Alessandra dos Santos da Silva, de 35 anos, deixou a 64ª DP acompanhada da mãe, dois amigos e da advogadaReginaldo Pimenta/Agência O Dia

Rio - A passista Alessandra dos Santos da Silva, de 35 anos, afirmou que o Hospital da Mulher Heloneida Studart, em São João de Meriti, só a procurou após a repercussão da amputação do braço esquerdo, provocada por uma série de complicações decorrentes de uma cirurgia para a remoção de miomas do útero, em fevereiro deste ano. A retirada do membro aconteceu no Instituto Estadual de Cardiologia Aloyzio de Castro (Iecac), em Botafogo, na Zona Sul, depois que ela foi transferida da unidade da Baixada Fluminense. A trancista deixou a 64ª DP (São João de Meriti) por volta das 13h30 desta quarta-feira (3), após ter prestado um novo depoimento sobre o caso. 
"A todo momento, as entrevistas que eu assisti, as declarações do pessoal do Hospital da Mulher, eles dizendo que entraram em contato comigo e com a minha família e que, inclusive, depois da entrevista que estavam dando, entrariam em contato. Isso não ocorreu em momento nenhum. Eles somente começaram a se preocupar comigo quando eles perceberam, através da mídia, que eu estava viva, porque antes, acho que nem disso eles sabiam", afirmou Alessandra, que estava acompanhada da mãe, de dois amigos e da advogada. 
De acordo com a defesa, o novo depoimento aconteceu para que a passista pudesse prestar esclarecimentos sobre informações que não constavam no registro de ocorrência do caso. A advogada Bianca Cald explicou que ainda faltam documentos e depoimentos a serem anexados às investigações, como as oitivas de profissionais do Hospital Municipal Souza Aguiar, onde Alessandra ficou internada, após se recusar a voltar ao Hospital Mulher para fechar os pontos de sua barriga que ficaram abertos, por medo de sofrer mais complicações. 
"Hoje ela foi chamada para prestar esclarecimentos com relação à informações que ela ainda não tinha dado no registro de ocorrência, até porque tudo aconteceu muito rápido. Então, eles vão 'linkar' toda a documentação, todos os prontuários, ainda faltam algumas documentações a serem juntadas na investigação, então, a partir daí, vai dar andamento à perícia toda dos documentos, depoimentos. Ainda faltam alguns depoimentos serem prestados, porque os médicos do (Hospital Municipal) Souza Aguiar ainda não foram chamados". 
Assim como Alessandra, Cald defendeu que houve erro médico do hospital de São João de Meriti no caso da passista. "Os prontuários são gigantescos, a gente está analisando minuciosamente cada documento, para que a gente faça tudo com muito respaldo, justamente, porque o hospital (da Mulher) está alegando que não houve nenhum erro mas, na verdade, houve diversos", disse a advogada. 
Além dela, na última sexta-feira (28), a distrital ouviu três médicos do Hospital da Mulher e outros dois do Iecac. Todos os cinco detalharam os procedimentos adotados durante as cirurgias. No dia 25 de abril, também prestaram depoimentos o cirurgião Gustavo Machado, que participou da retirada de miomas e histerectomia da trancista, e outros dois médicos da unidade da Baixada. Na oitiva, o primeiro citou um problema vascular da paciente, após as cirurgias, e ressaltou que a decisão pela amputação foi da equipe do Instituto de Cardiologia.
Em uma nota divulgada no dia 26 de abril, a Secretaria de Estado de Saúde (SES) informou que a passista recebeu "altas doses" de aminas vasoativas, que provocam o estreitamento dos vasos sanguíneos para manter a pressão arterial, após a histerectomia a qual foi submetida pouco depois da retirada dos miomas. Segundo a pasta, "um dos possíveis efeitos adversos da medicação é a oclusão vaso arterial, que leva à redução do fluxo sanguíneo, podendo levar à necrose das extremidades do corpo".
A Polícia Civil investiga se houve negligência ou imperícia nos procedimentos aos quais Alessandra foi submetida. A Fundação Saúde instaurou sindicância para apurar toda a conduta médica e administrativa nas duas unidades de saúde e o Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio de Janeiro (Cremerj) informou que abriu uma sindicância para apurar os fatos.
Vaquinha 
Grupos de passistas de escolas de samba do Rio de Janeiro fizeram uma campanha para arrecadar dinheiro para Alessandra conseguir custear as despesas médicas. A Grande Rio, sua escola do coração, Portela e a Inocentes de Belford Roxo ajudaram na divulgação. A vítima explica que antes da amputação, trabalhava como trancista e implantista, mas, devido ao ocorrido, não tem mais fonte de renda. Na saída da delegacia, ela agradeceu o apoio que vem recebendo. 
"Ainda me encontro despedaçada, arrasada, só não fico em depressão por conta dos meus amigos, da minha família, minha mãe, meu pai, minhas primas, minha advogada que agora está cuidando de mim. É isso que está me dando força. Eu quero agradecer toda ajuda que as pessoas estão me dando, com palavras de força, de carinho, para eu não desistir, para continuar lutando pela vida. Estou recebendo muitas mensagens de pessoas que se encontram assim como eu, está me dando muita força. Também quero agradecer às pessoas que estão me ajudando na vaquinha virtual, porque como todos sabem, eu não posso mais trabalhar e a única renda que eu tinha era como trancista e implantista, então, agora eu não tenho outra renda para sobreviver", declarou Alessandra.