Também há vigor no momento em que escrevo esta crônica, certa de que ela chegará até você, do outro ladoArte: Paulo Márcio

As flores naturais em um belo vaso que eu trouxe de lembrança do aniversário de 90 anos da Dona Fernanda, no sábado retrasado, ainda estavam bem vivas quando a última terça-feira amanheceu. Depois de despertar, conferi as mensagens no Whatsapp e uma delas, enviada às 6h27 daquele dia, era a da aniversariante, matriarca de uma família muito querida. O recado vinha com um agradecimento por termos ido à festa — minha irmã e meu cunhado também estiveram na celebração. "Bom dia, querida amiga. Como fiquei feliz com a presença de vocês... Muito obrigada pelo carinho, estou me sentindo mais renovada com todo esse apoio dos amigos", dizia Dona Fernanda.
Logo os meus pensamentos foram capturados por essa palavra mágica: renovada. É possível sentir-se assim em qualquer idade, inclusive aos 90 anos, e a prova estava naquela mensagem, três dias após uma comemoração repleta de afeto. Por mais que alguns ainda acreditem que os sonhos e a vitalidade tenham data certa para se aposentar, a vida nos surpreende e mostra que ainda pode haver tempo de um vigor novo na caminhada. Particularmente, eu me senti recomeçando depois dos 40, quando me descobri cronista e me transformei numa escritora guiada pelos sentimentos.
Da mesma forma, muitas outras ocasiões são capazes de promover essa sensação de rejuvenescimento em nós. Estar com quem se ama é uma delas, como sabiamente escreveu a Dona Fernanda. Afinal, dar e receber afeto promovem uma renovação de energia. Suspeito que acordar cedo e ser grata sejam outros segredos dela.
Sinto também que a arte instiga novidades em nossos pensamentos e emoções. É muito bom quando assistimos a um show e nos encantamos com o nosso artista preferido, reforçando ao vivo o coro das músicas que a gente ensaiava em casa ou no carro. A gente se renova quando acredita que sabe cantar e solta a voz. Mesmo que a razão insista em dizer que somos desafinados.
Também há vigor no momento em que escrevo esta crônica, certa de que ela chegará até você, do outro lado. Da mesma forma, saio com um novo ânimo de festas em que a esperança numa vida boa se refaz. Foi assim na bela celebração da Dona Fernanda, quando ainda trouxe para casa alguns bem-vividos, nome dado aos tradicionais bem-casados nas festas de aniversários. Depois, até cheguei à conclusão de que nem precisaríamos ter rebatizado o docinho, já que ele também celebra as pessoas bem casadas com a vida. E isso é renovação pura.