Delegado Renato Cupolillo Gentile conduziu a operação MetamorfoseMarcos Porto
Advogados operavam esquema de fraudes ao INSS, apontam investigações
Alvos de operação da Polícia Federal, eles atuavam como representantes legais de beneficiários fictícios ou que já haviam morrido
Rio - Um advogado e uma advogada foram presos, nesta terça-feira (25), apontados como operadores de um esquema criminoso que frauda benefícios do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), como pensões por morte e prestação continuada ao idoso hipossuficiente, o BPC/LOAS. Eles foram alvos da operação Metamorfose, da Polícia Federal, que prendeu, ao todo, 14 pessoas, nas cidades do Rio e Niterói, na Região Metropolitana, e de Nilópolis e Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense. A maior parte das prisões aconteceram no bairro de Sepetiba, na Zona Oeste.
De acordo com o delegado Renato Cupolillo Gentile, os advogados atuavam como procuradores e faziam requerimentos na condição de representantes legais de beneficiários fictícios ou que já haviam morrido, com uso de documentos falsos, como identidade e certidões de nascimento, óbito e casamento. Após a concessão dos pagamentos, eles abriam contas em instituições bancárias, faziam saques e solicitavam cartões para futuras transações.
"É até curioso, porque essas pessoas não existiam, mas esses procuradores estavam ali representando, faticamente, pessoas que não existiam. A partir daí, esse benefício era concedido por um titular que não existia e esses procuradores, utilizando-se de uma procuração com assinaturas falsas e documentos falsos, conseguiam fazer requerimentos junto ao INSS, abrir conta-corrente em instituições financeiras e, a partir daí, resgatar o dinheiro ou mesmo retirar o cartão magnético e ficar realizando saques ou passar para outros integrantes da quadrilha", explicou Gentile.
Além dos advogados, o esquema conta com a atuação de muitas mulheres, que recebiam vantagens indevidas para realizar saques e transferências para os líderes do grupo. A maioria dos documentos falsificados eram de pessoas do sexo feminino que, apesar de não usarem nomes reais, tinham fotos verdadeiras. O grupo fraudou, aproximadamente, 50 benefícios, que causaram prejuízo de cerca de R$ 8 milhões à Previdência. O crime poderia alcançar valor estimado de R$ 12.280.000,00 pelo prazo de duração restante dos benefícios recolhidos ilegalmente.
"Despertou muita atenção da Polícia Federal o tamanho do prejuízo obtido em tão pouco tempo, a audácia desses criminosos, porque nós percebemos que, muitas vezes, nós obtivemos, através das investigações, imagens de procuradores do sexo masculino passando-se por representantes legais de titulares fantasmas femininas e resgatando, ainda assim, os valores nas instituições financeiras e dando entrada no INSS, apresentando documentos dessas mulheres fantasmas e sacando, também, o benefício em nome próprio e fazendo transferências para, provavelmente, líderes desse grupo criminoso. Chamou muita atenção a audácia dos criminoso, o prejuízo realizado e a presença de muitas mulheres integrando o grupo".
As investigações tiveram início em 2021, a partir de notícia crime feita pela Caixa Econômica Federal à Delegacia de Repressão à Crimes Previdenciários, que instaurou inquérito. A Polícia Federal agora pretende descobrir se servidores do INSS participam do esquema de fraudes. De acordo com o delegado, a suspeita se deve ao fato dos criminosos terem acesso à informações sobre benefícios represados de altos valores, que podem chegar até aos R$ 100 mil.
"As investigações continuam em andamento, principalmente com o objetivo de verificar da onde vêm essas informações para esses integrantes da quadrilha conseguirem, justamente, reativar o benefício em nome de um morto, no qual existiam valores acima de R$ 50 mil, R$ 60 mil, até R$ 100 mil represados. Então, é um valor expressivo, pelo que nós temos apurado, já que existem benefícios com valores ínfimos que estão lá parados e ninguém reativa esse tipo de benefício, mas, aqueles que possuem grandes valores, há atuação da quadrilha. Muito provavelmente tem a participação de outras pessoas nesse grupo criminoso".
Os benefícios fraudados vão passar por revisão do INSS para suspender pagamentos indevidos e as instituições bancárias serão oficiadas para encerrarem as contas usadas pela quadrilha. Além dos presos, a operação apreendeu diversos cartões magnéticos, celulares e documentos falsos que serão encaminhados para perícia. Também foram encontradas três pistolas e uma carabina, e somente a última tinha documentação regular. O dono será autuado por porte ilegal de armas.
Os envolvidos responderão pelos crimes de organização criminosa, estelionato previdenciário, falsidade ideológica, falsificação de documentos públicos e uso de documentos falsos. Se somadas, as penas podem chegar a 31 anos e oito meses de reclusão. Segundo a Polícia Federal, o nome escolhido para a operação se deu pelo modo de atuação da quadrilha, que buscava "transformar" a identidade dos criminosos para obter benefícios fraudulentos, como uma espécie de metamorfose, que deriva do grego "metamorphosis" e significa transformação.
*Colaborou Marcos Porto
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