Luiza Fernanda e Ana Beatriz foram mortas com golpes de martelo Arquivo Pessoal

Rio - Foram divulgados trechos de depoimentos de testemunhas durante audiência de custódia de David de Souza Miranda, preso por matar a filha e a sobrinha, na última sexta-feira (22), em Senador Camará, na Zona Oeste do Rio. Em um dos relatos, outra filha do suspeito, que presenciou os fatos, afirma que o pai disse que cometeria o crime para "mostrar à ex-companheira como era ficar sem filho".

As duas, identificadas como Luiza Fernanda da Silva Miranda, de 5 anos, e Ana Beatriz da Silva Albuquerque, de 4 anos, eram primas. Elas haviam ido à casa de David para que ele pudesse ver a filha, Luiza Fernanda, já que uma medida protetiva impedia a aproximação da mãe dela, Nayla Albuquerque, de 23 anos.
A criança, então, foi levada até o pai pela tia, Natasha Maria Silva Gonçalves de Albuquerque, em companhia da filha dela, Ana Beatriz. Ao chegarem no local, o suspeito amarrou Natasha e a torturou. Depois, deu marteladas nas duas meninas. Por fim, ele ateou fogo na casa e fugiu em um carro.

Outra filha de David, uma adolescente de 13 anos, é testemunha ocular do crime. Em depoimento, ela afirmou que o suspeito estava inconformado porque a sua ex-companheira o havia denunciado à polícia por crimes praticados contra ela. Segundo o relato, o homem disse que cometeria o crime como forma "de mostrar à ex-companheira como era ficar sem filho".
A adolescente foi obrigada a ficar no quarto e em seguida, ouviu barulhos de marretadas e gritos. A jovem escutou, ainda, Luiza Fernanda gritar: "pai, não faz isso, não pai, pelo amor de Deus, pai", tendo ouvido novos barulhos de marreta.

Segundo o depoimento da adolescente, após o crime, David ligou para Nayla e disse que a filha do ex-casal havia "implorado para não morrer" e que ela tinha "provocado uma tragédia na família".

No local do crime, vizinhos relataram que viram o imóvel pegando fogo e tentaram apagar. Quando as chamas diminuíram, eles conseguiram entrar no imóvel, tendo encontrado as duas crianças, uma delas completamente desacordada e aparentando estar morta. A outra menina foi encontrada com os pés presos sob uma cama box, com o corpo todo queimado, mas ainda com vida, mexendo os braços.
Luiza e Natasha foram socorridas para o Hospital Albert Schweitzer, em Realengo. A menina morreu ao dar entrada na unidade. Já a mulher, segundo a direção do hospital, tem estado de saúde considerado grave, com queimaduras por todo o corpo. Ana Beatriz foi levada para uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA), onde já chegou sem vida.

Os laudos de exame de necrópsia realizados nas vítimas indicam que ambas vieram a óbito em razão de traumatismo craniano e que o incêndio na residência ocorreu após a morte.
David dirigiu do local do crime até cair com o carro na linha férrea na altura da Mangueira, na Zona Norte da cidade. Moradores da região foram ao local do acidente e viram um celular tocando no meio do mato. Uma pessoa que atendeu foi informada de que o suspeito havia acabado de matar duas crianças e então a polícia foi acionada. O homem fugiu a pé do local do acidente e foi capturado por policiais do Segurança Presente na Rua Conde de Bonfim, em frente ao Tijuca Tênis Clube, na Zona Norte.

Prisão convertida em preventiva
O Tribunal de Justiça do Rio (TJRJ) converteu em preventiva a prisão de David durante audiência de custódia realizada nesta segunda-feira (25). Na decisão, a juíza Rachel Assad considerou que testemunhas do caso ainda vão prestar depoimento, fazendo-se necessário resguardar a instrução processual, em especial porque se trata de crime de homicídio, que impacta diretamente nas pessoas envolvidas ou que tenham presenciado os fatos. "É evidente a necessidade da conversão da prisão em flagrante em prisão preventiva do custodiado como medida de garantia da ordem pública, sobretudo porque crimes como esse comprometem a segurança de diversas pessoas, principalmente da comunidade local", diz trecho.

Ainda na decisão, a magistrada citou a frieza e desequilíbrio emocional do acusado. "Fator que pode contribuir para que as testemunhas se sintam constrangidas para prestar depoimento sabendo que o autor de um crime de tamanha gravidade estará solto no mesmo ambiente. Ressalte-se que a principal testemunha dos fatos é outra filha do custodiado e conta com apenas 13 anos de idade, devendo-se destacar que a menor relata o temor que sente do pai, justamente pelo comportamento descompensado", escreveu a juíza na decisão.