O médico anestesista Giovanni Quintella Bezerra foi preso em julhoReginaldo Pimenta

Rio - O Estado do Rio de Janeiro apresentou alta de 45% nos casos de violência contra a mulher no ano de 2022 em relação a 2021. Os dados são do boletim Elas Vivem, divulgado nesta segunda-feira pela Rede de Observatórios da Segurança, que monitorou os índices de sete estados: Bahia, Ceará, Pernambuco, São Paulo, Rio de Janeiro, Maranhão e Piauí.
Com 545 casos de violência contra mulher em 2022, o Rio quase dobrou o número de 2021, quando foram registrados 375 eventos na mesma pesquisa. Alguns dos crimes ganharam repercussão nacional como o estupro de uma gestante durante o parto cometido pelo anestesista Giovanni Quintella Bezerra; e a denúncia de agressão por parte do então chefe de investigações da Delagacia da Mulher de Jacarepaguá Marcos André de Oliveira dos Santos contra uma ex-companheira.
O Rio chegou a registrar ao menos um caso de violência contra a mulher a cada 17 horas e os casos de violência sexual praticamente dobraram, passando de 39 para 75. Foram 103 feminicídios registrados e 287 ocorrências entre tentativas de feminicídio e agressões.
Números gerais
A pesquisa registrou que a cada quatro horas, ao menos uma mulher foi vítima de violência em 2022 nos estados monitorados. Foram 2423 casos registrados em 2022; 495 deles, feminicídios. Um caso de feminicídio foi monitorado a cada 24h.
A maior parte dos registros nos sete estados tem como autor da violência companheiros e ex-companheiros das vítimas. São eles os responsáveis por 75% dos casos de feminicídio. As principais motivações são brigas e términos de relacionamento.
"Para além da responsabilidade individual precisamos refletir sobre a responsabilidade do estado em tolerar que tantos feminicídios aconteçam. E isso se dá ao não saber como esse crime acontece, não se fazer o devido registro, não qualificar juridicamente da maneira correta", explica Edna Jatobá, coordenadora do observatório da segurança de Pernambuco.
O maior número de eventos foi registrado em São Paulo (898) – um caso a cada dez horas. São violências como a sofrida pela jovem sequestrada que teve o rosto tatuado com o nome do ex-companheiro ou pela procuradora- geral espancada no local de trabalho.
Já a Bahia é o estado com maior taxa de crescimento em relação ao último boletim. O crescimento foi de 58%, com ao menos um caso por dia. Além de ser o primeiro em feminicídios do Nordeste com 91 registros. "Existe a necessidade de que todas as pessoas tenham um conhecimento social sobre essas questões para que a gente possa transformar esses números que aumentam a cada ano", explica a pesquisadora baiana Larissa Neves.
Pernambuco é o segundo estado do Nordeste em registros de violência contra a mulher (225), com pelo menos um caso a cada dois dias. O estado também passou a liderar os números de transfeminicídios – posição ocupada pelo Ceará nos últimos dois anos. Segundo a pesquisadora da Rede em Pernambuco, Dália Celeste, essa condição se dá pela negligência do governo. "Houve um silenciamento e a omissão do governo em relação a criação de políticas públicas mesmo após a onda de ataques transfóbicos em 2021. Corpos trans e travestis passam por um processo de desumanização e são vistos como corpos que não deveriam existir, o que alimenta os crimes de ódio", afirma.
Enquanto isso, as mulheres cearenses vivenciaram um aumento de casos de violência sexual. O número quase dobrou, passando de 17 para 31 casos. O Piauí registrou 48 casos de feminicídios. No estado, os equipamentos de acolhimento se encontram na capital e deixam as mulheres de outras localidades desamparadas. Já o Maranhão, é o segundo estado do Nordeste em agressões e tentativas de feminicídio. Os maranhenses registram um caso de violência contra a mulher a cada 54h.
Os dados da pesquisa são produzidos a partir de um monitoramento diário de meios de comunicação e redes sociais sobre violência e segurança. A violência contra mulher é o terceiro indicador de violência mais registrado pela Rede de Observatórios. Atrás apenas de eventos com armas de fogo e ações policiais – que tradicionalmente ocupam o noticiário policial.
O monitoramento sensível da Rede de Observatórios permite que crimes que não são noticiados e tipificados pela polícia como violência contra a mulher ou feminicídio, mas que possuem evidências desse tipo violência, possam ser nomeados corretamente. Dessa forma, rompendo a subnotificação comum a esse tipo de crime.
Sobre Rede de Observatórios
A Rede de Observatórios atua na produção cidadã de dados com rigor metodológico em oito estados em parceria com instituições locais. O estado do Pará passou a ser monitorado em janeiro de 2023 e por isso ainda não possui dados que possam ser apresentados no relatório referente a 2022. Já Maranhão e Piauí completaram o seu primeiro ano na Rede e por isso seus dados estão presentes no boletim pela primeira vez.