Cristo RedentorAlexandre Macieira/Riotur

Rio - "Tem vista para o Cristo!" É com essa frase que os cariocas expressam, muitas vezes ao longo da vida, aquele orgulho de ter uma janela, seja em casa ou no trabalho, nas zonas Norte, Sul ou Centro, de onde se vê o maior símbolo da cidade. Pelo olhar, sentimos o resumo de estar na Cidade Maravilhosa, de ter os braços abertos a todos, ter fé na vida, amar a natureza e de se orgulhar das belezas únicas. Um monumento que, não à toa, foi escolhido para ser edificado no alto de um morro também belíssimo, o Corcovado. E que, de tão alto, colocou o mundo aos seus pés: o Cristo Redentor é o ponto turístico do Brasil mais conhecido no mundo.
Por ser uma referência tão constante, você consegue imaginar o Rio sem o Cristo do Corcovado? Pelos dados turísticos, econômicos e pela visão religiosa, fica difícil imaginar um outro símbolo que agregue tantas qualidades para manter a cidade entre os destinos preferidos de turistas, além de inspirar um sentimento de identidade para quem vive no Rio.
De acordo com uma pesquisa da Fundação Getúlio Vargas (FGV), de 2021, 79% já tinham decidido incluir o Cristo Redentor no seu roteiro antes da viagem e, após visitar o Rio, 72,3% citam o monumento em primeiro lugar entre as atrações visitadas. E pensar que ainda temos o Pão de Açúcar, praias, Arcos da Lapa e a Vista Chinesa – que assim como o Cristo, está localizada na Floresta da Tijuca.
Idealizado pelo padre Pedro Maria Boss, ainda no século XIX, a ideia do monumento ganhou força a partir de 1912, com o então arcebispo do Rio, Dom Sebastião Leme. A inauguração foi em 12 de outubro de 1931, e em 2006 o local se tornou Santuário Arquidiocesano. No ano seguinte, foi nomeado uma das Sete Maravilhas do Mundo Moderno, por um votação pública organizada por uma empresa suíça. É um símbolo universal de fé e beleza, ganhando uma importância muito além de um templo religioso, católico. O Cristo recebe quase dois milhões de visitantes ao ano, entre brasileiros e estrangeiros.
O Santuário mantém o setor 'Cristo Sustentável', que apoia diversas iniciativas ligadas ao meio ambiente e cidadania, impactando positivamente na vida da população e no progresso da cidade.
Pertinho do céu
A estátua do Cristo é no estilo art déco, com 30 metros de altura, e é recoberta em pedra-sabão. Da ponta de uma mão à outra, esses braços abertos que tanto nos confortam têm 28 metros de extensão. O Cristo está sobre um pedestal de oito metros, no morro do Corcovado, que se eleva 709 metros acima do nível do mar.
Por isso é onipresente em muitos pontos da cidade. Mesmo assim, muitos cariocas nunca fizeram uma visita a esse ilustre gigantesco, ou só o fazem quando recebem visitas de familiares e amigos que vêm de outros lugares.
Mas que tal se programar? De trem, partindo do Cosme Velho, que tem uma viagem exuberantemente linda, de mata, custa hoje R$ 93,50 – ida e volta. Mas há promoções para idosos brasileiros (R$ 32). E os visitantes ainda podem optar por pegar uma van, que tem um preço variável.
Presente no imaginário popular mundial
Para o reitor do Santuário do Cristo Redentor, padre Omar Raposo, que também é colunista do DIA, o monumento integra, de forma perfeita, as dimensões religiosa e cultural.
"O Cristo Redentor vive um momento muito especial na sua nonagenária história. Hoje, nosso Santuário possui um modelo de governança que integra perfeitamente duas lógicas fundamentais: a dimensão cultual, consolidando-se como um lugar de fé, de celebrações religiosas e peregrinações e a dimensão cultural, fomentando mais ainda a beleza desse patrimônio artístico brasileiro, porta de entrada do turismo no país e promotor de inúmeras ações em vista do desenvolvimento sustentável e bem comum."
O religioso completa: "Os braços abertos do Cristo Redentor se estendem aos mais carentes e vulneráveis de nossa cidade".
Motor do turismo
"Quando você pensa no Rio, você pensa na imagem que abraça o mundo. A imagem do Cristo Redentor é indissociável à cidade, justamente por ser considerada uma das Sete Maravilhas do Mundo Moderno, representando todo o país", comenta o presidente da Riotur, Ronnie Costa.
"É com o Cristo que abrimos o leque de cartões-postais históricos que são capazes de atrair os públicos nacional e internacional, oferecendo não só a paisagem como recompensa, mas também a cartela de serviços que vão além de sua beleza arquitetônica. E por isso é de vital importância que a experiência do turista seja memorável. Ampliamos o atendimento ao turista no embarque do trem do Corcovado, temos trabalhado para que a acessibilidade seja garantida, na realização de um passeio que seja imperdível para quem o visita. Aos pés do Cristo temos o espírito carioca em sua principal figura", complementa Costa.
Brilhando em canções e na telona

