Amanda Ferreira Nunes e Fabiano Leal, mãe e padrasto de Lohan Samuel Nunes Dutra, no enterro do meninoCleber Mendes / Agência O Dia

Rio - Kailany Vitória Fernandes Balduíno, de 18 anos, e Lohan Samuel Nunes Dutra, 11, foram sepultados nesta terça-feira (2), no Cemitério de Irajá, na Zona Norte. Os irmãos de consideração morreram após serem baleados em um ataque de criminosos no Complexo do Chapadão, também na Zona Norte, na manhã deste domingo (30).
A cerimônia fúnebre contou com a presença de parentes e amigos com camisa com fotos dos dois e a frase 'Saudades Eternas'. Erika Cristina Fernandes Monteiro, mãe de Kailany e madrinha de Lohan, que criava o menino como filho, também foi baleada no ocorrido e chegou ao cemitério com a perna enfaixada, precisando de ajuda para se locomover.
A mãe biológica de Lohan, Amanda Ferreira Nunes, lembrou com carinho que o filho tinha o sonho de ser jogador de futebol e era muito animado. Ela disse, após o enterro, que sente raiva de como perdeu o filho.
"O sentimento que eu estou agora não é de dor, não é de perda. É de raiva, muita raiva. Eu não consigo chorar. Eu quero uma resposta do governo, eu quero justiça, que alguém fale o que houve com o meu filho. Aí um cara sai da comunidade, uma comunidade tão pequena, tão precária, sai de uma comunidade armado, vai para uma festinha de criança e dispara tiro para cima de criança, de jovem. Acabei de ver o meu filho dentro de um caixão. Eu não vou ficar sem resposta, a autoridade vai ter que dar. Uma hora ela tem que aparecer", afirmou Amanda, que disse ainda que o filho não foi vítima da disputa entre facções. Segundo ela, dois homens de moto teriam saído da comunidade Terra Nostra e atirado.
Já o padrasto do menino, Fabiano Leal, pediu ainda ajuda para chegar aos assassinos. "Queria que a população pudesse comunicar, fazer um gesto, qualquer coisa que pudesse chegar nesses caras para que a justiça seja feita", desabafou.
Kailany Vitória e Lohan Samuel foram atingidos por disparos próximo à Praça do Real, em Costa Barros. Erika Cristina Fernandes Monteiro, mãe de Kailany, foi baleada na perna e recebeu atendimento no Hospital Estadual Getúlio Vargas, na Penha.
O crime teria acontecido por causa uma guerra entre facções rivais. A região tem sido alvo de confrontos entre traficantes do Complexo da Pedreira, dominado pelo Terceiro Comando Puro (TCP), e do Complexo do Chapadão, do Comando Vermelho (CV). Por volta das 4h da manhã, criminosos do TCP teriam ido a um dos acessos da comunidade vizinha para realizar o ataque.

De acordo com relatos de testemunhas, os três estavam no portão da casa onde moravam após uma festa na comunidade. Nesse momento, homens passaram de moto e atiraram contra as pessoas que estavam saindo da comemoração. As três vítimas foram encaminhadas à UPA de Costa Barros.
Kailany, baleada por quatro disparos, e Samuel, atingido na barriga, morreram antes de chegar na unidade. Erika foi transferida para o Hospital Estadual Getúlio Vargas e recebeu alta hospitalar na mesma manhã de domingo.
Familiares das vítimas estiveram na manhã desta segunda-feira (1º) no Instituto Médico Legal (IML) Afrânio Peixoto, no Centro, para a liberação dos corpos dos irmãos. Os tios da jovem e da criança, muito abalados com a situação, não quiseram falar com a imprensa no local.
Ao DIA, um parente, que preferiu não ser identificado, contou que a jovem e o menino foram mortos depois que bandidos em uma moto passaram atirando pelo local onde as vítimas estavam, logo após o fim de uma festividade.
"Aqui é guerra de facção. Os caras matam a troco de nada. Estava todo mundo na festa, no portão de casa. Chegaram atirando e mataram. Covardia. Aqui a realidade é outra. Só vai ser mais uma e nada acontece. A gente é pobre e mora na favela. Triste fica pra gente", disse.
Segundo o familiar, a jovem era uma pessoa trabalhadora, que fazia de tudo para sustentar um filho de apenas 2 anos. Já sobre Lohan Samuel, o parente, emocionado, não tinha palavras para defini-lo.
"A Kailany era trabalhadora demais. Uma guerreira ao extremo. Foi embora e deixou um filho de 2 anos. A garota trabalhava muito. Trabalhava em tudo. Chapeira, na cozinha, fazendo comida. O que chamasse ela fazia só pra sustentar o filho. E o Samuel, o que falar de uma criança?", completou.
Após ser palco de uma uma nova guerra entre criminosos de facções rivais, a região teve o policiamento reforçado, informou a Polícia Militar nesta segunda-feira (1º). Na ocasião, a corporação informou que não houve ação policial no Complexo do Chapadão. Agentes do 41º BPM (Irajá) estiveram na UPA de Costa Barros, onde constataram a morte das vítimas.

A Polícia Civil disse que as mortes de Kailany e de Lohan estão sendo investigadas pela Delegacia de Homicídios da Capital (DHC). O caso de Erika foi registrado na 22ª DP (Penha) e será encaminhado à 39ª DP (Pavuna). A instituição destacou que as diligências estão em andamento para apurar a autoria dos disparos e esclarecer todos os fatos.