Inea apontou que lançamento de composto químico no manancial de captação é crime ambientalPedro Ivo/Agência O Dia
Cedae deve retomar operação até o fim do dia, mas abastecimento será normalizado em até 72 horas
Inea apontou que lançamento de substância sulfactante no manancial do Guandu configura crime ambiental
Rio - A Companhia de Águas e Esgotos do Rio (Cedae) pretende voltar a captar água ainda nesta segunda-feira (28), após interromper a operação da Estação de Tratamento de Água (ETA) do Guandu, por conta da presença de uma espuma branca no manancial de captação da unidade. Apesar da retomada, o abastecimento dos oitos municípios atendidos pelo sistema só deve ser totalmente normalizado nas próximas 72 horas. Segundo a Cedae, a água que ainda chega nas casas da população está dentro dos padrões de potabilidade e é segura para consumo.
O diretor de saneamento e grande operação da Cedae, Daniel Okumura, explicou que a espuma com um forte odor foi detectada por volta das 4h, na barragem principal do ETA Guandu, e os técnicos identificaram que foi provocada pela presença de substância sulfactante no manancial de captação da unidade - composto químico presente em detergentes - acima dos valores previstos pela legislação, que é de 0,5 ml por litro. Um protocolo de contingência foi adotado, paralisando a operação às 5h30, e o Instituto Estadual do Ambiente (Inea) foi acionado.
"Um manancial para captação para tratamento convencional não deve possuir no seu corpo a espuma, então, isso já é um fator para a gente interromper a captação e realizar os procedimentos de contigência da estação, quais são: paralisar as elevatórias de água tratada e desacelerar todo o sistema de tratamento de água da estação. Feito isso, a gente informa, imediatamente, ao Inea, que é o órgão responsável por todo o monitoramento da bacia, avisa à agência reguladora e começou a tomar as ações de monitorar a qualidade da água desse manancial, de forma que a gente consiga retomar a produção de forma segura para o abastecimento da população", explicou o diretor, que ressaltou ainda que as condições da água serão monitoradas até que a concentração volte a normalidade.
"Nossa perspectiva é de que o abastecimento retorne até o final do dia, desde que a água esteja segura para a gente retomar o sistema. Para as pessoas que ficam mais ao extremo da rede de distribuição, pode demorar até 72 horas para restabelecer o abastecimento, quem conta com cisterna e caixa d'água não deve sofrer muito", disse Okumura. "A gente só vai voltar a captar água novamente quando a gente tiver a certeza de que esse componente químico na água não está mais presente ou que a sua concentração está dentro das normas de captação da água", completou o diretor-presidente da Companhia, Aguinaldo Ballon.
A paralisação afeta aproximadamente 11 milhões de pessoas em oito municípios da Região Metropolitana e Baixada Fluminense, sendo eles o Rio de Janeiro, Belford Roxo, Duque de Caxias, Itaguaí, Nilópolis, Nova Iguaçu, Queimados e São João de Meriti. Segundo o presidente do Inea, Philipe Campello, o programa Alga (Acompanhamento de Licenças do Guandu e Adjacências) de monitoramento e proteção da manancial do Rio Guandu foi acionado para identificar onde ocorreu o lançamento do sulfactante, se ele continua ou foi pontual. O órgão já descartou que os rios que desaguam no Guandu tenham sido atingidos.
Campello afirmou ainda que a descarga se trata de um crime ambiental e que, junto à Delegacia de Proteção ao Meio Ambiente (DPMA) da Polícia Civil e a Superintendência de Inteligência contra Crimes Ambientais (Sica), trabalham para identificar os responsáveis. "Esse lançamento é criminoso e pode ter vindo de plantas licenciadas, como pode ter sido feito por alguma operação difusa, ou seja, algum cidadão que, por ventura das chuvas ou outros fatores, resolveu descarregar um caminhão ou algum tipo de veículo com esse sulfactante que a gente está presenciando na água".
O presidente esclareceu também que mesmo que o lançamento tenha sido feito por um empresa licenciada, ainda configura crime ambiental por não ter sido comunicado ao Inea. "Quando ela (planta licenciada) tem alguma inconformidade ambiental, ela tem que avisar imediatamente ao órgão ambiental, para que ele tome as medidas. Então, a partir do momento que a gente estava passando essa situação e não foi informado ao órgão, por mais que seja uma área licenciada, ela já está ocorrendo em uma dupla inconformidade, que é a do lançamento e a de não ter avisado ao órgão ambiental. A gente vai fazer esse recorte, vai atrás de identificar esse real infrator e vai puní-lo de forma exemplar".
O Sistema Guandu é responsável por 80% do abastecimento de água potável da capital e Região Metropolitana. De acordo com a Iguá, até que a operação seja totalmente restabelecida, o abastecimento de água nas áreas atendidas pela empresa pode ser influenciado por baixa pressão. Além disso, a concessionária informou que disponibilizou maior quantidade de caminhões pipa, especialmente para serviços emergenciais, como hospitais, clínicas e UPAs.
A Águas do Rio divulgou que o Sistema Guandu, sob gestão da Cedae, fornece a água tratada e a empresa de saneamento distribui no Centro e zonas Norte e Sul, além das cidades de São João de Meriti, Nilópolis, Belford Roxo, Duque de Caxias, Mesquita, Nova Iguaçu e Queimados. Por conta da interrupção na ETA Guandu, as empresas responsáveis pela distribuição estão orientando seus clientes comerciais e residenciais a fazer o uso consciente de água.
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