Escola Municipal Cívico - Militar, ronda escolar da Guarda Municipal. Nesta sexta-feira (25)Reginaldo Pimenta / Agência O Dia

Rio - A briga que aconteceu dentro da Escola Municipal Cívico-Militar, no bairro Rocha, na Zona Norte, entre dois estudantes do ensino fundamental, em que um deles saiu desmaiado, preocupa pais e responsáveis. De acordo com algumas mães que estiveram na escola na manhã desta sexta-feira (24), as brigas são recorrentes, as crianças enfrentam tempo vagos por falta de professores e não há inspetores nos corredores. Ainda durante a manhã, viaturas da Polícia Militar e da Guarda Municipal reforçavam a segurança nos arredores do colégio.

De acordo com a nutricionista Thalita Piotto, 37 anos, mãe de uma aluna de 14 anos, do 8º ano, a escola tem presenciado vários focos de briga, principalmente após a saída de monitores militares.

"Esse ano tem tido vários focos de brigas, não só nessa escola, mas em outras do bairro. Antigamente, quando era Cívico-Militar, tinha 16 monitores militares que atuavam e tomavam conta da escola. Nunca houve um caso desse, mas com a descontinuidade do projeto, os contratos dos militares foram acabando, e eles foram saindo, então de 16 miliares e um agente educador tomando conta de 680 alunos, agora só tem dois militares que são vão ficar até o fim do ano", explicou.

A escola foi fundada em 2020, a partir de um programa do governo federal que propunha uma gestão compartilhada do ensino. Esse ano, o governo federal decidiu encerrar o Programa Nacional de Escolas Cívico-Militares (Pecim), mas o município e o estado do Rio mantiveram o funcionamento dessas escolas.

Ainda segundo Thalita, os alunos ficam com muito tempo livre por conta da falta de professores. "Somos a escola que tem mais agentes educadores, porque a maioria das escolas só tem um, e nós temos 3. Então eles estão dentro da legalidade, mas não é suficiente. E assim, no sistema só tem um professor que saiu e a vaga dele está em aberto, mas existe muita licença, folga do TRE, e com tudo isso os alunos ficam com tempo ocioso", contou.

Sobre a briga, ela relata que um dos envolvidos é reincidente em confusões, enquanto o outro estaria 'matando' aula. "Esse menino da briga estava matando aula, teve o intervalo dele e acabou, ou seja, era pra ele subir e descer outras turmas, mas o menino que era reincidente em briga foi lá e causou toda essa confusão".

Durante a manhã desta sexta (24), a nutricionista explicou também que um representante da Secretaria Municipal de Educação esteve na escola conversando com os pais.

"Um rapaz da SME chamou os responsáveis que estavam na porta da escola para fazer uma reunião. Nessa reunião eles falaram que vão resolver, que sobre a questão dos tempos vagos vão colocar alguém, talvez suplentes, para as crianças não ficarem com tempo vago. Então estamos confiantes, porque afinal de contas são nossos filhos que estão lá", contou.

Outra mãe, também de uma aluna de 14 anos, do 8º ano, Maryana de Oliveira, de 33 anos, reafirmou a frequência de brigas na escola e contou que um dos estudantes envolvidos na briga já agrediu sua filha em outra ocasião.

"Essas brigas estão sendo constantes na escola, não é a primeira vez. Um desses meninos é reincidente. Na confusão que teve com minha filha, onde ela foi agredida, foi um desses. O diretor tomou todas as medidas, convocou os responsáveis dele 7 vezes, mas eles não apareceram. Então não teve o que resolver. Ele não podia tomar medidas drásticas porque tem uma hierarquia", disse.

Maryana reforçou também a falta de funcionários e o medo de mandar a filha para escola em meio às brigas. "O que está acontecendo é que a escola está com falta de funcionários e de professores. As crianças ficam com muito tempo ocioso na escola sozinhos, o que acaba ocasionando esse tipo de coisa. Não têm funcionários suficientes para supervisionar quase 700 alunos. Além disso, eu estou com medo de mandar minha filha pra escola. Nas quartas-feiras, por exemplo, de 9 tempos de aula, eles só 7", explicou.

Já para Gesiane Souza da Conceição, de 37 anos, mãe de dois alunos, sendo um do 6º ano e uma do 8º, o problema vai além da escola, pois para ela, educação vem de casa.

"E se uma criança tivesse morrido? Cadê os pais que não veêm isso? Se os pais vissem seus filhos mais, tivessem mais com ele, se tirassem 30 minutos do seu tempo de trabalho pra ir na escola ver o filho no recreio, iam ficar surpreendidos. Vejo pai e mãe culpando o diretor, mas a educação vem de casa, eles têm que corrigir seus filhos em casa", desabafou.

A mãe contou ainda que presenciou o comportamento inadequado de crianças por várias vezes. "Eu não tenho o que falar do comportamento e desenvolvimento dos meus filhos na escola, sobre professores e direção. Mas tenho que falar sobre um ano de mudanças da escola, onde ocorrem brigas, conflitos, crianças desrespeitando professores e até o diretor. Eu falo isso porque vendo sacolé do outro lado da rua e vejo as crianças todo dia. Na hora da saída mesmo é uma muvuca no meio da rua, aí depois acontece um acidente o pai vai vir culpar um adulto sem saber a real causa do problema", contou.

Gesiane finalizou dizendo que ficou abalada ao ver o vídeo em que um dos alunos desmaia. "Eu vi o vídeo e falei pra minha filha que estava decepcionada com as crianças, justamente porque a escola é pra aprender e estudar. A escola não é ringue, quando tem um conflito, o objetivo da criança é procurar um adulto. Ah, o diretor estava em reunião? Ah, o professor não estava? Mas tinha um monte de criança ali, se 10 crianças saíssem pra procurar, não tinha acontecido o que aconteceu. Virou um ringue! Ontem meu dia acabou quando eu vi aquela imagem, porque eu sou mãe, Graças a Deus meus filhos não são de se envolverem em problema", disse.
O que diz a Secretaria Municipal de Educação?
Após a repercussão do caso, a Secretaria Municipal de Educação do Rio informou que o diretor pediu exoneração do cargo. Com isso, a partir desta sexta-feira (24), a escola deve contar com um novo diretor.
Nas imagens que circulam nas redes sociais, foi possível notar que a briga aconteceu no pátio da escola e durou quase um minuto, sem a presença de nenhum responsável no local. Durante a discussão, os alunos trocavam socos até que um deles caiu no chão e levou um chute na cabeça, momento em que desmaiou.
Ainda segundo a Secretaria Municipal de Educação, o aluno agredido foi atendido na UPA do Engenho Novo, onde fez tomografia e foi liberado. Os alunos tem idade entre 11 a 14 anos. Isso porque o colégio abrange apenas turmas do 6º ao 9º ano.
A pasta disse também que repudia qualquer tipo de agressão dentro de escolas. Ambos os estudantes que se envolveram na briga terão apoio psicológico. Além disso, foi instaurada uma sindicância para apurar o caso.