Marcelo Freixo e Maria Ribeiroreprodução

Rio - A Polícia Civil indiciou, nesta segunda-feira (10), a médica Eliana Jimenez Dias pelos crimes de homicídio por dolo eventual e fraude processual pela morte da cozinheira Ingrid Ramos Ferreira, de 41 anos, no dia 15 de junho, durante uma cirurgia realizada em uma clínica na Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio.
No inquérito, a investigação entendeu que a médica ocultou provas do crime e tem o risco de deixar o país devido ao seu registro de dupla nacionalidade. Levando em consideração o apurado, a 16ª DP (Barra da Tijuca), responsável pelo caso, solicitou a prisão de Eliana ao Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (MPRJ).
Ingrid morreu no dia 15 de junho depois de ir até até o consultório de Eliana, localizado na Avenida Olegário Maciel, para realizar uma reparação de uma cirurgia de abdominoplastia feita no ano passado através de uma lipoaspiração. No entanto, de acordo com as investigações, o procedimento não poderia ser realizado na sala comercial, apenas em ambiente hospitalar. Assim, a médica assumiu o risco de morte da paciente, sem possibilidade de defesa da vítima.
"Ela foi indiciada pelo homicídio doloso, ou dolo eventual, uma vez que ela assumiu o risco de que o evento morte se produzisse, como de fato se produziu pois veio a acontecer a morte da paciente uma vez que ela estava fazendo uma cirurgia de alta complexidade, uma cirurgia invasiva, uma lipoaspiração dentro de uma sala comercial. Ela como cirurgiã plástica sabe muito bem que não poderia fazer isso. Esse tipo de procedimento tem que ser feito em um local próprio como um centro cirúrgico. Agindo dessa forma, ela assumiu o risco de resultado morte", disse o delegado Ângelo Lages.
De acordo com o titular da 16ª DP, o indiciamento por fraude processual aconteceu depois que a investigação identificou que Eliana escondeu o material cirúrgico utilizado para fazer o procedimento em Ingrid, mudando a cena do crime.
"Em relação à fraude processual, foi por conta das câmeras e as imagens que a gente conseguiu dela escondendo todo o material cirúrgico que ela utilizou para fazer o procedimento inovando artificiosamente a cena do crime", completou.
Clínica não tinha licença para funcionar
O estabelecimento na Avenida Olegário Maciel passou por uma perícia da Polícia Civil ainda no mês de junho e acabou interditado pelo Instituto Municipal de Vigilância Sanitária (Ivisa), após uma série de irregularidades encontradas.
Além da falta de licença da Vigilância Sanitária, também foram encontrados medicamentos fora da validade e materiais para cirurgias, que não poderiam ser usados, já que o estabelecimento não tem autorização para realizar procedimentos cirúrgicos. O Ivisa também encontrou tubos de coleta de sangue vencidos; próteses mamárias com indício de reutilização; e autoclave sem o correto fluxo para a esterilização.
De acordo com o Instituto Municipal de Vigilância Sanitária, o local já havia sido multado por falta de licenciamento no ano passado. 
Depoimento da médica
Durante as investigações, Eliana Jimenez relatou aos policiais que o procedimento realizado na cozinheira era para a retirada de uma queloide na região do abdômen e que não precisava ser realizado em um centro cirúrgico.
A médica contou que utilizou 15 miligramas da substância Dormonid Maleato de Midazolam - usado para o tratamento de curta duração da insônia -, e uma solução anestésica com lidocaína e um pouco de adrenalina. Logo depois da aplicação da anestesia, Ingrid teve uma convulsão, que durou entre três e quatro minutos.
Ainda segundo a oitiva, Eliana precisou desobstruir as vias aéreas da paciente, mas ela passou a espumar pela boca e contrair o corpo. A médica chegou a perguntar para o filho da vítima, que a acompanhava, se a mãe tinha intolerância a alguma substância usada e pediu que outros pacientes acionassem o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu). Pouco depois, Ingrid começou a perder pulsação e a cirurgiã fez manobras de ressuscitação, que também foram realizadas pelo médicos do Samu, mas eles não conseguiram reverter o quadro e a mulher acabou morrendo.
O Conselho Regional de Medicina do Rio de Janeiro (Cremerj) abriu uma sindicância para apurar o caso.