Cena de 'O homem que copiava'Reprodução

São muitas as referências a essa maravilha na cultura. Lembrando algumas músicas, além da citação no 'Samba do Avião', de Tom Jobim ("Cristo Redentor, braços abertos sobre a Guanabara), o monumento é lembrado em 'Carta ao Tom 74', de Vinícius de Moares e Toquinho ("Se via da janela um cantinho de céu e o Redentor"), e em 'Subúrbio', de Chico Buarque ("Lá tem Jesus / E está de costas"), lembrando que a imagem é vista, na Zona Norte, de um ângulo diferente.
Já no Carnaval, a referência à estátua está em um bloco que levou a irreverência para o nome: o Suvaco do Cristo.
No cinema, a atração se encaixa em cenas dos mais diversos estilos de produção: aventura, espionagem e até filme de vampiros. Dos nacionais, podemos citar 'Roberto Carlos em ritmo de aventura', 'Redentor' e 'O homem que copiava'.
Entre os internacionais, estão o francês 'O homem do Rio', além de '007 contra o foguete da morte', o cinema-catástrofe '2012', a animação 'Rio', 'Velozes e furiosos 5' e 'Amanhecer – parte 1', da saga 'Crepúsculo'.
Impacto na economia impressiona

Trem do CorcovadoDivulgação

De acordo com estudos da FGV, em 2019, o turista médio que visitou o Cristo planejava gastar R$ 1.867,50 por três ou quatro dias de passeio pela cidade. Em média, os turistas que incluem o Cristo no seu roteiro de visitas pelo Rio ficam mais tempo na cidade, o que é bom para a Economia carioca. Os mais de 1,9 milhão de visitantes geram, com seus gastos, um impacto econômico de R$ 1,4 bilhão.
O economista Gilberto Braga reforça que a dimensão financeira está muito além do que se paga para visitar o ponto turístico. "O interesse pelo maior marco turístico traz, para a cidade, entretenimento, hotelaria, comércio e até outros pontos turísticos. A receita direta do turismo tem toda a dimensão que transcende o próprio monumento", diz.
Braga comenta que o Cristo está para o Rio assim como a Torre Eiffel está para Paris: a primeira imagem no imaginário das pessoas. "O Cristo tem uma simbologia maior que o Pão de Açúcar, o samba. É um templo a céu aberto. Tem características ecumênicas, que agrega todos, pela beleza em si", afirma.
De acordo com o economista, o Rio funciona como um porta de entrada para o Brasil. Mas acredita que o Cristo poderia ser mais bem explorado turisticamente. E deixa algumas sugestões.
"O Cristo se vende por si próprio, mas poderia render mais. Deveria haver mais de uma opção de restaurante, por exemplo, com preços variados; uma trilha alternativa; o trem do Corcovado poderia ter uma parada, a paisagem é muito bonita. Nessa parada, poderiam ter lojinhas, shows, pequenos filmes sobre as atrações do Rio. É possível criar uma experiência maior de imersão na cidade."
Páscoa: símbolos e mensagens em diversas crenças

