Disparo fatal que acertou a menina entrou pela janela do quarto Arquivo Pessoal

Rio - O tiro que acertou a menina Eloah Passos, cinco anos, entrou pela janela do quarto onde estava e deixou a coberta da cama cheia de sangue. A criança morreu depois de ser atingida por uma bala perdida durante ação policial, na manhã deste sábado (12), na Ilha do Governador, Zona Norte do Rio.
A criança foi baleada no momento em que brincava no quarto. Feita por familiares, a gravação mostra uma coberta ensanguentada e a janela perfurada pelo disparo.
Tio da vítima, Michael Abe, 43, contou ao DIA que não havia troca de tiros no momento em que a sobrinha foi ferida. A família afirma que o disparo partiu de policiais militares que atuaram na região.
"Não teve troca de tiros, não teve operação e não teve confronto. Teve foi uma polícia despreparada. O tiro nunca ia vir de cima como estão falando. Tá difícil, da forma que foi... Ela tinha cinco anos", disse.
Eloah chegou a ser levada por um mototáxi e por uma vizinha ao Hospital Municipal Evandro Freire, no sub-bairro Portuguesa, na Ilha, mas não resistiu aos ferimentos. Na porta do hospital, Indiane Passos, prima da vítima, deu detalhes da tragédia.
"Meu irmão me ligou por volta das 7h, desesperado, dizendo que ela tinha tomado um tiro. Ela estava na cama pulando e brincando. Ontem [sexta-feira] foi 'mêsversário' da irmã dela. Ela só queria brincar e comer os doces, mais nada. A mãe escutou o tiro, que entrou pela janela, e, quando foi ver, ela estava com um buraco no peito. Não tinha mais o que fazer", disse a prima, emocionada.
De acordo com a Polícia Militar, o comando do 17° BPM (Ilha do Governador) foi informado sobre a criança baleada no interior do Morro do Dendê e que foi socorrida por familiares. A corporação destacou que não havia operação no interior da comunidade e que instaurou um procedimento apuratório sobre o caso.
Até a noite deste sábado (12), o corpo de Eloah continuava no Instituto Médico Legal (IML) Afrânio Peixoto, no Centro do Rio, aguardando liberação. Ainda não há informações sobre o sepultamento dela.
Morte de adolescente
A morte de Eloah aconteceu após momentos de tensão nas proximidades do Morro do Dendê depois de um adolescente, 17 anos, também morrer baleado. 
Segundo a PM, uma equipe do 17º BPM teve a atenção voltada para dois homens em uma moto, na Rua Paranapuã. A corporação afirmou que o ocupante da moto, que seria o adolescente W. E., estava com uma pistola e atirou contra os policiais, gerando um confronto.
O jovem, tratado como suspeito pelos agentes, foi socorrido e encaminhado ao Hospital Municipal Evandro Freire, onde morreu. Já o homem que conduzia a moto foi levado à 37ª DP (Ilha do Governador) para prestar esclarecimentos.
Contudo, segundo testemunhas, o menino não estava armado. O rapaz teria levantado os braços perto dos agentes, que teriam atirado contra ele. "Passei no local quando mataram o rapaz lá na moto. Tinha uma mulher no ponto de ônibus. Eles chegaram atirando e mataram o rapaz. Eu ainda tinha comentado com minha esposa que eles falaram que o menino estava armado, mas não estava armado na hora que eu passei. Estava limpo. Se falarem, é só para incriminar ele", afirmou um homem, que não quis se identificar.
A morte teria provocado a revolta de moradores do Dendê, que desceram a comunidade para um protesto. Dois ônibus foram incendiados na região. Também não há informações sobre o seu sepultamento. 
Devido a morte da menina e do adolescente, o comandante do 17º BPM, tenente-coronel Fábio Batista Cardoso, foi afastado da administração da unidade. A corporação explicou que a decisão foi tomada para "dar uma maior lisura e transparência à averiguação dos fatos referentes às ações ocorridas na manhã deste sábado (12), na Ilha do Governador, Zona Norte da cidade".
Os casos são investigados pela Delegacia de Homicídios da Capital (DHC). Os pais de Eloá já prestaram depoimentos na especializada e a investigação segue em andamento.