Refugiados temem fechamento do Centro de Referência e Atendimento para Imigrantes (CRAI-RIO)Pedro Ivo / Agência O Dia

Rio - A criação do Centro de Referência e Atendimento para Imigrantes (Crai-RIO), no prédio do Mercado Popular Leonel de Moura Brizola, na Gamboa, Região Portuária do Rio, foi amplamente divulgada pela Prefeitura do Rio em janeiro deste ano. No entanto, passado apenas seis meses da inauguração, representantes da comunidade de imigrantes, refugiados e apátridas se dizem inseguros e desrespeitados.

Refugiados ouvidos pelo DIA disseram que não foram informados sobre o que acontecerá com o centro. Desde sua inauguração, já era sabido que o Instituto Core Brasil (Community Organized Relief Effort) apoiaria o espaço por seis meses, prazo que se encerra no próximo dia 30, e que depois a prefeitura daria continuidade à instituição.


No entanto, o alojamento, que abrigava 20 refugiados, foi fechado e os abrigados terminaram de desocupar o centro na manhã desta quarta-feira (28). Uma equipe do jornal O DIA esteve no local e encontrou as portas fechadas, mas na sequência um funcionário abriu o centro que estava com cerca de três pessoas. O alojamento feminino estava com as camas vazias.

"Esse Crai saiu como uma solução para os migrantes depois da morte de Moïse Kabagambe. A criação foi um desejo nosso. É uma luta da gente. Tem muitos imigrantes que chegam sem saber acessar o serviço público", disse um imigrante que prefere não ser identificado.

O centro de assistência conta com doze funcionários, nove deles imigrantes. Os refugiados temem pelo desemprego dos colegas. As vinte vagas do abrigo eram ocupadas por famílias e pessoas sozinhas, entre elas venezuelanos, haitianos, angolanos, colombianos e um ucraniano. O Crai oferece conexão, computador, assistência social, aula de português e de informática.

"A importância é de que virou um local de excelência legal. Não existe abrigo para refugiados aqui. Desocuparam tudo. Levaram as pessoas. Não tem ninguém. A última pessoa saiu hoje de manhã [quarta,28]", disse um refugiado.

"O centro é um espaço, que como o nome diz, é nosso. Absurda a decisão da prefeitura que deixa todo mundo boladão e triste. A prefeitura disse que iria dar continuidade ao projeto. O Crai foi aberto, estava ajudando bastante. A gente até queria um CRAI melhor. A prefeitura se comprometeu a dar continuidade, mas nunca dizia de qual forma. Achamos falta de respeito tirar as pessoas do abrigo e jogar em outro lugar", afirmou outro refugiado.

Os migrantes falam da importância de que o atendimento no CRAI seja feito por outros imigrantes. "É o único espaço que a gente tem. É importante a experiência para ajudá-los. Colocar os imigrantes em um abrigo comum, piora a condição de vida. Se a prefeitura queria fazer uma transição de administração, deveria publicar uma nota dizendo", completou.

Os refugiados denunciam que não sabem o futuro do Crai a partir de 1º de julho, quando acaba o contrato com o instituto Core Brasil. "Como imigrante a gente pode falar também. A gente acredita na palavra da prefeitura. A nossa preocupação e desejo é de ser considerado, respeitado e valorizado. O refugiado merece uma vida digna. Essa casa precisa viver pra sempre porque a gente tem só essa. Precisamos de um espaço nosso para se desenvolver", acrescentou outro imigrante.

A Secretaria Municipal de Cidadania, responsável pelo Crai, afirmou que o centro não irá fechar. O acordo de cooperação com a Instituição CORE finda em 30 de junho e os servidores da Secretaria de Cidadania farão a gestão do equipamento, com apoio logístico da Organização Internacional para as Migrações (OIM) e voluntários na gestão de transição, enquanto se finaliza o chamamento público já em andamento.

Segundo a pasta, o processo tem um prazo aproximado de 30 dias para finalizar, a partir do dia 3 de julho. A instituição vencedora do certame assumirá a gestão do Crai.

No entanto, a pasta reconheceu que o número de funcionários será reduzido, pois a Secid fará a gestão. O acolhimento também irá se encerrar. Após contato do Subsecretário de Cidadania, Leandro Pereira com o Subsecretário de Proteção Básica, os imigrantes e refugiados que estavam no Crai Rio foram remanejados para abrigos da Secretaria de Assistência Social.

Inaugurado em 7 de janeiro deste ano, o Crai tem três principais eixos de atuação: assistência social, educação e desenvolvimento econômico. O local conta com assistência jurídica para processos de regularização migratória e obtenção de documentação; atendimento para reduzir a vulnerabilidade, incentivando a integração social por meio de aulas de português como língua estrangeira; e contava com acolhimento com o oferecimento de dormitórios emergenciais.

O Instituto CORE Brasil, organização de ação humanitária que executa ações emergenciais de curto prazo, foi responsável por implementar o Centro de Referência e Atendimento a Imigrantes no Rio. Após seis meses, a Prefeitura do Rio vai assumir integralmente o projeto e a gestão do Crai.