Mauro Nader já havia sido preso em fevereiro, mas o tempo da prisão temporária passou e ele foi soltoReprodução

Rio - O motorista de aplicativo Mauro Sérgio Pires Nader, acusado de atropelar propositalmente a passageira Nelly Boechat em fevereiro deste ano, se entregou na manhã desta sexta-feira (24) na 76ª DP (Centro), em Niterói, na Região Metropolitana do Rio. A vítima continua internada no Centro de Terapia Intensiva (CTI) de um hospital particular de São Gonçalo.
Mauro havia sido detido no mês passado, mas liberado quando o período de 30 dias correspondente à prisão temporária acabou. Já nesta quinta-feira (23), o Tribunal de Justiça do Rio (TJRJ) aceitou a denúncia do Ministério Público do Rio (MPRJ) contra o homem e decretou a sua prisão preventiva. Em sua decisão, o juízo da 3ª Vara Criminal de Niterói considerou a gravidade do crime imputado e que a liberdade do acusado pode atrapalhar a manutenção da ordem pública.
"A segregação preventiva do acusado supramencionado, não só garantirá o caráter instrumental desta, como forma de assegurar o bom andamento da instrução criminal e assegurar a eventual aplicação da Lei Penal, assim como, por conta do risco de novas investidas criminosas, gerará tranquilidade coletiva no seio da comunidade, visto que o crime teria sido cometido no ensejo da atividade laboral cotidiana do acusado, motorista de Uber", informa um trecho da decisão.
Segundo a denúncia do MPRJ, Mauro agiu impelido por motivo fútil porque teria atropelado a vítima propositalmente em razão de uma discussão sobre a localização das passageiras no local de embarque e sobre quem deveria cancelar a corrida. 
"Frisa-se, ainda, que o crime foi cometido por recurso que impossibilitou a defesa da vítima, eis que no momento do delito a vítima foi surpreendida com a atitude brutal e abrupta do autor que arrancou com o carro, acelerando em sua direção, sem que ela pudesse se defender ou sair do local, passando com a roda dianteira e traseira sobre o corpo de Nely, ferindo-a gravemente, causando-lhe lesões cortocontusas na região temporal direita e orelha esquerda, escoriações em face, membro superiores e inferiores. Além de descrição de trauma abdominal fechado com fratura de costela, todas descritas no boletim de atendimento médico", escreveu a promotora Renata Neme Cavalcanti.
Em conversa com O DIA, Liliane Boechat, irmã da vítima, comemorou a prisão do acusado. De acordo com ela, Mauro tem que passar por júri popular para que ela e o homem possam se encontrar e ela dizer que o acusado estragou a vida de sua família e da própria.
"Eu me sinto aliviada porque eu realmente estava com medo dele fazer alguma coisa com a minha família. Nós não conhecemos os corações das pessoas e nem do que elas são capazes. A minha mãe é uma senhora de 72 anos, mas temo que ele faça uma maldade comigo e com ela. A prisão causa sim algum alívio. Eu espero que ele vá a júri popular porque seria o certo diante de uma tentativa de homicídio duplamente qualificado. Ele não deu chance da minha irmã se defender e foi por motivo fútil. Espero que a Justiça seja feita, que ele pague, que fique bons anos presos e que saia de lá uma pessoa melhor pelo menos. Não se joga um carro em outra pessoa. Nada justifica", afirmou.
Liliane também disse que a irmã está se recuperando, mas ainda não sabe que o que aconteceu com ela foi um ato criminoso.
"A minha irmã não sabe que foi um ato criminoso e está indefesa em um leito de CTI. Ela está se reabilitando bem, mas ainda está com necessidades de estar com traqueostomia. Ainda não se alimenta, não fala e mal se mexe. Ela está completamente vulnerável", completou. 
Relembre o caso
O atropelamento aconteceu na Alameda São Boaventura, em Niterói, no dia 15 de fevereiro. Segundo relato de Liliane Boechat, o motorista atingiu sua irmã de forma proposital para evitar que ela chamasse a polícia para ele. As duas teriam ameaçado acionar a PM após o motorista expulsá-las do carro durante a viagem e se negar a cancelar a corrida. Nelly então entrou na frente do carro para impedir o motorista, mas nem ela, nem a irmã esperavam que o motorista fosse arrancar com o carro.
"O motorista foi rude desde o início e acabamos perdendo a paciência, ele passou por cima da cabeça, braços e barriga dela. Quem viu fui eu que ainda tentei segurar na janela do carro, sei lá, numa tentativa de não deixar ele fazer aquilo. Ele atropelou covardemente uma pessoa que ameaçou chamar a polícia caso ele não cancelasse a corrida", disse Liliane.
A parente lembra que o Mauro começou a discutir com elas logo que entraram no carro, insatisfeito com a reclamação das passageiras, que tiveram de embarcar num ponto diferente do combinado. "Ele passou direto, parou na esquina e tivemos que ir encontrar ele lá. Quando entramos no carro, já começou a falar e brigar dizendo que poderia ser multado ali, sendo que isso nunca aconteceu em corridas anteriores", complementou.
Após o incidente, Nelly foi socorrida pelo Corpo de Bombeiros em estado grave para o Hospital Azevedo Lima, em Niterói, onde recebeu os primeiros atendimentos. Na sequência, a médica veterinária foi levada para o hospital particular Samcordis, em São Gonçalo, onde continua internada.
"Ela perdeu um pedaço do intestino, perdeu um dos ovários, lacerou o fígado. Ela é uma pós bariátrica. Você imagina um carro passando em cima de uma pessoa pós bariátrica. Passou em cima do peito dela e essa questão está dando problema", comenta Liliane.
O que diz a defesa
Os advogados Marcello Mariano e Arthur Prado Neves representam o motorista de aplicativo e contestam a versão apresentada pela irmã da vítima. Segundo a defesa, o pedido da corrida foi feito em um local proibido de estacionar fazendo com que Mauro desse duas voltas no quarteirão, visualizasse as passageiras, mas, para não ser multado, teve que parar mais na frente do que estava marcado.
A defesa alega que Liliane e Nelly chegaram de maneira agressiva em seu carro e com xingamentos. Os advogados ainda afirmam que Mauro foi respeitoso a todo momento, mas retrucou que não poderia estacionar ali. O motorista ainda teria falado para elas cancelaram e corrida, o que as passageiras teriam negado.
Os advogados alegam que Mauro concordou que a polícia fosse chamada, mas Nelly subiu em cima do capô de seu veículo. Nisso, começou a reunir um pessoal em volta da confusão. A defesa diz que tem uma entrada de uma comunidade perto de onde todos estavam e, por isso, Mauro ficou com medo de sofrer alguma represália por mal entendido.
A defesa completa que Nelly desceu do capô e se direcionou à lateral direita do carro. Mauro acelerou e a médica veterinária teria tentado chutar o carro, mas acabou caindo e ele atropelou ela. Os advogados concordaram que o homem errou em fugir do local, mas justificaram o ato por causa de uma possível agressão das pessoas que se aglomeraram com a situação. Eles também afirmaram que o motorista não se apresentou na delegacia antes porque ele não teve uma boa orientação.
*Reportagem com o estagiário Fred Vidal, sob supervisão de Thiago Antunes