Rio - O ex-policial militar Ronnie Lessa teria utilizado uma arma extraviada do Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope) para matar Marielle Franco e Anderson Gomes, segundo a delação premiada do ex-PM Élcio de Queiroz à Polícia Federal (PF) e ao Ministério Publico do Rio de Janeiro (MPRJ). Queiroz e Lessa estão preso desde de 2019 por envolvimento na morte da vereadora e de seu motorista em 2018.
De acordo com a delação, a qual o DIA teve acesso, a arma, uma submetralhadora MP5, era oriunda de um extravio o ocorrido muitos anos antes do crime. Na ocasião, a arma foi retirada da unidade do Bope durante um incêndio que atingiu o local. Ela teria ficado com uma pessoa que a reformou e vendeu para Ronnie um ano antes do crime.
Ainda segundo o relato de Élcio, a submetralhadora teria um grande valor sentimental para Ronnie, pois seria uma arma com a qual trabalhou durante seu período de serviço no batalhão.
Crime teve uma tentativa frustrada
Na mesma delação, Queiroz revelou que que a vereadora sofreu uma tentativa frustrada de assassinato no final de 2017. Segundo o documento, Ronnie Lessa, responsável pelos disparos, estava planejando o crime desde o segundo semestre de 2017. Durante a virada para o ano de 2018, a qual passaram juntos, Lessa teria falado para o amigo que tentou matar Marielle semanas antes, mas o plano foi frustrado.
Na ocasião, a ex-vereadora estava em um táxi no Estácio, região central do Rio, quando Lessa e o ex-bombeiro Maxwell Simões Corrêa, o Suel, que dirigia o veículo, se aproximaram, mas não conseguiram realizar o assassinato. Suel teria alegado problemas mecânicos no carro em que estavam no momento da aproximação.
Em 2021, Suel foi condenado por obstruir as investigações das mortes da vereadora e do motorista. No entanto, na sentença proferida pela 19ª Vara Criminal, ele foi autorizado a cumprir a pena em regime aberto, com prestação de serviços à comunidade. Segundo a denúncia do Ministério Público do Rio (MPRJ), o ex-bombeiro foi alvo de mandado de prisão "por atrapalhar de maneira deliberada" as investigações.
O ex-sargento já foi alvo de pelo menos três operações do MPRJ. Em março de 2019, durante a Operação Lume, agentes da Polícia Civil e do MPRJ foram até a casa do bombeiro, em um condomínio de luxo, no Recreio dos Bandeirantes, e apreenderam documentos que pudessem ter ligação com a morte de Marielle Franco. Suel foi levado para a Delegacia de Homicídios da Capital (DHC), mas não chegou a ser preso.
Em junho de 2020, o militar foi alvo da Operação Submersus 2, que investigou o sumiço de armas do policial militar reformado Ronnie Lessa. Maxwell foi localizado no mesmo endereço e preso, suspeito de ter participado do sumiço das armas que podem ter sido usadas na morte da parlamentar.
De acordo com as investigações, no dia 13 de março de 2019, um dia após as prisões dos ex-policiais Ronnie Lessa e Élcio de Queiroz, denunciados como autores dos crimes, Maxwell, junto com Elaine Pereira Figueiredo Lessa, esposa de Ronnie, Bruno Pereira Figueiredo, cunhado de Ronnie, José Marcio Mantovano e Josinaldo Lucas Freitas, presos durante a Operação Submersus, ajudou a ocultar armas de fogo de uso restrito e acessórios pertencentes a Ronnie, que estavam armazenados em um apartamento no bairro do Pechincha utilizado pelo ex-policial, bem como em locais ainda desconhecidos.
O papel de Maxwell para obstruir as investigações foi ceder o veículo utilizado para guardar o vasto arsenal bélico pertencente a Ronnie, entre os dias 13 e 14 de março de 2019, para que o armamento fosse, posteriormente, descartado em alto mar.
Relembre o caso
Os assassinatos de Marielle e Anderson completaram cinco anos em 2023 sem respostas sobre o mandante do crime. Os dois foram mortos no dia 14 de março de 2018. Em fevereiro desse ano, o ministro da Justiça, Flávio Dino, determinou que a PF abrisse um inquérito paralelo para auxiliar as autoridades fluminenses.
Nas investigações da Polícia Civil, o avanço mais consistente no caso aconteceu em março de 2019, quando Élcio de Queiroz e Ronnie Lessa foram presos no Rio de Janeiro. O primeiro é acusado de ter atirado em Marielle e Anderson, o segundo, de dirigir o carro usado no assassinato. Quatro anos depois, eles continuam presos, mas não foram julgados. Os dois estão em penitenciárias federais de segurança máxima.
Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor.