VALE ESTE VALE ESTEARTE

Rio - O garçom Marlon Correia dos Santos, de 35 anos, foi sepultado, na tarde desta quarta-feira (9), no Cemitério de Ricardo de Albuquerque, Zona Norte do Rio. O homem morreu depois de ser baleado durante o ataque contra o ex-vereador Zico Bacana, em Guadalupe, na segunda-feira (7).
Familiares e amigos acompanharam o velório muito emocionados. Marlon cuidava de um irmão mais novo que era especial e considerado por ele como um filho. Segundo um amigo do garçom, identificado apenas como Alexander, a família do homem sentiu demais a perda.
"Quando aconteceu com a mãe, o Magninho [irmão do Marlon] ficou bem agitado e abalado. O Marlon falava que não podia ter filho porque o filho dele era o irmão. O pai dele já é de idade e ele precisava se cuidar para poder cuidar do irmão, que é a nossa maior preocupação agora. O Marlon era um cara totalmente puro. Aquele cara do bem que era amigo de todo mundo. As pessoas, que costumamos falar da terceira idade, todo mundo ama o Marlon. Hoje aqui, se você olhar, você vai ver as pessoas bem mais velhas porque ele parava para conversar. Ele tinha esse relacionamento", disse.
Marlon passava na esquina das ruas Eneas Martins e Francisco Portela quando foi baleado no pé e nas costas por criminosos armados que realizaram um atentado contra o ex-vereador, que estava em uma padaria. Alexander explicou que a família e os amigos do garçom pediam para ele não ficar ali, onde costumava tomar cerveja, porque a região estava ficando perigosa.
"Infelizmente, a gente mora em um lugar que está abandonado. O tráfico está avançando e, realmente, as outras duas pessoas que morreram até que, de certa forma, impediam isso. Mas naquele lugar ali não dava mais para ficar. Ele gostava de parar ali para tomar a cervejinha dele. Nós, amigos e familiares, sempre falamos para ele não fazer mais porque ali realmente era uma tragédia anunciada. Infelizmente aconteceu e o Marlon foi uma vítima disso. Está todo mundo muito abalado porque era um homem que não merecia. Se tem alguém que a gente desde pequeno nunca imaginou de acontecer algo desse tipo era com o Marlon. A família e os amigos estão muito abalados pela forma que aconteceu. Igual bicho, caído na rua, não era a coisa que ele merecia", disse o amigo. 
O garçom chegou a ser socorrido e encaminhado ao Hospital Municipal Albert Schweitzer, em Realengo, Zona Oeste do Rio, mas não resistiu aos ferimentos. Alexander complementou que Marlon lutou pela vida e não tinha nenhum envolvimento com o Zico Bacana nem com algo ilícito. 
"Ele lutou pela vida na mesa de operação e não resistiu. Nós precisamos lutar pela integridade dele. Falar e exaltar o bom amigo que ele sempre foi. Os nossos filhos estão sofrendo muito porque ele era aquele que, por mais que nós não fossemos irmãos de sangue, a gente assim se considerava, ele tinha uma paciência, uma saúde, uma disposição para brincar com os nossos filhos que a gente não sabe como vai ser daqui para a frente com a falta do Marlon. A gente não pode deixar que o nome dele se enterre assim. Como um bandido, um miliciano não porque o Marlon não foi isso", completou.
Enterro de Zico Bacana
O ex-vereador Jair Barbosa Tavares, o Zico Bacana e seu irmão, Jorge Barbosa Tavares, foram sepultados na manhã desta quarta-feira (9) no Cemitério de Irajá, na Zona Norte do Rio. Ambos estavam na padaria quando foram mortos pelos criminosos.
Zico estava sentado no estabelecimento, acompanhado de seu irmão, quando os suspeitos chegaram em um veículo e atiraram em sua direção. O ex-vereador foi baleado na cabeça e levado por populares para o Hospital Municipal Albert Schweitzer, em Realengo, Zona Oeste, mas não resistiu aos ferimentos e morreu.
A família do ex-vereador pediu que a Polícia Militar fizesse a segurança do velório, pois temiam um novo ataque. A cerimônia ocorreu em uma capela ao lado do cemitério, onde uma viatura ficou parada até o final do sepultamento. Antes do enterro, familiares e amigos, portando bandeiras de campanha de Zico, fizeram um protesto por justiça pela vida dos irmãos. Aos gritos, eles pediam para que a polícia encontrasse quem cometeu o crime.
Segundo Joyce Tavares, sobrinha de Zico e filha de Jorge Tavares, o ataque foi realizado por traficantes da região, que estariam ameaçando a família e o tio há meses. Em uma dessas ameaças, em março deste ano, ela, o marido e as duas filhas foram expulsos de casa por criminosos.
“Tenho certeza que foi o tráfico de drogas. Eles fizeram baile ontem [segunda], tocaram músicas altas, soltaram fogos. Eles comemoraram. Eles são lá de trás, do gogó [os traficantes que atuam na região], todo mundo sabe, só que tem medo. Agora como vão ficar meus parentes lá? Eu tenho os tios, tenho os primos, primas, está todo mundo com medo, todo mundo silenciado”, comentou.
As mortes de Zico, Jorge e Marlon estão sendo investigadas pela Delegacia de Homicídios da Capital (DHC). De acordo com a Polícia Civil, os agentes da especializada seguem realizando diligências para apurar a autoria e a motivação do crime.
*Com colaboração de Bruno Kaiuca