Refugiados temem fechamento do Centro de Referência e Atendimento para Imigrantes (CRAI-RIO)Pedro Ivo / Agência O Dia
Refugiados ouvidos pelo DIA disseram que não foram informados sobre o que acontecerá com o centro. Desde sua inauguração, já era sabido que o Instituto Core Brasil (Community Organized Relief Effort) apoiaria o espaço por seis meses, prazo que se encerra no próximo dia 30, e que depois a prefeitura daria continuidade à instituição.
No entanto, o alojamento, que abrigava 20 refugiados, foi fechado e os abrigados terminaram de desocupar o centro na manhã desta quarta-feira (28). Uma equipe do jornal O DIA esteve no local e encontrou as portas fechadas, mas na sequência um funcionário abriu o centro que estava com cerca de três pessoas. O alojamento feminino estava com as camas vazias.
"Esse Crai saiu como uma solução para os migrantes depois da morte de Moïse Kabagambe. A criação foi um desejo nosso. É uma luta da gente. Tem muitos imigrantes que chegam sem saber acessar o serviço público", disse um imigrante que prefere não ser identificado.
O centro de assistência conta com doze funcionários, nove deles imigrantes. Os refugiados temem pelo desemprego dos colegas. As vinte vagas do abrigo eram ocupadas por famílias e pessoas sozinhas, entre elas venezuelanos, haitianos, angolanos, colombianos e um ucraniano. O Crai oferece conexão, computador, assistência social, aula de português e de informática.
"A importância é de que virou um local de excelência legal. Não existe abrigo para refugiados aqui. Desocuparam tudo. Levaram as pessoas. Não tem ninguém. A última pessoa saiu hoje de manhã [quarta,28]", disse um refugiado.
"O centro é um espaço, que como o nome diz, é nosso. Absurda a decisão da prefeitura que deixa todo mundo boladão e triste. A prefeitura disse que iria dar continuidade ao projeto. O Crai foi aberto, estava ajudando bastante. A gente até queria um CRAI melhor. A prefeitura se comprometeu a dar continuidade, mas nunca dizia de qual forma. Achamos falta de respeito tirar as pessoas do abrigo e jogar em outro lugar", afirmou outro refugiado.
Os migrantes falam da importância de que o atendimento no CRAI seja feito por outros imigrantes. "É o único espaço que a gente tem. É importante a experiência para ajudá-los. Colocar os imigrantes em um abrigo comum, piora a condição de vida. Se a prefeitura queria fazer uma transição de administração, deveria publicar uma nota dizendo", completou.
Os refugiados denunciam que não sabem o futuro do Crai a partir de 1º de julho, quando acaba o contrato com o instituto Core Brasil. "Como imigrante a gente pode falar também. A gente acredita na palavra da prefeitura. A nossa preocupação e desejo é de ser considerado, respeitado e valorizado. O refugiado merece uma vida digna. Essa casa precisa viver pra sempre porque a gente tem só essa. Precisamos de um espaço nosso para se desenvolver", acrescentou outro imigrante.
A Secretaria Municipal de Cidadania, responsável pelo Crai, afirmou que o centro não irá fechar. O acordo de cooperação com a Instituição CORE finda em 30 de junho e os servidores da Secretaria de Cidadania farão a gestão do equipamento, com apoio logístico da Organização Internacional para as Migrações (OIM) e voluntários na gestão de transição, enquanto se finaliza o chamamento público já em andamento.
Segundo a pasta, o processo tem um prazo aproximado de 30 dias para finalizar, a partir do dia 3 de julho. A instituição vencedora do certame assumirá a gestão do Crai.
No entanto, a pasta reconheceu que o número de funcionários será reduzido, pois a Secid fará a gestão. O acolhimento também irá se encerrar. Após contato do Subsecretário de Cidadania, Leandro Pereira com o Subsecretário de Proteção Básica, os imigrantes e refugiados que estavam no Crai Rio foram remanejados para abrigos da Secretaria de Assistência Social.
Inaugurado em 7 de janeiro deste ano, o Crai tem três principais eixos de atuação: assistência social, educação e desenvolvimento econômico. O local conta com assistência jurídica para processos de regularização migratória e obtenção de documentação; atendimento para reduzir a vulnerabilidade, incentivando a integração social por meio de aulas de português como língua estrangeira; e contava com acolhimento com o oferecimento de dormitórios emergenciais.
O Instituto CORE Brasil, organização de ação humanitária que executa ações emergenciais de curto prazo, foi responsável por implementar o Centro de Referência e Atendimento a Imigrantes no Rio. Após seis meses, a Prefeitura do Rio vai assumir integralmente o projeto e a gestão do Crai.
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