer aos meus filhos, eu ficava sem comer. Apesar de receber ajuda do governo, o dinheiro não dá, eu pago aluguel. Pego quatro refeições todos os dias na Cozinha Comunitária Carioca, o que me ajuda muito", disse.

A quentinha de número um milhão foi entregue pelas mãos de Janete Evaristo, uma das beneficiadas do programa desde a inauguração da Cozinha Comunitária do Andaraí. Viúva e com a filha falecida, a idosa comoveu a população ao contar sobre sua luta para alimentar os netos.
Atualmente, Janete não precisa mais das quentinhas. Ela faz acompanhamento familiar no Centro de Referência de Assistência Social (Cras) Rosani Cunha e trabalha. Mesmo assim, fez questão de estar presente no momento para incentivar as famílias:

"Sou moradora do Complexo dos Macacos, em Vila Isabel, onde vivo com meus netos. Há cinco meses, quando contei minha história, eu nem sequer tinha um prato de comida para dar aos meus netos. Hoje, trabalho com reciclagem e como cuidadora. Estou muito feliz e emocionada em entregar uma refeição do programa Prato Feito Carioca para alguém que, assim como eu, tem dificuldade em alimentar a sua família", disse.

O Prato Feito Carioca foi criado no momento em que o Brasil voltou para o mapa da fome. Na época, dados da Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede PENSSAN) apontavam que cerca de 14 milhões de brasileiros não tinham o que comer. O programa inédito foi então pensado pelas autoridades para atenuar os graves efeitos da crise econômica sobre a população mais vulnerável da cidade. A primeira a receber a refeição das Cozinhas Comunitárias foi a mãe de sete filhos Elenilda Felipe da Silva, moradora da Mangueira há 60 anos. Elenilda ainda continua no programa.

"Nós quisemos celebrar a marca de um milhão de refeições servidas porque celebração serve, obviamente, para exaltar, agradecer, mas também serve para lembrarmos do absurdo que é vivermos num país que tem gente passando fome. Tudo isso em pleno século 21, com a riqueza toda que o Brasil possui. Vamos fazer dessa cidade um lugar mais justo. Como brasileiro, peço desculpa a vocês de terem passado por esse sofrimento. Vamos avançar e seguir em frente", prometeu o prefeito Eduardo Paes, durante o evento.

A secretária de Assistência Social, Maria Domingas Pucú, chamou de 'simbólica' a data. "É um dia muito simbólico com a entrega de um milhão de refeições para a população em insegurança alimentar na cidade do Rio. Isso mostra a preocupação que a Prefeitura do Rio teve para combater o retorno do país ao mapa da fome. Hoje é um dia para comemorarmos, mas também para nos preocuparmos em termos mais Cozinhas Comunitárias Cariocas no Rio porque a fome não acabou. Vamos continuar fazendo a diferença para a população em situação de vulnerabilidade na cidade", destacou.

Apesar disso, os trabalhos continuam e o foco é bater outros recordes. A refeição 1.000.001 foi entregue à viúva Rosana Cristina Félix do Sacramento, de 56 anos, durante a cerimônia no Renascença. Ela é atendida pela Cozinha Comunitária de Realengo, na Zona Oeste, desde a inauguração, em 23 de junho. Junto com seus 13 netos, Rosana afirma que está conseguindo melhorar a sua condição de vida.

"Eu catava ferro velho, era tudo muito difícil. Desde que comecei a pegar essas quentinhas, eu tenho conseguido dar uma vida menos sofrida para os meus netos. Consegui comprar um portão para a minha casa e também uma bomba d’água, porque aqui não chega água. Antes, o único dinheiro que entrava só dava para comprar comida e sem muita opção. Sou viúva, criei seis filhos sem pensão e, agora, crio três bisnetos também. Hoje, vendo cocada em casa. Não é muito, mas ajuda. Sou muito grata por essa ajuda que a Cozinha Comunitária Carioca nos dá", disse.

Ao todo, 15 Cozinhas Comunitárias Cariocas foram inauguradas neste ano. Além das localizadas na Mangueira, Andaraí, e Realengo, também estão em funcionamento as de Anchieta, Catumbi, Vila Kennedy, Tanque, Costa Barros, Guaratiba, Campo Grande, Bento Ribeiro, Bangu, Sepetiba, Acari e Beira Rio. Essas refeições são destinadas às famílias com renda mensal per capita de até R$ 105.

Já o cartão magnético Prato Feito Carioca Cinco está atendendo, por sua vez, cinco mil trabalhadores informais, com renda mensal per capita entre R$ 105,01 e R$210 para comer em bares ou restaurantes próximos aos seus locais de trabalho e/ou de geração de renda.