Sandra ficou muito machucadaReprodução

Rio - A médica Sandra Lúcia Bouyer Rodrigues, plantonista agredida por um homem e a filha no Hospital Municipal Francisco da Silva Telles, em Irajá, na Zona Norte, no último dia 16, voltou a trabalhar neste final de semana.
Duas semanas depois de ter sido espancada, a médica contou ao 'Bom Dia Rio', da TV Globo, que está trabalhando mesmo ainda sentindo as dores causadas pelas agressões.
"Eu tenho uma dor muito grande na base da coluna, onde foi acertado o chute. É uma área que tem muitas terminações nervosas, então tenho muita dificuldade para me sentar, me levantar, me movimentar de forma rápida. Tenho que andar parecendo que está puxando a perna um pouco", disse.
O laudo do exame de corpo de delito da Polícia Civil apontou que a médica sofreu cinco lesões em diferentes regiões do corpo, sendo identificadas no tórax; na coxa esquerda; nos antebraços esquerdo e direito; na boca; e na orelha direita. Em um desabafo sobre o episódio em suas redes sociais, a médica afirmou que prestava atendimento para mais de 60 pacientes internados, sem o suporte de nenhum segurança e se descreveu como "vítima da precariedade e insegurança".
Sandra foi agredida por André Luiz do Nascimento Soares e Samara Kiffini do Nascimento Soares, pai e filha, que tiveram suas prisões em flagrante convertidas para preventiva pelo Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro (TJRJ).
Idosa morreu em meio à confusão
No mesmo dia em que Sandra foi espancada, a idosa Arlene Marques da Silva, de 82 anos, morreu após ficar sem atendimento médico. Segundo a família, ela teria morrido por conta do susto que sofreu. "Tenho certeza que morreu pelo susto, porque ela já estava se recuperando", disse Elaine Marques 52 anos, filha da vítima, no dia da liberação do corpo da mãe.
Elaine relatou acreditar que a mãe levou um susto muito grande com a confusão e por isso não resistiu. "Isso não justifica, por causa de um cortezinho no dedo tirar a vida de uma pessoa que estava na sala vermelha. Eu fui lá na hora da visita, mas por falta de segurança, aconteceu o que aconteceu. Disseram que ele (André Luiz) simulou que estava armado mas na verdade estava com uma pedra", contou.
Ainda de acordo com Elaine, Arlene já estava se recuperando após um infarto e provavelmente iria receber alta na próxima semana. "Ela já estava almoçando, jantando, eu ia lá cuidar dela, mas não podia dormir, então eu vinha para casa, mas ela já estava bem, não estava tão ruim assim. A médica falou que talvez já ia dar alta para ela semana que vem, ela estava lá há duas semanas", contou.
Sandra contou que se sentiu "impotente e frustrada" com a morte da idosa e que passou a temer pela sua segurança e de seus colegas. ""Não existe nenhum tipo de respeito com o profissional de saúde. Na segunda-feira depois da confusão (17), outros pacientes chegaram a ameaçar: 'Tá vendo? Não demora não porque vocês vão apanhar'".
Soranz aumenta policiamento em unidades de saúde
Nove unidades de urgência e emergência do município do Rio de Janeiro passaram a contar com guardas municipais de plantão 24 horas. A medida foi implementada no último dia 21 de julho, cinco dias depois que a médica foi agredida.
Os hospitais municipais Souza Aguiar, Miguel Couto, Salgado Filho, Lourenço Jorge, Albert Schweitzer, Rocha Faria, Pedro II, Francisco da Silva Telles e Evandro Freire foram contemplados com a nova medida.
Segundo a Secretaria Municipal de Saúde, a pasta também entrou em contato com a Polícia Militar na última semana solicitando o retorno da presença de um PM em cada unidade hospitalar para cuidar da segurança pública.
Relembre o caso
Na madrugada do último dia 16 de julho, André Luiz e Samara Kiffini, pai e filha, foram presos em flagrante por homicídio doloso com dolo eventual após agredirem a médica plantonista e depredarem o hospital.
Os dois também vão responder por dano ao patrimônio público e desacato.
Na ocasião, André Luiz chegou ao hospital com um corte no dedo da mão, sem gravidade. O homem estava acompanhado da filha, que estava com uma criança no colo. Funcionários da unidade pediram que ele aguardasse porque outros pacientes mais graves estavam sendo atendidos.
Insatisfeitos com a demora, os dois quebraram vidros de portas e janelas do hospital e André agrediu com um soco a única médica que estava de plantão. A mulher teve um corte na parte interna da boca e precisou receber cinco pontos.
A paciente, que estava em estado gravíssimo, e precisava ser monitorada, acabou ficando sem acompanhamento e morreu.
André, que dizia estar armado, e Samara também invadiram a sala vermelha, onde ficam os pacientes com quadros de saúde mais graves.