O ator Victor Meyniel foi ouvido nesta sexta-feira (8) na 12ª (Copacabana) Bruno Kaiuca/Agência O DIA

Rio - A defesa do ator Victor Meyniel rebateu o depoimento da amiga do agressor, a médica Karina Assis Carvalho, 30 anos, que o acusa de importunação. Segundo os advogados, a declaração é parcial e tenta justificar o injustificável, que foi o espancamento revelado pelas imagens do circuito interno do edifício e a omissão de socorro por parte do porteiro. O artista foi ouvido pela segunda vez na 12ª (Copacabana) nesta sexta-feira (8).

A mulher que divide apartamento com o estudante de medicina Yuri de Moura Alexandre, 29, preso por agredir Victor Meyniel, disse em depoimento, nesta quarta-feira (6), que o ator foi retirado do imóvel depois de tê-la importunado ao menos três vezes. As agressões aconteceram no sábado (2), na portaria do prédio em que eles moram, em Copacabana, na Zona Sul.
A defesa de Victor reforça ainda que o depoimento é uma tentativa de culpar a vítima. "Já esperávamos um depoimento favorável ao agressor, considerando que ele e a depoente são amigos e que em casos similares, a regra é tentar culpar a vítima pelo grave ataque que sofreu", diz a defesa de Victor.
Segundo o ator, os socos se iniciaram quando ele, sem entender o motivo pelo qual havia sido expulso do apartamento, perguntou o que estava acontecendo a Yuri, se as pessoas não sabiam que ele era gay. E que, no momento em que apanhava, ouviu o agressor dizer "eu não sou viado (sic), você que é". 
Os advogados reforçam ainda que confiam no bom trabalho de apuração policial e na Justiça.
Depoimento da amiga do agressor

Na delegacia, Karina contou que Victor tentou entrar no seu quarto algumas vezes, e, ao perceber que a porta estava trancada, passou a bater incessantemente. Ao abrir, Victor teria debochado da médica por estar assistindo uma série dublada em português e questionado se ela não sabia falar inglês. Após responder no idioma que via a série dessa maneira porque estava cansada, a médica pediu para que ele saísse e mandou mensagens para Yuri pedindo que o tirasse do cômodo, porque ele a estava importunando.

Em seguida, com a chegada de Yuri, Meyniel teria confrontado a mulher de forma agressiva sobre ela ter pedido ao amigo que o retirasse do local. O agressor então tira o ator do apartamento, dizendo "você não vai tratar minha amiga assim. Ela mora aqui. Aqui é a casa dela. Você vai embora agora", e o leva para o corredor, voltando depois para entregar seus tênis, momento em que uma discussão teria acontecido. Pelo 'olho mágico' da porta, Karina viu o amigo colocando Victor no elevador e gritando três vezes para ele ir embora.

Ela disse ainda que Victor teria ameaçado Yuri, dizendo que ele não sabia quem o ator era e que sua vida nunca mais seria a mesma, e se recusava a ir embora, forçando a porta do elevador. Em resposta, o agressor teria dado o dedo do meio. Karina contou que voltou a dormir e, pouco depois, foi acordada pelo amigo dizendo que Meyniel ainda não havia ido embora. Mais algum tempo depois, a médica voltou a ser despertada, dessa vez pelo porteiro no interfone, dizendo que ela precisava ir à delegacia para pegar os pertences do estudante.

Segundo a médica, o porteiro estava gaguejando, tremendo e não conseguiu contar o que havia acontecido. Na 12ª DP, ela declarou que conhece Yuri desde 2017, quando estudavam juntos, e que moravam no mesmo apartamento há cerca de dois meses. Karina afirmou que Yuri tem temperamento normal e calmo e nunca o viu usando drogas e que sabe que bebe socialmente. Ela contou também que sabe sobre a sexualidade do amigo desde que se conheceram e que o relacionamento do agressor com homens é de conhecimento de familiares, amigos, colegas de faculdade, do porteiro e vizinhos, e inclusive conheceu o ex-marido do agressor.

Relembre o caso

Victor Meyniel foi brutalmente agredido por Yuri de Moura Alexandre, que confessou o crime e foi preso e autuado em flagrante pelos crimes de lesão corporal, injúria por preconceito e falsidade ideológica. Segundo Ricardo Brajterman, advogado do ator, eles se conheceram na noite de sexta-feira (1º), na boate SubStation e, após a festa, se dirigiram para o apartamento do agressor, na Rua Siqueira Campos. No dia seguinte, pela manhã, quando eles despediram na portaria, a sexualidade do agressor foi revelada ao porteiro do edifício.

A defesa do estudante apresentou uma certidão de casamento homoafetivo, durante audiência de custódia, na segunda-feira (4), para evitar a manutenção da prisão. Entretanto, Yuri teve a prisão convertida em preventiva por conta da gravidade da violência e a decisão da Justiça também ressaltou que o fato dele já ter sido casado com outro homem não exclui a possibilidade dele responder por injúria por homofobia, além da lesão corporal.

Nas imagens que foram gravadas pelo circuito de segurança do prédio, Yuri joga Victor no chão e distribui socos contra ele. Nesse momento, o porteiro do prédio observa a cena sem intervir ou prestar socorro. Gilmar José Agostini foi autuado por omissão de socorro. Em depoimento, o síndico do prédio defendeu o homem, alegando que ele é uma pessoa simplória, tem medo das coisas, é diabético e cuida do irmão que está internado. Marcos de Carvalho Abrantes afirmou ainda que ele interfonou informando que estava acontecendo uma briga na portaria e que Yuri era o autor das agressões contra o ator.