Projeto Praia Para Todos promove acessibilidade e inclusão para pessoas com deficiênciaDivulgação

Rio - Após sofrer um acidente de carro em 2005, Edson Rocha Nascimento, de 49 anos, ficou paraplégico e precisou fazer reabilitação de forma contínua por seis anos. Em 2011, sua vida se transformou quando foi convidado para visitar o projeto social Praia Para Todos, no posto 3, na Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio. Lá, ele conheceu a handbike, uma bicicleta que funciona através de "mãodaladas", e se apaixonou pelo esporte. Desde então, Edson, mesmo com as dificuldades físicas e financeiras, decidiu seguir o caminho do paraciclismo. Hoje, além de ter medalhas nacionais, ele também coleciona algumas conquistas estrangeiras, como por exemplo, o segundo lugar na Maratona Internacional de Nova York.


"Eu fui convidado pelo coordenador do projeto para conhecer o programa e levei a minha esposa. Chegando lá, me receberam muito bem e os voluntários e profissionais me acolheram da melhor forma. Além do banho de mar assistido, há várias opções na areia também, como vôlei sentado e frescobol adaptado. Mas quando me apresentaram a handbike foi amor à primeira vista", disse Edson, que de início teve receio em aprender a modalidade nova.

Mesmo com medo, o bancário sentou-se à handbike para percorrer um pequeno trajeto de 50 metros de distância, mas já na primeira "mãodalada" conseguiu ir do Posto 3 até o Quebra Mar, perto da Praia do Pepê, também na Barra da Tijuca. "A ideia era socializar com a bike, sendo que a emoção foi tão grande que não me contive. Quando vi que consegui passar para a ciclovia, foi muita emoção, um tipo de libertação para mim".

O Projeto Praia Para Todos foi idealizado em 2008, pelo Instituto Novo Ser, e está em sua 14ª edição. Segundo um dos diretores do Instituto, Fábio Fernandes, que é cadeirante, o objetivo principal do programa é promover acessibilidade nas praias cariocas às pessoas com deficiência e mobilidade reduzida, oferecendo inclusão social com esporte e lazer. "Tudo funciona a céu aberto, na praia, o lugar mais democrático que existe. Contamos com toda uma estrutura, com esteira, tenda, profissionais, banheiros adaptados, vaga para deficiente. É importante dar o direito às pessoas deficientes e mostrar para elas que podem estar em qualquer lugar também".

Para Fábio, transformar as praias em local democrático e inclusivo, onde as pessoas com deficiência pudessem frequentar com autonomia e dignidade, era um sonho. "Eu sou cadeirante e outro diretor do projeto também, então percebemos como é importante que essas pessoas consigam ir à praia também. Todos gostam desse tipo de passeio, mas até há alguns anos não tinham essa oportunidade. Nosso projeto proporciona isso para as pessoas", disse. "Se você chegar em qualquer outro ponto da praia, de cadeira de rodas, e quiser ir para a areia, como vai fazer para descer? Mesmo com rampa, como tem em alguns lugares, ela não te leva até o mar, por exemplo".

Lívia Machado, 23, terapeuta ocupacional, começou a participar do projeto como voluntária em 2018, quando estava cursando o terceiro período da graduação. Após a sua formação, ano passado, passou a fazer parte da equipe técnica. "Participar do Praia Para Todos significa proporcionar acesso ao lazer, que é uma ocupação fundamental para promoção da qualidade de vida de qualquer pessoa. Após o mergulho no mar ou a participação nas atividades esportivas, eu vejo a alegria, brilho nos olhos, emoção e muita gratidão dos usuários".

De acordo com ela, as pessoas com deficiência não sentem vergonha em um primeiro momento, mas sim uma estranheza por estarem em um ambiente que foi inacessível por alguns anos. "Após a nossa recepção e o primeiro mergulho no mar, a feição já muda, parece ser uma sensação muito gostosa para eles".

O supervisor do programa, Fábio Kishimoto, explicou que participar do projeto é um ato de amor. "Ele significa para mim ter a oportunidade de estar no lugar certo, na hora certa. Parte o meu coração quando não consigo ir. É lindo ver a felicidade no olhar de outra pessoa e estar ali compartilhando aquele momento na vida dela".

Sobre os banhos de mar assistidos, Fábio acredita que a interação proporciona a eles liberdade. "Sinto que elas ficam livres da cadeira, da cama, da muleta. O mar tem a capacidade de incluir todos. Além de transbordar amor, precisamos incentivar todos a vivenciarem o melhor que podemos oferecer". Segundo ele, a leveza do voluntariado é o que faz a pessoa deficiente perder o medo e a vergonha de curtir a praia.

"Eu quero agradecer a minha mãe que me criou em todos os cenários de pessoas sem discriminação de raça, religião e sexo. Quando criança, eu jogava bola com um amigo deficiente, no trabalho dois ficaram paraplégicos e eu prestava assistência a eles. Meu cunhado sofreu uma tentativa de assalto, o que o fez ficar paraplégico e eu o acompanhei na reabilitação. Hoje, formado em educação física, procuro me dedicar nas horas vagas ao projeto", finalizou Fábio.

Sobre o Praia Para Todos

O projeto tem uma equipe de profissionais especializados e voluntários, e já beneficiou cerca de 36 mil pessoas, direta e indiretamente. Segundo o programa, muitas delas não tinham contato com o mar há algum tempo e outras puderam sentir a água salgada e o balanço do mar pela primeira vez.

A 14ª temporada vai até o dia 30 de abril, sempre aos sábados e domingos, das 9h às 14h, nos postos do Praia Para Todos na Barra da Tijuca (em frente ao Posto 3), Copacabana (entre os Postos 5 e 6, na altura da Rua Júlio de Castilhos) e Recreio (em frente ao Posto 11).

Atividades como frescobol, vôlei sentado, surf, stand up paddle, piscina para crianças e banho de mar com cadeira anfíbia estão disponíveis para todos, gratuitamente, sem necessidade de inscrição prévia, somente realizando um cadastro ao chegar.