Gestor da empresa muncipal RioSaúde, o médico Roberto Rangel avalia as mudanças positivas implantadas nas unidades desde que assumiu, há pouco mais de um ano
Roberto Rangel, presidente da RioSaúde - Divulgação
Rio - O médico Roberto Rangel preside a RioSaúde desde fevereiro de 2022. Formado há quase 20 anos e especializado em Medicina da Família, além de mestre em Saúde Pública pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), sua experiência em atuação governamental vem de longe. Ele foi secretário de Saúde nos estados de Minas Gerais, Tocantins e Mato Grosso do Sul. Desde 2013, é gestor público de saúde na Cidade do Rio. Entre os desafios enfrentados na capital fluminense, ele esteve na direção do Hospital Municipal Ronaldo Gazolla, durante a pandemia de covid-19 - o local foi escolhido para ser a unidade de referência da cidade no tratamento aos afetados pelos efeitos devastadores do coronavírus. A RioSaúde, empresa pública com 14 mil funcionários, tem sob seu guarda-chuva 28 unidades de saúde, entre hospitais, Centros de Emergência Regionais, UPAs e Centros de Atenção Psicossocial. Rangel enumera algumas realizações nesse pouco mais de um ano de gestão, como UPAs reformadas e a precupação em humanizar os atendimentos na rede hospitalar. Em abril, veio o reconhecimento: na Avaliação de Resultados 2022 da prefeitura, a RioSaúde obteve a maior nota entre as 41 instituições municipais, alcançando a média 9.
Qual foi o quadro que o senhor encontrou quando assumiu, em fevereiro de 2022?
Assim que assumimos, o quadro era de dívidas altas com diferentes credores, inconsistências, processos realizados de forma manual, ausência de ferramentas de gestão e unidades de saúde em estado precário de conservação. Esse processo de reconstrução do passivo deixado pela gestão municipal passada iniciou em janeiro de 2021 com o presidente anterior da RioSaúde, mas a situação encontrada ainda era caótica. Assumi a presidência da Empresa Pública de Saúde do Rio de Janeiro (RioSaúde) em fevereiro de 2022, após pouco mais de um ano à frente do Hospital Municipal Ronaldo Gazolla e, assim que assumi, foi necessário um choque de gestão e várias providências foram tomadas logo de início, em vista de um senso de urgência para garantir um suporte efetivo às unidades de saúde e, consequentemente, aos cidadãos.
Pode citar algumas da primeiras providências?
Logo de início, foi preciso sanear praticamente a totalidade do passivo herdado no campo das obrigações trabalhistas e assistenciais. Para uma melhor gestão de pessoas, fundamental em uma empresa com mais de 14 mil colaboradores, a diretoria de Recursos Humanos foi reestruturada com o desenvolvimento e implantação de soluções tecnológicas e integração do sistema de biometria, que em menos de um ano teve cadastrados mais de 10,5 mil colaboradores.
Também já entregamos quatro UPAs completamente reformadas apenas este ano. As outras oito já estão finalizando as obras para serem reinauguradas nos próximos 90 dias. A ampla reestruturação incluiu nova climatização de todas as áreas das unidades, aquisição de novos mobiliários e equipamentos, troca de piso e telhado, revitalização da fachada, padronização da identidade visual, onde o usuário encontra uma nova sinalização e quadros informativos com conteúdo relevante sobre temas relacionados à saúde e serviços prestados, entre outras melhorias. As crianças, por exemplo, são atendidas em espaços lúdicos, tanto nos consultórios quanto nas salas pediátricas.
Quais dos problemas encontrados o senhor atribuiria à crise gerada pela pandemia de covid-19 e quais seriam por questão administrativa (má gestão anterior)?
A pandemia tem uma responsabilidade pequena nesse processo de caos administrativo herdado da gestão municipal anterior. Infelizmente, o maior problema foi fruto de um crescimento desordenado da empresa aliado à falta de planejamento, eficiência administrativa e compromisso com o dinheiro público.
Quantos unidades estão sob o guarda-chuva da RioSaúde?
