Água escura apareceu na praia levando sujeira para a areia e para o marReginaldo Pimenta/Agência O Dia

Rio - Uma água escura tomou conta das areias da Praia de Copacabana, na Zona Sul do Rio, deste esta quarta-feira (8), depois das fortes chuvas que assolaram a cidade. A poluição que, segundo banhistas, seria esgoto e lixo, veio das galerias de água que desembocam na praia, apareceram principalmente entre os postos 4 e 5.

O professor de natação Fábio Iskandarian, de 41 anos, dá aulas diárias na praia, que precisaram ser canceladas por conda da condição da água do mar. Segundo ele, as galerias de águas pluviais acabam trazendo lixo e esgoto para as areias de Copacabana.

"Copacabana tem três galerias de água pluviais que saem da chuva e elas são abertas para a areia. Quem andar no calçadão você não vê, mas se entrar na areia, consegue ver. Quando tem um evento de chuva muito forte, toda água que vem das encostas, comunidades e da rua mesmo anda por baixo dessas galerias e desemboca nessas saídas de água. Essas saídas de água são muito sujas, são antigas e nunca teve um emissário ali em Copacabana, nunca teve nada que pudesse escoar água tratada para o fundo do mar", explicou.

Em um vídeo, um outro professor de sua equipe mostrou a situação em que se encontrava a praia na manhã desta quinta-feira (9), que levou o cancelamento de mais uma aula de natação. Veja:
Ainda de acordo com seu relato, não é a primeira vez que o problema ocorre na praia e, mesmo assim, segue não sendo resolvido pelas autoridades responsáveis.

"Toda vez que tem esse problema, essa galeria se rompe, eles passam o trator ali, tampam com areia para maquiar. Num dia de sol, que não chove, as pessoas nem sabem que tem ali. Só que quando chove, a água leva a areia toda. E dessa vez foi realmente muito forte. Geralmente faz só uma uma língua direto para a água, mas espalhou-se pela areia inteira vindo lá do posto quatro até o Posto 5. A Águas do Rio tem tentado fazer alguma coisa, com caminhão acho que eles ficam sugando o que tem lá dentro dessas galerias, mas isso é meio que paliativo" e ainda completa, justificando que acredita que a limpeza auxilie na situação, mas não é uma solução.
"Ajuda, mas é paliativo porque o que desce de lixo também é muita coisa. Não adianta falar que é galeria só de água de chuva porque traz lixo, traz esgoto, traz ligação clandestina de prédios, de restaurantes e tudo mais".
Fábio também lamentou sobre a sujeira que invadiu o mar e prejudicou o andamento das aulas. Para ele, deveria ser feita uma obra para evitar que a mancha escura apareça toda vez que uma forte chuva chega ao Rio.
"O que precisaria ser feito realmente é uma obra de de tratamento de lixo, de água e despejo da água que não é contaminada para o fundo do mar, assim como é feito ali no posto 8, em Ipanema. Vem lixo, vem esgoto, vem tudo que que despejam ali, em alguns momentos a areia até muda de cor depois que seca tudo e ficam alguns resíduos. Eu sinceramente não sei quando que a gente vai poder nadar lá. O nosso ponto de de montagem é justamente ali e bem complicado", desabafou.
Uma das autoras dos vídeos que mostravam a língua negra, a professora de natação em mar aberto Andrea Orlandi também falou sobre a condição do mar. "Após as chuvas fortes é recorrente. Eles sempre abrem essa saída de esgoto, mas dessa vez foi muita chuva. (...) A chuva que deu não tinha como, então deixaram tudo aberto. Eram várias línguas negras. Tivemos até que cancelar a aula porque é impossível de praticar atividade física ali", avaliou.

A Comlurb comunicou que está trabalhando na limpeza da Praia de Copacabana com 26 garis e quatro encarregados, com o apoio um caminhão compactador, quatro tratores de praia, sendo um com implemento acoplado para peneiramento de areia, realizando uma limpeza mais minuciosa que alcança até 20 cm de profundidade. Quando ocorre lixo trazido pela maré, o serviço de limpeza é sempre intensificado.

A companhia de limpeza acrescentou que não trata a língua negra, água suja, e esgoto na areia da praia, já que o serviço é de responsabilidade da Águas do Rio e só atua na limpeza dos locais após ser resolvida a questão da água suja. Após as chuvas de terça-feira (7) foram retiradas da areia da Praia de Copacabana 190 kg de lixo trazidos pela maré.

A águas do Rio foi procurada e informou que uma equipe operacional esteve no local na manhã desta quinta-feira e identificou que não houve extravasamento. O fenômeno foi ocorrido devido a maré alta.

O Instituto Estadual do Ambiente (Inea), responsável pelas águas de Copacabana, informou que, ao realizar o monitoramento rotineiro das praias do município, observou acúmulo de água do mar na areia em frente às ruas Souza Lima, em Copacabana, e Aurélio Leal, no Leme. Foi observado lixo e espuma na água, principalmente no Leme, originado pelo extravasamento das Galerias de Águas Pluviais (GAP), após as fortes chuvas do último dia 7, e que possivelmente houve contribuição de esgoto sanitário.

Durante a vistoria também foi verificado que as GAP se encontram fechadas, sendo o acúmulo de água na areia possivelmente causado pela pequena ressaca decorrente da maré de sizígia. Além da coleta sistemática para classificação da balneabilidade, o instituto coletou amostras complementares a fim de avaliar se houve impacto na qualidade da água, cujo os resultados serão divulgados nesta sexta-feira (10).