ESPECIAL - Centro de reabilitação Recanto Feliz. Na foto, Alice Rodrigues do Nascimento Santana e sua filha, Ana Kezia Santana Rodrigues Reginaldo Pimenta / Agencia O Dia

Rio - A dona de casa Alice Rodrigues do Nascimento passou por momentos difíceis nos últimos anos. Dependente química e alcoólica, ela morava na comunidade Vila Sapê, em Imbariê, Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, em um ambiente que a deixava cada vez mais doente. Com quatro filhos e sem expectativa, Alice conseguiu atendimento no Centro de Reabilitação Recanto Feliz, em Magé, também na Baixada, e hoje consegue ter esperança de uma vida melhor.
"A minha vida estava perdida, destruída, acabada. Eu era viciada em vinho, cerveja e cocaína e precisava de um lugar para poder me recuperar, porque onde eu estava não era bom. Aqui eu tenho consulta com psiquiatra, frequento cursos, faço bolos e participo de diversas atividades, como o Dia da Beleza. Porque a gente tem que se cuidar", disse Alice, internada junto com a filha, de 1 ano. "A Alice de antes era destruída, sem sonho, sem expectativa. Hoje eu tenho expectativa e esperança. Eu renasci aqui", afirma.
O Centro de Reabilitação Recanto Feliz oferece gratuitamente às pessoas em situação de rua, com risco social e dependentes químicos e alcoólicos, a oportunidade de reinserção na sociedade. Sem fins lucrativos, a instituição começou com uma ala masculina com capacidade para 80 homens. Recentemente, foi inaugurada uma ala feminina com 10 suítes e 40 vagas para mulheres entre 18 e 65 anos, com 15 delas já preenchidas. Nesses espaços, três mulheres estão com seus filhos. Os internados recebem quatro refeições por dia, fazem laborterapia, cursos, têm atendimento com psicólogo, médico, psicanalista e enfermeiros, todos voluntários.
"O Recanto Feliz existe desde 2004, criado pelo pastor Darvin Vasco. Atendíamos apenas a homens. Em 2019, após pedido para internar uma mulher, tentei que ela fosse encaminhada a outro centro mas, infelizmente, não recebeu atendimento adequado, voltou às ruas e foi atropelada dois dias depois. A partir desse episódio, resolvi que construiria uma espaço de reabilitação apenas para o público feminino. Pedi apoio a várias pessoas e algumas igrejas, que nos ajudaram na construção", explica o missionário Antônio da Silva Araújo, um dos responsáveis pelo local.
Filho de pai alcoólatra, Antônio já sentiu de perto a destruição que a dependência pode causar. "Meu pai morreu aos 48 anos. A família sofreu, porque a gente sofre vendo as pessoas sofrerem. Então eu comecei a trabalhar em presídios e me pediram ajuda para sair do vício. Eu entrei em contato com as casas de reabilitação e conheci o Recanto Feliz. A pessoa saiu recuperada e eu estou até hoje ajudando a casa, como presidente do instituto", conta o servidor da Marinha.
Voluntário do programa, o médico Antônio Morgado explica que as dependências química e alcoólica são complicadas, já que o dependente está em um grau de degradação enorme quando vai se internar, o que acaba envolvendo toda a família. "São casamentos destruídos, pais que não suportam mais os filhos, então a família inteira fica doente. E é uma alegria enorme ver o paciente se tratando e tendo alta, ver casamentos e relações familiares recuperados. Não tem preço ver o sorriso de uma mãe que volta a ver o filho recuperado", disse.
Internada há um mês, Valéria Cristina da Silva Rocha, de 49 anos, conta que bebia com frequência, mas a situação piorou quando foi trabalhar em um restaurante, onde tinha acesso a bebidas alcoólicas. "Os clientes reclamavam de mim. Perguntavam o que estava acontecendo comigo. Eu estava apagada no serviço. Trabalhando, mas infeliz. Eu estava morta lá fora, sem brilho interior, sem paz", disse a auxiliar de cozinha, que já sente os efeitos do tratamento.
"É a minha primeira internação. Eu estou gostando bastante, porque tem me ajudado muito. Quando eu cheguei aqui não sabia que estava com a saúde debilitada. Tive anemia profunda e passei por tratamento em hospital. Agora estou com saúde e voltei a sorrir. Estou em estado de gratidão", complementou a moradora de Bento Ribeiro, Zona Norte do Rio.
A construção da ala feminina só se tornou possível com o apoio do Instituto Phi, uma organização sem fins lucrativos que conecta, há nove anos, pessoas e organizações para promover a cultura da doação. Eles assessoram indivíduos e empresas a fazerem de maneira estratégica o planejamento de sua filantropia e, ao mesmo tempo, fortalecem a gestão de projetos sociais e criam soluções inovadoras e customizadas para potencializar o Terceiro Setor.
"Apoiar esse projeto possibilita dar as pessoas a oportunidade de resgate, de ressocialização. Então nós apoiamos a construção da ala feminina. Nós já trabalhamos com mais de 1.300 projetos que já investiram mais de R$ 156 milhões e atenderam mais de 2 milhoes de pessoas no terceiro setor. Fazemos a ponte entre os doadores e as organizações sociais e realizamos um acompanhamento de gestão do recurso de forma ética e construtiva", disse Andrezza Ribeiro, porta-voz do Instituto Phi.
Luiza Serpa, fundadora e diretora-executiva do instituto, diz que está muito feliz com a possibilidade de ajudar a instituição. "O Recanto Feliz vai reabilitar várias mulheres que estão tentando se curar do vício das drogas e do álcool e não têm condições financeiras para o tratamento numa clínica particular. Esse é um dos objetivos do Phi, apoiar as organizações que trabalham com pessoas em situação de vulnerabilidade", diz Luiza.
O Centro de Reabilitação Recanto Feliz funciona na Avenida capitão Carlos Piquet, lote 19, quadra 02, no bairro Parque dos Artistas, em Magé. Para mais informações, o telefone é (21) 95903-9093.