Por meio de convênios firmados com a Secretaria Municipal de Saúde, somos responsáveis pela gestão de 28 unidades, entre hospitais, Centros de Emergência Regionais (CERs), Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) – 12 no total - e Centros de Atenção Psicossocial (CAPs).
O que o senhor destacaria hoje como pontos fortes que o sistema de Saúde do Rio tem? Quais as conquistas da sua gestão?
Além das reformas de unidades e a restruturação assistencial de todas as unidades geridas pela empresa, outros projetos em curso deixam clara a guinada na gestão. O trabalho desenvolvido no Hospital Ronaldo Gazolla se tornou uma referência na rede municipal durante a pandemia e segue sendo referência com o maior número de leitos de CTI da América Latina, maior hospital com leitos ativos do Rio de Janeiro e hospital que realiza mais número de cirurgias eletivas por mês em todo o estado. A tecnologia se tornou uma aliada em todos os processos assistencias e de gestão do hospital, como na Central de Monitoramento Assistencial que será implantada no Ronaldo Gazolla. O sistema conecta os 420 leitos da unidade, monitorando os indicadores de saúde e sinais vitais dos pacientes. Em caso de qualquer alteração, a equipe é acionada imediatamente, possibilitando a adoção de medidas rápidas e precisas para garantir a segurança e bem-estar deles. Os novos centros cirúrgicos do Gazolla elevam a capacidade do hospital, que agora realiza até 3 mil cirurgias por mês em diversas especialidades.
Os resultados já estão aí: hoje a realidade é outra e prova disso foi a divulgação, no último dia 10 de abril, da Avaliação de Resultados 2022 da prefeitura, em que a RioSaúde obteve a maior nota entre 41 instituições municipais. Em uma escala de 0 a 10, a empresa pública alcançou média 9. Apenas outros três órgãos conseguiram a mesma nota (duas secretarias e a Controladoria Geral do Município).
E a Central Saúde?
A Central Saúde também é um projeto recente e inovador, pensado para reforçar o modelo e atendimento humanizado adotado pela RioSaúde nas unidades sob sua gestão, onde o cuidado com o paciente vai além do diagnóstico e tratamento. A Central Saúde estabelece um relacionamento com os familiares, para que tenham informações atualizadas sobre o quadro clínico do parente internado. Enfermeiros comunicadores treinados entram em contato, diariamente, para informar a evolução clínica, de forma acolhedora e com a clareza necessária.
Esse serviço já está disponível?
O serviço está em fase de implantação nas maiores unidades de saúde do município, além das 12 UPAs. Na segunda fase do projeto, a Central também atuará de forma receptiva, recebendo ligações dos familiares.
Existe algum projeto em vista para melhorar os nossos hospitais?
Nosso maior projeto visa a qualificação e provimento de capital humano qualificado em toda rede hospitalar municipal. Isso tem permitido uma oferta de assistência mais efetiva e humanizada ao carioca. Além dos já citados – reforma das unidades, reestruturação operacional e tecnológica, a Central Saúde, Central de Monitoramento -, que são projetos com ganhos efetivos e notórios, com melhor atendimento, maior agilidade, mais humanização nos atendimentos, há também diversos outros projetos encaminhados que visam melhoria no serviço ofertado pela RioSaúde em cada uma das nossas unidades.
O que poderia ser destacado?
Citando alguns: gestão com base em dados consolidados, automatizados, disponibilizados em painéis de controle dinâmicos, avaliando a evolução dos dados em tempo real; implantação de tecnologias para capacitação permanente dos colaboradores nos processos de trabalho; montagem e organização do Centro de Operações com a central de monitoramento de leitos, de câmeras de segurança e gestão de indicadores do Hospital Ronaldo Gazolla; Implantação do Conecta Saúde no Hospital Municipal Ronaldo Gazolla, projeto piloto que irá empregar a Internet das Coisas (IoT), inteligência artificial e conectividade sem fio para a melhoria dos serviços da unidade. Enfim, são muitos os projetos em desenvolvimento.
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