Ana Bertiz, que 'bateu de porta em porta' oferecendo os seus brownies, participa de feira no Morro da Urca Cléber Mendes

Ao subir o bondinho do Morro da Urca para expor e vender seus brownies e demais doces na Carioquíssima, no Parque do Pão de Açúcar, Ana Bertiz, de 24 anos, realiza, na verdade, uma nova conexão de um voo bem particular. Desde o ano passado, ela descobriu que a sua trajetória poderia ter outras escalas — inéditas e inesperadas —, mas muito potentes e transformadoras. Sem planejar, tornou-se doceira e empreendedora, ampliando os horizontes da sua caminhada.
Assim como ela, a chef Rosa Perdigão, de 35 anos, e a barista Carla Borges, de 44, unem o seu talento com aromas e sabores à capacidade de realização em eventos ao ar livre na Cidade Maravilhosa. Rosa levará o seu 'Cheirinho de Dendê' para o Degusta Copacabana, a partir de quinta-feira, na Praça do Lido, enquanto Carla é sócia-fundadora do Festival do Café, que terá nova edição no próximo fim de semana, no Museu da República, no Catete. Às vésperas do Dia Internacional da Mulher, elas contam as suas histórias.
Inspirada nos trabalhos manuais da mãe

Ana Bertiz 'bateu de porta em porta' vendendo os seus docesCleber Mendes/ Agência O Dia

A história de Ana Bertiz começou de forma inusitada. No ano passado, ela havia preparado um doce de leite caseiro como forma de festejar a sua aprovação — dada como certa — na prova de habilitação para motorista. Ela acabou reprovada naquele momento, mas não desistiu da guloseima. "Quando cheguei em casa, quis comer um doce, mas achei que faltava alguma coisa. Fiz uma torta, que confeitei com o doce de leite e fiz os primeiros potinhos de brownie. Dei para a cuidadora do meu pai e ela começou a postar sobre eles", conta Ana, que depois conseguiu a tão sonhada habilitação.
Surgia ali, a sua marca, a B Brownie. À época, Ana também trabalhava numa loja de vestuário feminino e saía cedinho de casa para vender seus doces em outras lojas. "Eu batia de porta em porta oferecendo os produtos porque precisava pagar as contas. Pensava em como iria pagar os remédios do meu pai e vi nisso uma chance", conta. No trabalho, vislumbrou outra oportunidade, já que a loja tinha um espaço em que ela poderia vender suas iguarias. "Conversei com a minha supervisora. O primeiro bolo que levei ficou solado e isso nunca havia acontecido. Mas pedi uma nova chance e consegui".
O gosto pela cozinha, aliás, surgiu como herança da mãe, que faleceu em 2019: "Lembro que ela fazia bolo para mim. Na verdade, ela gostava de tudo que era trabalho manual, já que era costureira". Assim, inspirada na mulher que tanto afeto teceu em sua vida, Ana encara a sua primeira feira. A Carioquíssima se encerra hoje, no horário do funcionamento do Parque do Bondinho do Pão de Açúcar, de 8h30 às 20h, sendo o último embarque às 18h30 (é preciso comprar o ingresso para o parque). 
Com o aroma de dendê, Rosa conquistou o Centro do Rio

A chef Rosa Perdigão comanda os sabores e aromas do Cheirinho de DendêDivulgação

Nascida no Rio de Janeiro, Rosa Perdigão diz que o seu borogodó na culinária vem da família, que une baianos e mineiros, aliada à força da sua madrinha, descrita por ela como 'uma paraibana arretada', e ainda às raízes na religião de matriz africana, o candomblé.
De toda essa mescla, surgiu o aroma que perfuma a sua trajetória e encantou clientes no Centro do Rio, a ponto de batizar o seu negócio. Em 2011, o prefeito Eduardo Paes lhe concedeu uma licença de ambulante e ela escolheu a Cinelândia para vender seus acarajés. "Sou apaixonada pela Cinelândia e pela sua história. Ali, com o tabuleiro de acarajé na rua, o dendê foi exalando seu o cheiro e vinha gente de outros pontos contando que tinha chegado até ali guiada pelo cheiro, que perfumou todo o Centro". Surgia, então, o Cheirinho de Dendê, que será uma das atrações do Degusta Copacabana, dos dias 9 a 12, na Praça do Lido.
Rosa conta que, pela sua religião de matriz africana, sempre quis aprender as iguarias. E se inspirou também na madrinha: "Os encontros com ela eram aquelas almoços gigantes de família, com a galinhada de domingo". A chef explica que, para se tornar uma baiana de acarajé e também empreendedora foi preciso ter noção de cuidados para manusear o botijão de gás e também os alimentos, em orientações com a Defesa Civil e a Vigilância Sanitária, respectivamente.
De lá para cá, ela se tornou coordenadora estadual da Associação Nacional das Baianas de Acarajé, Mingau, Receptivo e Similares (ABAM). Assim, luta contra o preconceito. "A intolerância é grande. É preciso olhar para a baiana de acarajé e ver o que ela representa culturalmente. Ela vendia os seus quitutes para comprar alforria do marido".
Do presente do filho, surgiu uma cafeteria a céu aberto

A barista Carla Borges é sócia-fundadora do Festival do CaféArquivo Pessoal

Carla Borges se encantou pelos chamados cafés especiais ao ganhar, em 2017, um mimo do filho mais velho, hoje com 26 anos. "Fui presenteada com um pacote de café especial pelo meu filho. Quando você ganha algo que não domina, quer ir atrás das informações para conhecer. E foi o que fiz. Esse primeiro café que ganhei era moído. Então, consegui fazer com o papel que já tinha em casa. Mas as minhas técnicas ainda eram bem primárias à época", conta Carla, explicando que ela e o marido já nutriam o sonho de ter um negócio que, independentemente da área, pudesse servir também café.
De lá para cá, ela virou barista e a ideia ganhou uma dimensão bem maior do que a original. "Pensamos em algo com barracas, uma feira aberta. Uma cafeteria gigante é, na verdade, uma feira", lembra ela, sócia-fundadora do Festival do Café. A primeira edição aconteceu no Parque das Ruínas, em Santa Teresa, numa proporção maior do que havia imaginado: "O projeto inicial era pequeno, com 10 barraquinhas. Mas já começamos com 28 barracas".
A próxima edição do evento será realizada nos dias 11 e 12 de março, no Museu da República, no Catete, segundo Carla, um dos locais preferidos do público do festival. Aliás, quem aparecer por lá certamente verá o filho mais novo da empreendedora correndo pelo local. "Sou mãe de uma criança de sete anos, casada e empreendedora. O meu filho curte o evento e fica lá o dia todo. Ele diz que está trabalhando, mas é com as pernas, correndo de um lá para o outro", brinca Carla, formada em Marketing e Engenharia.