Primeira sede do Vasco da Gama na rua Sacadura Cabral, na Gamboa, está fechada e inativaCleber Mendes/Agencia O Dia
Localizado na rua Sacadura Cabral, na Gamboa, região Central do Rio, o espaço chegou a ser reinaugurado em novembro de 2020 para uma exposição sobre a história do início do clube, mas funcionou até maio de 2021.
Integrantes do grupo Guardiões da Colina ajudaram a idealizar o projeto há três anos e lamentam o descaso da presidência do clube em preservar um local que faz parte da história do Vasco.
Raphael Pulga, um dos integrantes do grupo, explica que inicialmente foram os membros que alugaram e reformaram o espaço. "Quando a gestão (Jorge) Salgado assumiu, passamos o imóvel pra eles que nada fizeram e tudo se estragou mesmo com recursos privados", diz.
O espaço fechou em maio de 2022, mesmo depois de ter arrecadado alguns recursos para revitalização com ajuda de patrocínio: R$ 70 mil veio através de dinheiro arrecadado pela Ambev em uma campanha com o Zé Delivery, parte dele foi destinado ao pagamento do aluguel (de maio de 2021 até maio de 2022) e reforma e a outra parte seria para a curadoria e cenografia da exposição do local, que não aconteceu.
Segundo Horácio Junior, vice-presidente de História e Responsabilidade Social do Vasco da Gama, a exposição deve acontecer em setembro, em outro local, na sede Náutica da Lagoa.
"Infelizmente não existe interesse do Vasco em reabrir o Candinho. O valor do aluguel proposto pelo proprietário inviabiliza economicamente o projeto. Mas a curadoria do Candinho será instalada na Lagoa. Faremos na Lagoa um centro cultural, um tour com visita guiada", afirma Horácio, que não cita o valor pedido pela locação, mas afirma que o proprietário pede o triplo do que é cobrado da região.
A reportagem procurou o dono do imóvel que diz não ter "nada a declarar".
Desperdício de dinheiro
A verba recebida para o projeto, no entanto, foi destinada para a revitalização e exposição no Candinho. Horácio admite que uma parte foi mesmo investida nas obras para uma exposição que nunca ocorreu.
Ao todo foram recebidos R$ 70 mil e, segundo a reportagem apurou, cerca de R$ 30 mil foram destinados às obras.
"Houve um desperdício do dinheiro da reforma do Candinho. Mas as propriedades comerciais com a Ambev serão respeitadas. E o que planejamos expor será aproveitado. Mas um desperdício maior seria assinar um contrato de aluguel três vezes acima do mercado local. No longo prazo o desperdício seria maior", revela o vice-presidente.
"O Candinho está abandonado"
O Analista de Infraestrutura, Fábio Vare, 44 anos, integrante do Guardiões da Colina, que "colocou a mão na massa" e ajudou a revitalizar o espaço em 2020, torce para que algum vascaíno com condições consiga alugar e reabra o prédio para se tornar mais um espaço ativo do clube.
"Um patrimônio do clube, para vascaínos conhecidos e os que não conhecem poderem visitar, em forma de exposição, a bela história que o Vasco tem para contar. Tínhamos alguns planos de tentar inserir isso na matéria da história do Negro, do Rio de Janeiro", conta.
"O Candinho está abandonado, largado, não fizeram absolutamente nada, o que é muito triste, né? Ver onde tudo começou, onde foi assinado ali pelos sócios a fundação do Vasco, onde tudo se deu início e está abandonado, largado. Depois de um trabalho que a torcida fez, abraçou e custeou", lamenta Fábio.
Raphael Pulga completa dizendo que tudo da exposição organizada pelo grupo foi perdido.
"O bem mais precioso de uma instituição é sua história. O Vasco, que tem a história mais bela de todas, não deveria tratar o local de fundação com tanto descaso. Como torcedores, fizemos nossa parte, reformamos, abrimos o espaço para torcida visitar e conhecer toda história da Fundação. Infelizmente a gestão atual, mesmo com dinheiro privado, não levou adiante".
O torcedor explica que quando o grupo alugou a sede, tudo foi pago com doações de vascaínos de todos os lugares do mundo. "E não foi só dinheiro, recebemos ajuda de dedetização a material de construção. Limpamos o espaço em grandes mutirões de grupos de torcedores".
Depois que a gestão Salgado assumiu, a Ambev que já tinha ajudado os torcedores nesse grande mutirão, fez uma campanha via Zé Delivery para manter o espaço, pagando um ano de aluguel e ainda doando dinheiro para mais reformas. "Infelizmente o dinheiro entrou, mas o espaço foi abandonado", lamenta.
"Foi feita ainda uma reforma para receber a exposição. Mas encontramos mais problemas nessa reforma que não foram aceitos na negociação com o proprietário. Fizemos um estudo de avaliação econômica. O custo do aluguel somado aos demais custos de operação da casa ficariam maiores do que a receita esperada", diz Horácio Junior.
O vice-presidente de História e Responsabilidade Social do Vasco afirma ainda que a verba que seria destinada à curadoria da primeira sede foi investida na exposição prevista para acontecer na Lagoa. "Não instalamos no Candinho por causa da reforma complexa", justifica.
Sede provisória
Foi na sede provisória do clube durante dois meses, na antiga rua da Saúde (atual Sacadura Cabral), que foi definido o primeiro uniforme do Vasco, suas cores e símbolos. Foi lá também, antes de ser transferida para a região da praia da Formosa, que o primeiro estatuto do clube foi redigido.
Exposição na Lagoa
A ideia, segundo o executivo do Vasco, é levar a exposição de Candinho para a Lagoa.
"Levaremos a exposição Camisas Negras para a Lagoa. Teremos a exposição prevista no Candinho e reeditaremos a exposição sobre a relação do Vasco com Portugal", afirma.
Os visitantes, segundo Horácio, poderão visitar a flotilha do Remo, tirar fotos com os azulejos de Burle Marx e Manuel Félix Igreja. "Tirar fotos no terraço reformado e no salão nobre do clube", diz.
"Estou validando essa semana a cenografia do local, a curadoria já está praticamente feita. Acredito que antes do final de setembro isso fique pronto para a inauguração", complementa.
Reabrir o Candinho está nos planos do Vasco?
Apesar de todo o dinheiro desperdiçado com o não funcionamento do Centro Cultural Cândido José de Araújo de 2021 até agora, o vice-presidente afirma que preservar a memória do Vasco com o funcionamento da primeira sede "é importante, mas não é fundamental. "É fundamental que seja um projeto sustentável financeiramente. Com preços praticados de mercado".
"Eu não assinaria um contrato que destruiria valor para o Vasco. Na Lagoa todas as propriedades da Ambev estarão expostas num ecossistema que vai gerar um bom recurso para o clube. Essa foi uma decisão estritamente financeira", explica.
E mesmo não aproveitando as chances de explorar o espaço com a ajuda financeira dos patrocinadores anteriores, Junior não descarta estudar uma nova proposta, caso surja, de reabrir a primeira sede do Vasco.
"Se aparecer outro parceiro disposto a investir e dividir os custos do local numa situação mais perene, o Vasco vai sentar e avaliar", conclui.
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