Manifestação de parentes do adolescente morto na Cidade de Deus, após a soltura dos policias. Na foto, o pai da vítima (boné branco)Reginaldo Pimenta / Agencia O Dia

Rio - Famílias de jovens mortos em ações policiais no estado do Rio de Janeiro se reuniram, nesta segunda-feira (2), na frente da sede do Ministério Público do Rio (MPRJ), no Centro do Rio, para pedir por justiça e cobrar celeridade no andamento das investigações. Entre as dezenas de familiares presentes estavam o pai e a mãe de T.M.F, de 13 anos, morto durante uma operação da Polícia Militar na Cidade de Deus, Zona Oeste do Rio, no início de agosto. Frustrados, os pais do jovem questionaram a decisão da Justiça em mandar soltar os quatro policiais envolvidos na morte do filho.
Os agentes Roni Cordeiro de Lima, Diego Pereira Leal, Aslan Wagner Ribeiro de Faria e Silvio Gomes dos Santos, do Batalhão de Polícia de Choque (BPChq) foram presos preventivamente no dia 6 de setembro após apresentarem uma pistola e munições atribuídas erroneamente à vítima, indicando que o jovem estaria armado. A decisão pela soltura do grupo aconteceu na última quinta-feira (28).
"Estamos aqui por essa injustiça que está acontecendo. Eles ficaram o quê? Um mês presos?", indagou o pai de T.M.F, Diogo Bezerra Flausino. "Meu filho está morto e até hoje a gente não teve o nosso luto, pois estamos na luta. Queremos resposta! Eles foram soltos rapidamente porque camuflaram e manipularam tudo. O sentimento é de revolta. Quem matou já está solto", continuou Diogo.
A mãe do adolescente, Priscila Menezes Gomes de Souza, criticou duramente a postura dos policiais dentro da comunidade, que terminou na morte do morador. "Meu filho era uma criança que tinha 90% de frequência na escola, treinava logo depois da aula, ia para a igreja...  Estamos numa luta para provar que eles [PMs] mataram o meu filho e fizeram um teatro naquele dia. Julgaram o meu filho de uma forma que a gente que é pai e mãe não entende. Se no Brasil não tem pena de morte, por que mataram meu filho? A minha luta é que eles sejam julgados e responsabilizados", disse Priscila.
Também estiveram na sede do MPRJ a família de Guilherme Vilar Bastos, morto durante uma operação do Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope) no dia 25 de novembro do ano passado, no Complexo da Maré, Zona Norte do Rio. Nesta segunda-feira (2), o jovem completaria 20 anos.
"Hoje ele completaria 20 anos, era para ser dia de festa lá em casa, fazendo almoço, um bolinho que ele gostava, mas foi morto pelo estado. Minha vinda aqui é por uma resposta que nunca chega. Mês que vem meu irmão completa um ano de morto e eu não quero que ele seja só mais estatística, por isso viemos aqui para buscar resposta, justiça", disse Rafaela Vila Bastos, irmã de Guilherme.
Ainda segundo ela, ela e outras famílias se reuniram no mês passado com representantes do MPRJ para conversarem, individualmente, sobre cada caso. "Depois da reunião nos ofereceram tratamento psicológico, mas a gente não quer isso agora, a gente quer justiça. Os policiais não entram nas comunidades para dar voz de prisão, eles entram para matar", disse. "No Brasil não tem pena de morte, só dentro das comunidades, na Zona Sul não tem isso", refletiu.
O ato realizado nesta segunda-feira (2) já havia sido marcado antes da Justiça decidir pela soltura dos policiais militares envolvidos na morte de T.M.F. Para chamar a atenção das autoridades, as famílias levaram cartazes, fizeram faixas e também vestiram camisas com os rostos dos mortos em ações policiais.
As investigações das mortes de T.M.F e Guilherme Vilas Bastos estão sob a responsabilidade da Delegacia de Homicídios da Capital (DHC). Procurada para comentar o ato, o MPRJ ainda não respondeu. O espaço está aberto para manifestação.
*Colaboração de Reginaldo Pimenta.