Para-brisa dianteiro do carro em que a vítima estava foi destruído pelos tirosReginaldo Pimenta/Agência O Dia

Rio - Após a menina H. dos S. S. ser baleada durante uma ação da Polícia Rodoviária Federal no Arco Metropolitano, em Seropédica, na Baixada, na noite desta quinta-feira (7), o Diretor-Geral da instituição, Antonio Fernando Souza Oliveira, disse nesta sexta-feira (8), em entrevista à Globonews, que o disparo feito por um dos agentes rodoviários federais não é um método aceito.
O pai da menina contou que eles, a mãe da criança, a irmã de 8 anos e uma tia delas voltavam da casa dos avós, em Itaguaí, na Região Metropolitana, por volta das 20h, quando passaram por uma viatura parada em um cruzamento na entrada de Seropédica. Segundo William Silva, não houve ordem de parada, mas os agentes passaram a seguir e a ficar muito próximos ao veículo da família. Ele então decidiu dar seta para encostar o carro e, quando já estava no acostamento, quase parando, o automóvel foi alvo de mais de quatro disparos.
"A gente precisa marcar que não é um método aceito pela PRF, isso não está previsto em nenhum dos nossos manuais. Pelo contrário, nós temos uma portaria interministerial de 2010, assinada pelo então presidente Lula, a portaria 4226, que deixa claro (...) que é vedado o disparo de arma de fogo contra veículo que fugiu de bloqueio policial ou que não atendeu a ordem de parada. E aí independente se essa ordem existiu ou não existiu. Não é permitido o disparo de arma de fogo para o veículo que está em fuga, a gente tem que fazer o acompanhamento tático", afirmou o diretor-geral.
A portaria interministerial 4.226, de 2010, trata do uso da força por agentes de segurança. Ela explicita que "não é legítimo o uso de armas de fogo contra veículo que desrespeite bloqueio policial em via pública, a não ser que o ato represente um risco imediato de morte ou lesão grave aos agentes de segurança pública ou terceiros".
Segundo Antonio Fernando Souza Oliveira a atuação dos policiais no caso está sendo apurada. Em nota, a Polícia Rodoviária Federal informou que afastou, preventivamente, três agentes envolvidos das ações operacionais, "inclusive para atendimento e avaliação psicológica", e a arma do policial que fez os disparos foi apreendida para perícia.
A instituição disse também que as circunstâncias da ação estão em apuração pela Corregedoria e que colabora com as investigações da polícia judiciária para o esclarecimento dos fatos. "A PRF expressa seu mais profundo pesar e solidariza-se com os familiares da vítima, assim como está em contato para prestar apoio institucional".
A menina permanece no Centro de Terapia Intensiva (CTI), após ter passado por cirurgia no Hospital Municipalizado Adão Pereira Nunes (HMAPN), em Duque de Caxias, na mesma região.
Com a repercussão do caso, em uma publicação em suas redes sociais, nesta sexta-feira (8), o ministro da Justiça e Segurança Pública cobrou providências sobre a ação e descreveu o caso como uma tragédia. Flávio Dino afirmou que está esperando por uma resposta dos órgãos de direção da instituição e que mandou acelerar a revisão da doutrina policial e manuais de procedimento da PRF.
"Sobre a tragédia com uma criança de 3 anos no Rio de Janeiro, já solicitei esclarecimentos e providências aos órgãos de direção da PRF naquele Estado. Estou aguardando a resposta, que será comunicada imediatamente. Outras medidas serão informadas em breve", disse.
Outro caso
Essa não é a primeira vez que uma abordagem da PRF termina com uma pessoa baleada. Em junho deste ano, uma mulher, de 23 anos, foi morta na Rodovia Washington Luiz (BR-040), sentido Rio de Janeiro, por volta das 22h de sábado (17). De acordo com a ocorrência, a vítima, identificada como Anne Caroline Nascimento Silva, e o condutor do veículo estavam em um carro em alta velocidade e não teriam obedecido a ordem de parada dos policiais da PRF. Os agentes realizaram um cerco tático e dispararam contra o casal. Um dos tiros atingiu a mulher.
De acordo com a PRF, até esta sexta-feira (8), o agente que efetuou o disparo segue afastado. O processo corre em sigilo na Corregedoria.