Marina do MSTDivulgação

Rio - Primeira deputada oriunda do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) da história do Rio de Janeiro, Marina do MST, de 49 anos, foi vítima de violência política no dia 12 de agosto, em Lumiar, pacato distrito de Nova Friburgo, onde fazia uma prestação de contas do seu mandato aos moradores de um dos municípios onde foi mais votada em 2022.
A violência gerou uma onda de solidariedade que envolveu até mesmo o presidente da Assembleia Legislativa, Rodrigo Bacellar, um de seus principais adversários políticos, que saiu em defesa do direito de Marina exercer livremente o seu mandato de deputada estadual. Neste domingo (27), Marina volta a Lumiar cercada de parlamentares federais, estaduais, além de vereadores de diversos municípios que saíram em defesa não só da deputada, mas do direito de livre expressão, fundamental para o exercício da democracia.
Em entrevista exclusiva ao DIA, Marina do MST lamentou o ocorrido há duas semanas e falou sobre a importância da defesa da democracia e, sobretudo, o combate às fake news. A deputada lembrou do que ocorreu com o jornal Meia Hora, que teve uma edição falsa, com notícias mentirosas, circulando pelo estado nesta semana. "O que aconteceu com o Meia Hora, que leio todo dia no gabinete, foi um atentado à democracia. Isso tem que parar de uma vez por todas. Fake news não é brincadeira. Bota a gente em risco, o país em risco. Vide o que aconteceu na pandemia", disse a deputada.
O que aconteceu exatamente em Lumiar, deputada?

Fui lá fazer a prestação de contas do meu mandato, como faço em todo lugar. Em Lumiar e região, não por acaso, foi onde tive uma das minhas maiores votações. Mas ainda que não tivesse. Não posso ir lá ouvir a população? Estamos numa democracia. Fui lá anunciar que duas cooperativas de agricultura familiar da região foram aprovadas no Programa de Aquisição de Alimentos do governo Lula. Ou seja, o governo vai comprar toda a produção daqueles pequenos produtores. Fui anunciar que o crédito rural ficou mais barato. Que o juro caiu para 4% ao ano para quem produz alimentos. Os juros para a compra de implementos agrícolas pela agricultura familiar caíram para 5% ao ano. Os agricultores familiares com foco em orgânicos ou agroecologia terão juros de apenas 3% ao ano no custeio. Fui mostrar o resultado do nosso trabalho.
E não deixaram a senhora falar?
Tentaram, através da violência motivada pela desinformação. Começaram a espalhar mentiras sobre a nossa visita, que o MST iria “invadir” terras em Friburgo. Mas em Friburgo, 96% das propriedades estão nas mãos de pequenos produtores, produzindo comida de verdade, como defende o MST. E os outros 4% não são latifúndios improdutivos. Ou seja, é uma mentira. Fomos a Lumiar mostrar nosso trabalho que mata a fome do povo. Políticos da região tentaram nos impedir de fazer esta prestação de contas, à base de ódio e violência. E outros motivados por essa onda de mentira e desinformação. Mas nós fizemos a nossa prestação de contas e ouvimos as demandas locais.

Mas o histórico do MST e suas invasões não pode ter ajudado a criar este clima ruim?
O histórico de desinformação. Ora, o MST não invade. O MST ocupa terras improdutivas para chamar a atenção do do governo para cumprir a Constituição, que não foi feita pelo MST. A lei determina que o governo compre estas terras, pague ao proprietário, e coloque famílias para produzir alimentos saudáveis para si e o povo brasileiro. E a família assentada não é dona da terra. A dona é o governo. E a terra passa a produzir para matar a fome das pessoas. Isso é o que diz a lei, não o MST. O MST só quer que se cumpra a lei. Esta é uma das informações que precisam ser divulgadas à exaustão, sob pena de acontecer este tipo de coisa que aconteceu.
O que é terra improdutiva para o MST?
Não é para o MST. É para a lei. Aqui no Rio, por exemplo, latifúndio é uma área equivalente a 1.500 Maracanãs. Não é o que tem em Lumiar, não é mesmo? E se houver algum terreno deste tamanho que não seja produtivo, que o proprietário não cumpra as leis trabalhistas ou que degrade o meio ambiente, ele deve, segundo a Constituição, ser destinado à reforma agrária. O que o MST faz é ocupar para dar visibilidade aquela terra improdutiva e mostrar ao governo: "ó, essa terra aqui, pela lei, tem que ser destinada à reforma agrária". É simples.
E como a senhora viu a manifestação inclusive de adversários em sua defesa?
Com muita esperança. A gente só melhora a vida do povo conversando com quem pensa diferente da gente. É uma das muitas lições que aprendi com o presidente Lula. A gente tem que deixar o ódio de lado e debater ideias em benefício da população. A gente foi eleito para atender o trabalhador. Recebi apoio de toda à Alerj, a começar pelo presidente Rodrigo Bacellar, de quem sou opositora. Temos divergências em praticamente tudo no que diz respeito à política, mas concordamos que política se faz com respeito às diferenças, às opiniões contrárias e ao direito de uma deputada eleita com quase 50 mil votos de exercer o seu mandato
Domingo a senhora, então, volta a Lumiar?
Com certeza. A violência gerou uma onda de solidariedade, capitaneada pelo deputado federal Glauber Braga, que é de Friburgo, pela vereadora Maiara Felício, a mais votada da cidade nas últimas eleições. E mais dezenas de deputados, artistas, agricultores, tudo em missão de paz. Vamos para espalhar verdade, solidariedade e mostrar que Lumiar é lugar de gente de bem e trabalhadora. E falar do meu compromisso com a luta pela melhoria das estradas vicinais de Nova Friburgo, que são centrais para o escoamento da produção, mas também para as nossas crianças irem à escola, para nossas famílias chegarem ao posto de saúde, à igreja. Vamos subir a serra para falar do pedido ao governador para a pavimentação da estrada João Heringer, trecho São Pedro da Serra-Vargem Alta, fruto do diálogo com a comunidade. Vou defender a importância das escolas rurais, e firmar meu compromisso na luta por investimentos e melhorias nas escolas do município. Além de renovar meu apoio aos projetos culturais, sociais e pedagógicos que existem na região.