Corpo de Léa Garcia é velado no Theatro MunicipalBruno Kaiuca / Agência O Dia

Rio - O corpo da atriz Léa Garcia foi velado, na manhã deste sábado (19), no Theatro Municipal, na Cinelândia. A artista, considerada uma das primeiras atrizes negras da televisão brasileira, morreu aos 90 anos vítima de uma infarto agudo do miocárdio, em Gramado. A cerimônia, que foi aberta ao público, teve início às 10h e seguiu até às 13h.
Familiares, amigos e fãs estiveram presentes na cerimônia, que lotou o Theatro Municipal. A atriz foi muito aplaudida e a emoção tomou conta dos que estavam presentes.
Em entrevista ao 'RJ TV', da TV Globo, Marcelo Garcia, filho de Léa, agradeceu aos que estiveram presentes no velório e revelou que a atriz não estava se sentindo bem antes de viajar para Gramado: "Dona Léa antes de partir para Gramado me disse uma frase. Ela estava sentindo um mal-estar e eu disse: 'Mãe, vamos acabar isso aqui agora, eu ligo para lá e você não recebe o prêmio, eu vou lá e recebo'. Ela disse: 'Marcelo, eu não sou uma dona de casa, sou uma mulher de palco. Se eu tiver que falecer eu faleço em Gramado, mas recebo esse prêmio'".
"O que eu posso passar para vocês e para as pessoas que estão iniciando são palavras que ela falava em todas as entrevistas: não desistam e tenham amor a esta arte. Ela morreu no glamour", finalizou.
O ator Déo Garcez fez questão de prestar suas homenagens à Léa e relembrou a importância da atriz para a cultura brasileira: "A Léa foi uma pioneira, uma mulher negra, uma cidadã que lutou tanto na vida pela igualdade de condições especialmente para nós, atores e atrizes negros deste país. Ela é resistência e deixa um legado imenso exatamente por fazer parte deste pioneirismo com toda a sua luta e talento. Com brilhantismo ela exerceu esta profissão de artista negra no Brasil".
"A gente sabe que é um país preconceituoso e ela abriu portas para todos nós. Trabalhamos juntos e várias vezes estivemos juntos. Fomos amigos e recentemente estive com ela no lançamento de seu livro. Ela representa tudo isso para a gente. É um grande legado que deixa, uma referência, uma inspiração de artista e de pessoa negra da melhor qualidade", finalizou.
A partir das 14h, houve outra cerimônia restrita para familiares e amigos na capela do Cemitério São João Batista, na Zona Sul do Rio. O corpo de Léa foi sepultado às 15h30.
Léa Garcia seria homenageada no Festival de Gramado com o Troféu Oscarito, ao lado de Laura Cardoso, de 95 anos. Como não teve tempo de receber a premiação, seu filho, Marcelo Garcia, subiu no palco para representar a veterana.
Legado
Léa Lucas Garcia de Aguiar, mais conhecida como Léa Garcia, nasceu no Rio de Janeiro em 1933. Ela estreou nos palcos aos 19 anos depois que o amigo e dramaturgo Abdias do Nascimento a convenceu a participar da peça Rapsódia Negra, em 1952, no Teatro Experimental. A atriz e Abdias se casaram nos anos 50 e tiveram três filhos. O intelectual morreu em maio de 2011, aos 97 anos.
A artista estreou na televisão no Grande Teatro da TV Tupi, na década de 1950. Em 1969, participou de sua primeira novela, "Acorrentados", na Record. Em 1970, foi para a TV Globo onde interpretou a empregada Dalva na novela "Assim Na Terra Como no Céu". Em 1972, Léa participou do primeiro programa gravado totalmente em cores no Brasil. Tratava-se de um episódio do Caso Especial chamado "Meu Primeiro Baile".
Léa Garcia participou de sucessos da TV Globo como "Selva de Pedra", de Janete Claire, em 1972, e "Escrava Isaura", adaptação de Gilberto Braga para a obra de Bernardo Guimarães, em 1976. Nesta última, a artista fez sua primeira vilã. "'Escrava Isaura' é o meu cartão de visitas. Tive muitas dificuldades em fazer cenas de maldade com a Lucélia Santos. Eu me lembro de uma cena em que, quando a Rosa (personagem de Léa) acabou de fazer todas as perversidades com a Isaura, eu tive uma crise se choro, me pegou muito forte. Chorei muito, não com pena, mas porque me tocou", disse certa vez em entrevista à TV Globo.
A veterana também participou de obras como "Dona Beija", de Wilson Aguiar Filho, em 1986; "Tocaia grande", de Duca Rachid, que foi baseada na obra de Jorge Amado, em 1995; e "Xica da Silva", de 1996, escrita por Walcyr Carrasco. Todas as três obras na TV Manchete.
Em 2002, Léa Garcia participou de "O Clone", de Gloria Perez, na TV Globo. Ela também esteve em "A Lei e o Crime", em 2009, de Marcílio Moraes, na Record. Em 2018, participou da série do Globoplay "Assédio", escrita por Maria Camargo. Um de seus últimos trabalhos, "Vizinhos", vai estrear no Canal Brasil no dia 25 de agosto deste ano.
A atriz estava cotada para participar do remake de "Renascer", de Bruno Luperi, que tem previsão de estreia para depois de "Terra e Paixão", na TV Globo.