Sepultamento de Heloíse Ribeiro, de 4 anos, aconteceu no Cemitério Nossa Senhora das Graças, em Duque de CaxiasLucas Cardoso / Agência O Dia

Rio - O corpo de Heloíse Victoria da Silva Ribeiro, de 4 anos, que morreu após ter 90% do corpo queimado em um incêndio criminoso, foi sepultado na tarde desta sexta-feira (7) no Cemitério Nossa Senhora das Graças, no bairro Parque Beira-Mar, em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense. A mãe da menina continua internada em estado grave.
A menina estava internada em estado gravíssimo no Hospital Municipalizado Adão Pereira Nunes, também em Duque de Caxias, desde quarta-feira (5). A prefeitura da cidade informou que a morte da menina ocorreu às 21h27 desta quinta-feira (6), após os médicos tentarem manobras de reanimação cardiopulmonar por 25 minutos, mas sem sucesso. A criança sofreu queimaduras de 2º e 3º graus em todo o corpo.
Um ônibus foi fretado para levar familiares e amigos da vítima até o cemitério. O grupo veio de Santa Cruz da Serra, bairro de Caxias, de onde a família da menina é. A cerimônia contou com 80 pessoas. Vânia Pereira, tia de Heloíse, esteve presente no sepultamento e contou que a sobrinha era uma menina alegre e cheia de sonhos.
"Ela era linda, linda, linda. Uma criança meiga, cheia de alegria e sonhos. É revoltante que um homem tenha destruído a vida de tantas famílias de uma vez só. O pai está aí destruído. É tanta coisa ruim acontecendo que a gente fica com medo de colocar o filho para a escola, para rua. É muito complicado", comentou a tia.
Vânia acrescentou que não há palavras para descrever o sentimento da família em relação à morte da menina. De acordo com a tia, há uma sensação de desespero misturada com revolta.
"Não tenho nem palavras. É uma notícia que a pessoa entra em desespero. Não sabe o que vai fazer, como vai reagir, ninguém espera uma notícia dela. É difícil e complicado. Tem muita revolta porque é uma criança de 4 anos que está ali dentro do caixão. Um pai destruído, uma família destruída. É muito complicado e difícil", contou.
Por causa da condição dos ferimentos que sofreu, Heloíse foi velada em um caixão fechado. O pai da menina, Renan Oliveira, precisou ser acudido por outros familiares na chegada do corpo e no momento em que a equipe do cemitério arrumava a capela onde aconteceu o velório. "Minha filha está acabada. Está muito difícil de passar por isso", desabafou ele. O homem perdeu o pai há sete meses, que foi enterrado no mesmo cemitério.
 
Além de Heloíse, sua mãe, Larissa Silvestre da Silva, de 26 anos, também teve 90% do corpo queimado durante o incêndio. Na ocasião, as duas tiveram dificuldades de descer do ônibus pegando fogo. Larissa está internada no Hospital Caxias D’Or. Vânia informou que o estado de saúde de Larissa é grave.

"A mãe está lá em um morre ou não morre com a filha que nem sabe que está sendo enterrada. Está grave. Muito grave mesmo. É uma situação que a gente vê o pai pior ainda. Não é fácil. Muito difícil mesmo.", finalizou.
Relembre o caso
O incêndio aconteceu na quarta-feira (5) no bairro Jardim 25 de Agosto, em Duque de Caxias. O suspeito do crime, identificado como Cleber da Conceição Sirilo, de 39 anos, foi preso em flagrante e está detido sob custódia no Hospital Municipal Pedro II, em Santa Cruz, na Zona Oeste do Rio. Ele chegou na unidade na tarde desta quinta-feira (6), transferido do Hospital Municipal Dr. Moacyr Rodrigues do Carmo, em Duque de Caxias em estado grave, depois de ficar com 50% do corpo queimado. 
Segundo a Secretaria Municipal de Saúde (SMS) do Rio, seu estado de saúde é considerado estável, mesmo com a gravidade dos ferimentos. Testemunhas disseram que Cleber entrou no ônibus com um galão de gasolina e uma faca. Ele começou a furar o recipiente e jogar no banco do veículo e nos passageiros. O suspeito também não estava deixando as pessoas saírem do ônibus.
Além de Heloíse e Larissa, outras três pessoas ficaram feridas. Cristiane da Silva Moreira Nascimento, de 47 anos, deu entrada às 11h20 no Hospital Dr. Moacyr Rodrigues do Carmo na quarta-feira (5). Ela teve queimadura leve na perna direita e recebeu alta hospital, com recomendações médicas, por volta das 15h do mesmo dia.
Duas mulheres foram pisoteadas ao tentar fugir do ônibus, que contava com cerca de 30 a 40 passageiros. Fernanda de Moura Almeida, de 43 anos, e Cleide Pereira Campos, 56 anos, foram levadas ao Hospital Adão Pereira Nunes com escoriações e dores abdominais. Na noite de quarta, as duas receberam alta hospitalar.
Investigação
O caso está sendo investigado pela 60ª DP (Campos Elíseos). Com a morte de Heloíse, a Polícia Civil informou que Cleber irá responder pelo crime de homicídio qualificado por emprego de fogo e por tentativa de homicídio em relação aos outros passageiros. As investigações seguem em andamento para apurar a motivação do crime.
Nesta quinta-feira (6), o delegado Flávio Rodrigues, titular da 60ª DP, explicou que os agentes ainda realizam diligências para apurar a motivação e o prosseguimento das investigações depende do depoimento das vítimas e de Cleber, que ainda não possui previsão de alta.
"A investigação está em andamento para apurar a motivação do crime, sendo que os próximos passos serão a oitiva das vítimas e do próprio acusado assim que tiverem alta médica", contou Flávio.
A Viação União, empresa do qual o ônibus fazia parte, informou que prestou auxílio às vítima e está colaborando com a autoridade policial para o esclarecimento dos fatos. "A empresa condena o quarto ataque sofrido em vinte dias e informa que o custo para reposição dos veículos incendiados é de aproximadamente R$ 3 milhões", comunicou.