Ailton Barros é militar da reserva e tentou se eleger como deputado estadual nas eleições de 2022 pelo RioReprodução

Rio - O militar da reserva e candidato a deputado estadual pelo Partido Liberal (PL) nas eleições do ano passado, Ailton Gonçalves Moraes Barros, preso na operação da Polícia Federal contra fraude em dados vacinais nesta quarta-feira (3), afirmou ter conhecimento sobre quem mandou matar Marielle Franco em 2018. A força-tarefa que investiga o caso já colheu o depoimento do militar.
A PF conseguiu interceptar uma conversa do dia 30 de novembro de 2021 entre Ailton e o tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de Jair Bolsonaro, que também foi preso nesta quarta-feira (3). Todo o conteúdo foi transcrito e enviado em ofício ao Supremo Tribunal Federal (STF), que autorizou a operação.
De acordo com a PF, Ailton disse para Mauro Cid, em áudio, que o ex-vereador do Rio Marcelo Siciliano intermediou a inserção de dados falos de vacinação no sistema do Ministério da Saúde em benefício de Gabriela Santiago Cid, mulher do ex-ajudante de ordens de Bolsonaro.
A investigação apurou que Ailton solicitou que Mauro intermediasse um encontro entre Siciliano e o cônsul dos Estados Unidos no Brasil para resolver um problema relacionado ao visto do ex-vereador no país, devido ao envolvimento de seu nome com o caso de assassinato de Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes. Na época da morte, Siciliano chegou a ser investigado, mas a participação dele no crime foi descartada.
Em um áudio, Ailton disse para Mauro que Siciliano não teria relação com a morte de Marielle e que o ex-vereador estava servindo como bucha. O militar da reserva ainda afirmou saber quem é o mandante do crime de 2018. A transcrição foi realizada pela Polícia Federal.
"De repente, nem precisa falar com o cônsul. Na neurose da cabeça dele [Siciliano], que ele já vem tentando resolver isso a bastante tempo, manda e-mail e ninguém responde, entendeu? Então, ele partiu para a direção do do cônsul, que ele entende que é quem dá a palavra final. Mas a gente sabe que nem sempre é assim, né? Então quem resolva, quem resolva o problema do garoto, entendeu? Que tá nessa história de bucha. Se não tivesse de bucha, irmão, eu não pediria por ele, tá de bucha. Eu sei dessa história da Marielle toda, irmão, sei quem mandou. Sei a p*** toda. Entendeu? Esta de bucha nessa parada toda aí", afirmou Ailton Barros.
Após o conhecimento da informação, a força tarefa da PF, que investiga a morte de Marielle, tomou o depoimento do militar sobre o caso. As investigações seguem em andamento.
Morte de Marielle e de Anderson
A ex-vereadora do Rio, Marielle Franco, e o seu motorista Anderson Gomes foram assassinados no dia 14 de março de 2018, no Estácio, na região central do Rio. Marielle voltava de um evento na Rua dos Inválidos, na Lapa, quando um carro parou ao lado do veículo de seu motorista na Rua Joaquim Palhares, próximo ao metrô, e dois bandidos dispararam, fugindo em seguida.
O ex-policial militar Ronnie Lessa, acusado de ser o autor dos disparos, foi preso em março de 2019. Uma denúncia apresentada pelo Ministério Público do Rio (MPRJ) aponta que ele e o também ex-PM Élcio de Queiroz, que dirigia o veículo, são os assassinos de Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes. Contra a dupla, também há a acusação de tentativa de assassinato contra a assessora Fernanda Chaves, que estava no carro ao lado da vereadora no momento dos disparos, mas conseguiu escapar pelo fato de involuntariamente ter sido protegida pelo corpo de Marielle.