A família do torcedor do Vasco Rodrigo Miguel de La Torre Machado Pereira esteve no IML nesta terça para realizar a liberação do corpoPedro Ivo/Agência O DIA
Segundo Tânia, três homens encapuzados chegaram na festa, atiraram em Rodrigo e renderam todos os convidados. Ela disse que o local era uma espécie de clube, que eles construíram para o vascaíno reunir os amigos e que no dia acontecia uma festa de 3 meses do filho de um dos amigos o torcedor.
"No dia que ele foi morto teve uma festa de três meses do filho de um rapaz que morava lá também, que também era Vasco, então usou o espaço, mais tarde eles subiram para laje e estavam tomando cerveja e comendo o churrasco, eu não estava lá. Eu soube que quando foi de madrugada apareceram três homens encapuzados, eles renderam todo mundo e mataram meu filho, que tinha quase dois metros", explicou.
A mãe reforçou que o filho torcia pelo Vasco desde pequeninho e que era querido por todos. "Eu não entendo, ele era muito conhecido por todo mundo, pela torcida do Vasco, já foi da torcida Força Jovem do Vasco, mas depois que ficou cego ele só saia comigo ou quando algum amigo buscava ele para levar em um churrasco, porque a visão dele era zero", disse.
Indignada e sem entender o motivo, Tânia pediu por Justiça e garantiu que Rodrigo não tinha inimizades. "Eu queria saber porque fizeram isso com meu filho, me ensinaram a ser mãe, mas não me ensinaram a ser ex-mãe, minha vida era eu e ele, e agora? O que vai ser? Eu tenho mais uma filha, meu genro e dois netos da parte dela, mas era eu e ele, éramos nós dois. Ninguém me ensinou a dizer adeus, principalmente para um filho, porque a gente espera morrer primeiro”, desabafou.
Ela explicou que os dois moravam juntos há quatro anos, desde quando o filho perdeu a visão. "Deus me deu a oportunidade de cuidar do meu filho, eu sei que para as mães os filhos são os santos, e lá fora são encapetados fazem o que querem, mas o meu filho de 4 anos para cá, eu posso dizer o que ele fazia, porque ele vivia dentro de casa comigo, mesmo doente ele cuidava de mim, lavava louça, varria a casa, nunca tive discussão com meu filho", lamentou.
A guarda municipal comentou também sobre a dor de ter que reconhecer o corpo do filho, da tristeza e disse que ainda não conseguiu chorar porque a ficha não caiu.
"Eu não consigo chorar, só consigo perguntar o porquê, não caiu a ficha ainda, quando me chamaram e eu vi o corpo do meu filho eu não entendi. Quando o filho vive doente, ou numa vida arbitrária, você já até acha que pode acontecer algo, mas uma pessoa cega, assassinada praticamente dentro de casa, porque nossa casa é dos fundos e o espaço é na beira da rua, dentro do terreno, em frente ao colégio, não dá para entender", lamentou.
Tânia disse que Rodrigo foi mais uma vítima da violência do Rio de Janeiro: "Meu filho não podia subir morro, não podia bater em ninguém, roubar ninguém, ele não podia fazer nada porque não enxergava. Eu que tinha que dizer para ele se o tempo estava bom ou ruim, a cor da roupa que ele ia vestir. O dia a dia dele era dentro de casa comigo ou ali no espaço que ele também fazia de academia e quando saia eu que levava".
Rodrigo ainda tinha uma namorada que morava em Curitiba e o visitava de 15 em 15 dias. A mãe explicou que ele só andava de óculos e não parecia ser cego, mas que até para atravessar a rua precisava de ajuda. Ela disse ainda que o rapaz tinha coração bom e não ficava brigando com ninguém.
"O sonho dele era voltar a enxergar e ter os amigos por perto", revelou a mãe.
Tânia explicou que Rodrigo perdeu a visão completamente em 2018 após ser atingido por uma garrafa de vidro ao separar uma briga envolvendo um amigo. Ela contou que morava em Copacabana, mas se mudou para Ramos a pedido do filho.
“Quando ele ficou cego eu morava em Copacabana, mas ele não quis ficar lá comigo, então fomos para Ramos, onde ele foi nascido e criado e era conhecido, tinha amigos. Nós tínhamos um quintal grande, ele construiu uma academia em uma casa, colocou uns tapumes, uns aparelhos de ginástica, negócios de box, aí os colegas iam lá treinar, o portão da garagem sempre era aberto, passava todo mundo, é em frente a um colégio estadual, o e todos podia entrar, não era pago, era só para ele e os amigos dele”, relatou.
Ela relatou ainda que em 2006 Rodrigo já havia perdido uma visão ao ter um projétil alojado no cérebro. Segundo a mãe, ele foi baleado durante uma tentativa de assalto.
“Ele foi fazer uma segurança em Madureira e na saída anunciaram um assalto, meu filho já estava no carro dormindo, mas uma bala atingiu o cérebro e não pôde tirar, por isso ele perdeu uma vista”, explicou.
Antes de perder completamente a visão, Rodrigo já havia trabalhado 20 anos como mototáxi, um tempo porteiro e com um pai em uma empresa de contabilidade.
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