Caso foi registrado na 27ª DP (Vicente de Carvalho)Arquivo / Agência O Dia

Rio - O cirurgião plástico Heriberto Ivan Arias Camacho, acusado de negligência pela família da empresária Lindama Benjamim de Oliveira, o que teria ocasionado a sua morte, está sendo investigado por um caso semelhante ocorrido no ano passado. Na ocasião, a família de Mônica Sueli da Silva registrou uma ocorrência contra o médico apontando erro durante um procedimento estético, gerando o óbito da mulher.
A morte aconteceu em junho de 2022 no Hospital Semiu, na Vila da Penha, Zona Norte do Rio. De acordo com o registro de ocorrência o qual O DIA teve acesso, feito pelo marido da vítima, Mônica disse para a família que estava com vontade de fazer uma cirurgia estética no abdômen. O declarante e o filho da mulher foram contra a ideia, mas afirmaram não terem criado obstáculos para a realização desse sonho que a vítima tinha.
Ainda segundo o relato do marido, Mônica deu entrada na unidade no dia 30 de maio, fez uma abdminoplastia e colocou próteses de silicone no seios realizadas por Heriberto, e recebeu alta no dia seguinte. No entanto, o homem relatou que a mulher, desde a sua chegada em casa, reclamava de falta de ar, não conseguia se alimentar direito, sentia dores no corpo, dificuldades de se levantar e de evacuar.
Uma nova consulta estava marcada para o dia 8 de junho para revisão do procedimento. Contudo, por causa das dores, a mulher foi até o hospital um dia antes da data marcada. O marido disse aos policiais da 27ª DP (Vicente de Carvalho), onde o caso foi registrado, que uma equipe médica imediatamente internou Mônica, que veio a falecer no dia 26 de junho.
Na ocorrência registrada contra o cirurgião no dia 20 de julho do ano passado, o marido de Mônica contou que Heriberto fez um novo procedimento na barriga da mulher antes dela morrer e constatou uma hérnia, tendo que cortar 10 centímetros do intestino. O fato é contestado pela família, que alegou que a paciente nunca se queixou de dor e o que o médico teria perfurado o intestino de Mônica.
Diante da nova acusação contra Heriberto, o marido de Mônica voltou à 27ª DP nesta segunda-feira (13) para reafirmar as acusações. Em conversa com O DIA, o delegado Reginaldo Guilherme da Silva explicou que o caso de Mônica não foi para a frente porque um médico do Hospital Semiu atestou sua morte, não tendo a necessidade do corpo ser enviado para o Instituto Médico Legal para realização de uma perícia. Segundo o registro desta segunda, a mulher teria morrido por choque séptico e sepse abdominal.
Contudo, o delegado ressaltou que, diante da semelhança da denúncia da família de Mônica com as acusações da família de Lindama, a investigação foi reaberta.
"O fato foi registrado, mas a investigação não prosseguiu porque um médico deu atestado de óbito e a vítima não foi pro IML. Agora, o marido da vítima vendo esse caso idêntico ocorrido na Barra, ele veio à delegacia e narrou novos fatos. Nós reabrimos o caso para prosseguir nas diligências. Os fatos são idênticos", explicou Reginaldo.
A reportagem não conseguiu localizar a defesa de Heriberto sobre a nova acusação. O espaço está aberto para manifestação.
Sindicância contra o médico
O cirurgião Heriberto Camacho, mesmo diante das acusações, continua com o seu registro ativo no Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio de Janeiro (Cremerj). Questionado sobre o assunto, o Cremerj informou que abriu, nesta segunda-feira (13), uma sindicância para apurar as denúncias contra o médico.
O Conselho ressaltou que não havia processos em nome do cirurgião no órgão, mas, diante do que foi noticiado, os fatos serão apurados pelo grupo. O Cremerj ainda explicou que qualquer cidadão pode realizar denúncias no site da autarquia. 
Morte de Lindama
Lindama Benjamin de Oliveira, de 58 anos, morreu na madrugada deste sábado (11), após realizar três cirurgias estéticas na Clínica Vitée Cirurgia Plástica e Estética, localizada na Barra da Tijuca, na Zona Oeste da cidade. De acordo com a família, a empresária começou a ter complicações às 9h da última sexta (10) e só foi levada para o Hospital Semiu, na Zona Norte, às 23h30 já em estado grave. Os procedimentos foram lipoaspiração na barriga e nas costas e enxerto nos glúteos.
Parentes de Lindama ficaram indignados com a demora da clínica no socorro e apontam uma negligência de Heriberto em relação ao caso. "Ela começou a se queixar de muitas dores às 9h da sexta-feira (10) e só foi levada para o hospital 23h30, pois a irmã dela pressionou", disse Ricardo, genro da vítima. De acordo com o familiar, a clínica não tinha CTI e nenhum tipo de suporte estrutural para amparar um paciente que pudesse sofrer complicações.
Em nota, a defesa do médico se solidarizou com a família e garantiu que a equipe médica da clínica aplicou todas as técnicas possíveis para reverter o quadro da paciente. A autópsia foi realizada e o atestado de óbito mostra que a mulher morreu após sofrer uma perfuração no intestino que culminou em uma hemorragia.
Procurada, a Polícia Civil informou que a investigação acerca da morte de Lindama segue em andamento na 16ª DP (Barra da Tijuca) para esclarecer os fatos. O corpo dela foi enterrado neste domingo (12), no Cemitério do Âncora, em Rio das Ostras, Região dos Lagos.
Prisão e interdição de clínica
Policiais da 16ª DP prenderam, nesta segunda-feira (13), o responsável pela clínica, onde foram realizados os procedimentos estéticos que causaram a morte de Lindama. O responsável técnico vai responder por crime contra as relações de consumo. De acordo com as investigações, o local não tinha alvará para realizar esse tipo de procedimento. Por conta disso, a equipe da 16ª DP, que investiga o caso, e agentes da Vigilância Sanitária interditaram o estabelecimento nesta segunda.
Em uma ação da Delegacia do Consumidor (Decon), os policiais também constataram várias irregularidades, como produtos e aparelhos insuficientes para reversão de paradas cardiorrespiratórias e incapacidade para atendimentos de suporte à vida decorrente de complicações cirúrgicas.