Papa Francisco em missa de PáscoaHANDOUT / VATICAN MEDIA / AFP

O domingo de Páscoa é um dos dias mais importantes no calendário litúrgico dos cristãos: é a comemoração da ressurreição de Jesus. A Páscoa cristã ocorre na mesma época do 'Pessach' judaico, uma celebração que relembra a libertação do povo judeu da escravidão no Egito. As duas festas comemoram, de uma certa forma, a vitória da vida sobre a morte. O DIA relembra, aqui, um trecho da homilia de Pácoa do papa Francisco de 2017, que traz uma mensagem bem atual. Ouvimos ainda representantes de diversas religiões falando dessa época tão especial.
Papa Francisco: "Através dos tempos, o Pastor ressuscitado não Se cansa de nos procurar, a nós seus irmãos extraviados nos desertos do mundo. E, com os sinais da Paixão – as feridas do seu amor misericordioso –, atrai-nos ao seu caminho, o caminho da vida. Também hoje Ele toma sobre os seus ombros muitos dos nossos irmãos e irmãs oprimidos pelo mal nas suas mais variadas formas.
O Pastor ressuscitado vai à procura de quem se extraviou nos labirintos da solidão e da marginalização; vai ao seu encontro através de irmãos e irmãs que sabem aproximar-se com respeito e ternura e fazer sentir àquelas pessoas a voz d'Ele, uma voz nunca esquecida, que as chama à amizade com Deus.
Cuida de quantos são vítimas de escravidões antigas e novas: trabalhos desumanos, tráficos ilícitos, exploração e discriminação, dependências graves. Cuida das crianças e adolescentes que se vêem privados da sua vida despreocupada para ser explorados; e de quem tem o coração ferido pelas violências que sofre dentro das paredes da própria casa."
Átila Nunes, ex-deputado estadual, jornalista e colunista do DIA: "É muito comum vermos os umbandistas não comerem carne e até ficarem recolhidos em casa na Sexta-feira Santa. A Umbanda segue o calendário católico, a exemplo dos dias comemorativos de cada Orixá, que acompanham as datas dos santos católicos sincretizados. E com a Páscoa não é diferente.
Para entender melhor a Umbanda, é fundamental saber que esta religião é genuinamente brasileira, resultante do amálgama de influências religiosas e filosóficas, como a Doutrina Espírita de Kardec, as diversas correntes africanas (Jejê, Alaketu, Angola, etc), filosofias orientais, seitas indígenas e, é claro, o catolicismo."
Rabino Sérgio Margulies, da Associação Religiosa Israelita do Rio de Janeiro: "A festa de Pessach, que começou dia 5 de abril e vai até quinta-feira (13), é a lembrança da saída dos judeus da escravidão do período do Egito Antigo, que é narrada na Torá [livro sagrado judaico]. A temática é a Libertação. Pessach significa travessia. No caso, da escravidão para a liberdade.
Temos um ritual chamado 'Sêder', que significa ordem. Trata-se de um jantar que as famílias fazem e que se segue uma determinada ordem. Primeiro, são consumidos alimentos que lembram a amargura da escravidão. Depois, os alimentos que lembram o renascimento. Esse jantar é realizado nos dois primeiros dias de Pessach. Um dos preceitos mais importantes é contar para os filhos a história. É uma data em que se envolve muito as crianças. Nesse período sagrado, temos as rezas nas sinagogas.
Chamada também de Festa da Primavera, a estação que começa nessa época, no Hemisfério Norte, e porque primavera é renascimento da natureza, depois do inverno. E a liberdade também é um renascimento, depois do inverno da escravidão. Enquanto os cristãos e judeus têm sua celebração, hoje somos muito movidos num diálogo inter-religioso que compreende e valoriza essa diversidade de expressões culturais e de fé. Isso também é parte de uma mensagem agregada na nossa celebração."
José Roberto Pinto Coutinho, presidente administrativo da Fraternidade Francisco de Assis – Casa Bezerra de Menezes: "Os espiritualistas têm como base os ensinamentos de Jesus. No caso dos espiritualistas universalistas, além de ensinamentos do Cristo, buscamos ainda ensinamentos de outros grandes seres que estiveram no planeta que ajudaram a compreender quem somos.
Somos cristãos. Por isso, o sentimento é de que, depois de todo o sacrifício, vem a vitória. Páscoa é a vitória da vida sobre a morte. Temos a certeza de que Jesus venceu a morte.
O domingo de Páscoa tem uma vibração muito boa, está imantado. Por isso que, na Sexta-feira Santa, comemos peixe em vez de carne: para chegarmos no domingo com o organismo sutilizado, sem as toxinas da carne, que são pesadas. E com menos toxinas no corpo, estamos mais abertos para recebermos essas boas energias."