Corpo de Adriana dos Santos Ribeiro foi sepultado na tarde desta sexta-feira, no Cemitério de IrajáCléber Mendes / Agência O Dia

Rio - O corpo da comerciante Adriana dos Santos Ribeiro, de 43 anos, foi sepultado na tarde desta sexta-feira (5), no Cemitério de Irajá, na Zona Norte. Sob forte emoção, amigos e familiares desabafaram sobre a perda e a irmã da vítima precisou ser amparada por pessoas próximas. Jorge Luiz Pereira de Souza, marido da vítima, disse que ela era sempre alegre e tinha conseguido a habilitação para trabalhar como profissional de enfermagem há duas semanas.
"Adriana era uma pessoa alegre, sempre acreditava nas coisas boas da vida. Ela se formou como técnica de enfermagem, pegou o (certificado) do Coren (Conselho Regional de Enfermagem) há 15 dias. Sempre acreditava na vida, na alegria, sempre sorrindo. Não tenho palavras. Como pessoa, como esposa, era uma pessoa trabalhadora e me ajudou muito. Só tenho a agradecer, ela era um ser de luz. É uma perda grande, vai fazer muita falta. Era uma pessoa de bom coração, não podia ver outra pessoa passando fome. Uma pessoa igual a essa, no mundo de hoje, não tem quase ninguém", desabafou.
Emocionada, uma amiga de Adriana chorou ao contar que passou pelo mesmo sofrimento da família da comerciante. Em dezembro, o marido de Márcia Cristina Lima Conceição foi morto por uma bala perdida durante uma operação no Complexo da Serrinha, em Madureira. Antônio Carlos Rosário, de 57 anos, passeava com seu cachorro no momento em que foi vítima do tiroteio. Ele deixou a mulher e dois filhos.
"Mais uma inocente indo embora por causa de uma bala perdida. A bala nunca é perdida, sempre acha um inocente. Essa família está sofrendo como eu sofri há quase cinco meses e nada foi feito até agora. Minha família está doente. Amanhã, pode ser você, a sua família. Nós estamos jogados, ninguém cuida da gente. Temos que tomar providência, pedir socorro! Só Deus para proteger a gente. Vou embora, mas não sei se vou chegar em casa. Será que vou levar um tiro no ônibus? A gente pede socorro", desabafou Márcia, muito emocionada.
Adriana morreu após ser baleada durante um confronto entre policiais e criminosos em Madureira, na quarta-feira. Equipes do 9º BPM (Rocha Miranda) faziam buscas para prender uma quadrilha de roubo de veículos na região e, após abordagem, um grupo suspeito tentou fugir para o Morro da Serrinha, dando início aos tiros. A vítima, que passava pelo local, foi atingida por disparos e encaminhada ao Hospital Estadual Carlos Chagas, em Marechal Hermes, mas não resistiu aos ferimentos. O caso está sendo investigado pela Delegacia de Homicídios da Capital (DHC).
Durante o enterro, Jorge Luiz também criticou a atuação da PM. Ele acredita que o confronto poderia ter sido evitado, principalmente no período da tarde, quando há maior circulação de pessoas.
"Hoje em dia, com internet, GPS, drone... Em certas ocorrências, não era para a polícia chegar e trocar tiro com bandido. Era para verificar, anotar o que está acontecendo ali, deixar os 'elementos' roubarem e seguirem. Com essas tecnologias, acompanhar eles com viaturas e helicóptero para chegar no local e interceptar eles. Senão vai morrer todo mundo. As pessoas inocentes, crianças e trabalhadores. Em um horário de 16h, 'horário do rush', foi a minha esposa... É um ser de luz, ela não está mais na Terra. Acho que estão trabalhando totalmente errado", lamentou.
Abalado, Jorge disse que não esperava estar no enterro da mulher, cerca de 15 anos mais nova que ele.  "Eu esperava que eu estivesse no caixão - tenho quase 60 anos - e não ela, com 43 anos. Por falta de estrutura da polícia e do Estado, que não manda uma psicóloga, uma assistente social, não faz nada. Só recolhe IPI, ICMS, conta de luz, de gás, impostos e não faz nada por você. Essa é a revolta", afirmou.
Os irmãos de Adriana também estavam abatidos durante o enterro e pediram por justiça. Em um momento que tentou falar sobre a vítima, Bianca Oliveira dos Santos precisou ser amparada por amigos. "Tiraram a vida da nossa irmã. A criminalidade do Rio de Janeiro tirou a vida da minha irmã. Até quando? A dor não é só da nossa família, é de todos. A gente exige justiça. Meu corpo todo é só dor. Eu amava minha irmã, ela ajudava todo mundo. Assassinaram a minha irmã, eu quero justiça. Ninguém procurou a gente".
"Ela era uma excelente pessoa, extrovertida, alegre, família... Eles conseguiram tirar nossa felicidade. A gente fica sem chão, não tem para onde corrermos. O Estado não está nem aí para a gente. Eles são omissos nessas horas. Ontem, foi minha irmã. Amanhã, pode ser uma criança, um idoso... Minha irmã levou um tiro de fuzil... Ninguém procurou a família. O Estado não está nem aí para a família, não teve ajuda de psicólogo, nada disso", criticou Ronaldo Oliveira dos Santos.
Questionada sobre não ter feito contato com os familiares de Adriana, a Secretaria Municipal de Assistência Social informou que não foi acionada para o fato.
* Reportagem do estagiário Fred Vidal, sob supervisão de Thiago Antunes
* Colaborou Cléber Mendes