Edom Camilo de Souza, 39, ficou com marcas das agressões que ocorreram na abordagemArquivo Pessoal

Rio - O vendedor ambulante Edom Camilo de Souza, de 39 anos, descreveu como covarde a abordagem truculenta que sofreu na tarde do sábado passado (20), na Praia de Copacabana, na Zona Sul do Rio. A Secretaria Municipal de Ordem Pública (Seop) realizava uma fiscalização para coibir a atuação de trabalhadores ilegais e a ação acabou sendo registrada por quem passava no local. O homem foi vítima de golpes de cassetete e choques por armas de eletrochoque, os chamados teasers. 
Edom relatou que com a aproximação dos agentes, tentou fugir para não ter o carrinho e mercadorias apreendidos, mas acabou sendo cercado pelos agentes, dando início a uma confusão (Confira abaixo). Segundo a Seop, o ambulante portava uma faca e passou a ameaçar a equipe, caso se aproximasse para reter a mercadoria ilegal. Um dos agentes chegou a sofrer um corte no dedo e precisou levar ponto. Entretanto, o vendedor negou que tenha feito as intimidações. 
"Como eu trabalho com a faca, fica na minha barraca, eu peguei a faca e gritei que eu só queria 'meter o pé', mas como a faca estava na minha mão, eles devem ter entendido como ameaça. Eu correndo, falei: 'só quero sair daqui', e aquele monte de homem covarde me cercando, ainda me deram dois tiros com aquela arma que dá choque e, simplesmente, o que eu queria era só sair dali correndo. Minha intenção era trabalhar, a gente depende do trabalho para cumprir com as responsabilidades, pagar um aluguel, uma conta", disse Edom.
Ainda segundo o vendedor de milho cozido, durante a confusão, ele recebeu, ao menos, dois choques de teasers e, quando conseguiu atravessar o calçadão de Copacabana com o carrinho, os agentes jogaram a viatura da Seop contra ele e conseguiram o imobilizar e encaminhar para a 12ª DP (Copacabana). Em vídeos que circulam nas redes sociais, é possível ver pessoas reclamando da ação. "Olha lá, atropelou o trabalhador. O que o trabalhador passa no Rio de Janeiro, tamanha covardia", diz uma pessoa.
Outro registro mostra um grupo em volta do ambulante e da equipe, também se queixando da truculência. "Uma covardia, atropelou, sim", afirma um. "O cara trabalhando, jogou o carro e atropelou o cara", comenta outro. Em mais um vídeo, Edom já aparece deitado no chão e é possível ver um servidor da pasta com um teaser e o barulho da arma sendo usada. (Confira abaixo). Na confusão, parte do material do vendedor ficou espalhado no chão.
"Tudo o que eu queria era sair dali com meu carrinho, para depois poder voltar a trabalhar, porque tudo o que eu sei fazer é isso. Eu não entendo como eles trabalham dessa maneira, eles têm o prazer de te esculachar, querer te prejudicar, como se você não dependesse disso ali. Eu estava trabalhando nesse dia, justamente, para pagar meu aluguel, eu ainda não consegui pagar meu aluguel", lamentou e contou que deve buscar o carrinho apreendido dentro de oito dias, em um depósito em Bonsucesso, na Zona Norte do Rio.
Nesta segunda-feira (22), Edom procurou a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de Copacabana por sentir desconforto no peito e por conta das dores decorrentes das pancadas que recebeu nas costelas e no braço. Em imagens feitas pelo ambulante, é possível ver as marcas das agressões. Trabalhando como ambulante desde a adolescência, ele desabafou sobre a violência das ações de fiscalização e lamentou a dificuldade para a regularização do seu trabalho.
"A coisa que mais complica é a covardia do trabalho desses caras, porque com tanta irregularidade numa cidade dessa, eles só sabem ver a irregularidade do trabalhador camelô. Eu trabalho na rua desde os meus 16, 17 anos, já fui lá na prefeitura diversas vezes atrás de uma licença para eu trabalhar na paz, trabalhar legal, sem essas covardias. Quando chega lá, eles não dão a mínima para você, ficam te jogando igual uma peteca. Quando você vê eles (agentes da prefeitura), você corre para 'sair fora', para salvar sua mercadoria, e eles vão atrás de você como se estivesse roubado, fazendo algo sinistro. É uma covardia fora do normal".
Na última semana, o Movimento Unido dos Camelôs e o Movimento dos Trabalhadores Sem Direitos foram recebidos pelo ministro dos Direitos Humanos e da Cidadania, Silvio Almeida, em Brasília. Na reunião, foram apresentadas as reivindicações da classe, além de denúncias sobre a criminalização dos trabalhadores e a violência sofrida por eles. Segundo Maria de Lourdes, coordenadora do Muca, a pasta deve realizar diligências no Rio para verificar os casos de violação dos direitos dos trabalhadores.
"A gente não vai tolerar esses trabalhadores sendo agredidos, então gente está aqui para condenar toda a agressão de todos os trabalhadores informais. O que me dói mais é que o prefeito não dá uma alternativa, se sentasse para conversar e falasse: 'gente, vamos organizar', a gente sabe que a cidade está desorganizada, a gente sabe que não pode ficar do jeito que está. A gente precisa que o prefeito converse com a gente e organize a cidade, não que fique espancando os trabalhadores na rua".
Nota da Seop
"A Secretaria de Ordem Pública informa que os agentes realizavam operação de rotina para coibir a atuação de ambulantes ilegais na Zona Sul da cidade. No sábado, dia 20, a equipe abordou um ambulante que vendia ilegalmente milho verde na orla. Como mostra no vídeo, ele portava uma faca em uma das mãos e passou a ameaçar os agentes, caso algum deles se aproximasse para reter a mercadoria ilegal. As imagens mostram o agente dando uma pancada na mão do ambulante para ele soltar a faca, pois durante a ação de fiscalização, o ambulante irregular resistiu em entregar a carrocinha de milho verde e começou a atacar a equipe. Um dos agentes da SEOP foi ferido no dedo, sendo preciso levar ponto para fechar o corte na Unidade de Pronto Atendimento. Logo depois recebeu alta. O ambulante irregular foi detido e conduzido a 12a DP. Muitas vezes, durante a abordagem, os ambulantes resistem à ação dos agentes, atacam as equipes e é necessário o uso diferenciado da força. A SEOP ressalta que analisa e avalia os casos de excesso cometidos pelos agentes durante as abordagens."