Teatro João Caetano, na Praça Tiradentes, passará por reformas a partir de dezembro e ficará fechado por seis mesesCléber Mendes

Rio – Marco da história cultural do Rio, o Teatro João Caetano, na Praça Tiradentes, no Centro, passará por uma reforma profunda e ficará fechado por seis meses para reestruturação da parte elétrica e de ar-condicionado. O teatro, que acaba de completar 210 anos, é o mais antigo da cidade ainda em atividade. As reformas buscam trazer melhorias para a experiência do público e, assim, atrair de volta a frequência e a glória dos tempos passados da Praça Tiradentes, um dos mais importantes cenários da história político-cultural do país.
O teatro fecha as portas a partir de 5 de dezembro e se sobreporá ao Carlos Gomes, que também passa por revitalização. Com a reabertura deste último, prevista apenas para meados de 2024, a Praça Tiradentes ficará pelo menos seis meses sem os seus dois maiores atrativos. Ainda assim, as obras são vistas de forma positiva.
Cecília Silva, de 42 anos, mora no Engenho Novo, na Zona Norte, mas sempre que há um bom espetáculo ela vai à Praça Tiradentes. Pelo menos uma vez por mês, a psicóloga vai ao João Caetano para acompanhar peças, balés, entre outros shows. 
"São muito importantes não só para a área central do Rio, como para a cidade. Estamos falando da Praça Tiradentes, que sempre foi um ponto de efervescência da cidade. Além disso, é muito próxima da Pequena África, onde ficam as maiores referências da cultura negra. Fica também perto da Central do Brasil e do Sambódromo, uma área vital para a vida política, cultural e econômica da cidade. Fico muito esperançosa, principalmente diante da reforma do João Caetano. Com a sua história de eventos a preços populares, é um facilitador de acesso da população ao teatro. É muito importante acreditar na retomada da efervescência cultural da praça e do papel do João Caetano na formação de público para a cultura do Rio de Janeiro", afirma Cecília.
As obras do João Caetano consistem em três grandes transformações: troca de toda a rede elétrica (a atual é dos anos 1970), modernização do sistema de refrigeração e instalação de placas de energia solar, garantindo o uso de energia limpa e tornando o espaço ambientalmente correto. A gestão do espaço é realizada pela Fundação Anita Mantuano de Artes do Rio (Funarj), vinculada à Secretaria de Estado de Cultura e Economia Criativa.
Na esquina da Praça Tiradentes com a Avenida Passos, o teatro foi inaugurado como Real Theatro de São João - uma homenagem ao príncipe regente - , em 12 de outubro de 1813, com a presença real de Dom João VI. Trata-se de um patrimônio que retrata um percurso importante da história do Rio de Janeiro. A casa já abrigou em seus tablados ícones da dança, do teatro e da música, como a cantora de ópera italiana Augusta Candiani (1820-1890), que estreou no Rio de Janeiro como a prima-dona da Companhia Italiana de Ópera, no Theatro São Pedro de Alcântara (segundo nome do teatro) interpretando 'Norma' na primeira montagem da ópera no Brasil. O entusiasmo do público com a artista foi tão grande que ela não voltou para Milão e construiu no Rio uma carreira de sucesso permeada pelos momentos de glória vividos nos palcos do hoje João Caetano. Pelo palco do João Caetano passaram também Eleonora Duse e Sarah Bernhard, duas importantes atrizes do século XIX.
Desde então, sofreu três grandes incêndios (1824, 1851 e 1856) e trocou de nome algumas vezes. Em 1826, teve o nome trocado para Imperial Theatro Pedro de Alcântara, após Dom Pedro I devolver o monumento reformado à sociedade.
Doze anos mais tarde, em 1838, o maior artista do século XIX, João Caetano dos Santos, nascido em Itaboraí (1808-1863), arrendou o espaço. Depois de passar por mais dois incêndios, o teatro foi demolido, em 1929, e reconstruído em estilo art déco. Foi em agosto de 1923 que recebeu o atual nome.
Do outro lado da Praça Tiradentes, o Teatro Carlos Gomes, 60 anos mais novo do que o João Caetano, recebe obras da Secretaria Municipal de Cultura do Rio, que administra o equipamento cultural. A reforma é para restauração e adequações para acessibilidade. O investimento é de aproximadamente R$ 9 milhões.
Entre as principais transformações físicas, estão também itens como nova climatização, revitalização do Salão Guarani, prevenção e combate a incêndio, modernização dos elevadores, recuperação das instalações elétricas, hidráulicas e de esgoto, e recuperação dos camarins, das salas técnicas e plateia.
Uma outra ideia é a ampliação da capacidade de público, ampliando de 685 para 755 lugares. Haverá ainda elevador para acessibilidade, assim como no palco. Segundo a prefeitura, o Carlos Gomes será transformado em um teatro tecnológico, com coworking e rede wi-fi. Em estilo art déco, conta com cafeteria, copa e foyer com mesas e cadeiras. O teatro ocupa um imóvel tombado por sua importância arquitetônica, histórica e cultural, e faz parte dos Circuitos do Patrimônio Cultural do Instituto Rio Patrimônio da Humanidade (IRPH).
A Funarj prepara ainda um conjunto de reformas estruturais para outros espaços culturais, com início também previsto para o dia 5 de dezembro, data em que se encerra a temporada artística da fundação, e voltarão a funcionar dentro de seis meses. São eles: Sala Cecília Meireles, na Lapa, Região Central, Teatro Arthur Azevedo, em Campo Grande, na Zona Oeste, Teatro Armando Gonzaga, em Marechal Hermes, Zona Norte, e Teatro Glaucio Gil, em Copacabana, na Zona Sul.

Assim como o João Caetano, a Sala Cecília Meireles receberá instalação de energia solar, contudo, sem necessidade de interdição total.

Por último, o Teatro Municipal Ziembinski, na Tijuca, Zona Norte, passará por uma reformulação total, com previsão de reabertura para o primeiro semestre de 2024. A licitação começará em novembro. A reforma acontece graças a um acordo com a família do ator e diretor Walmor Chagas (1930-2013), que permitiu a desapropriação do imóvel.


Temporada de reaberturas
Se os teatros mais antigos do estado passarão um tempo com as suas cortinas cerradas, o público pode esperar por boas notícias de reaberturas de outros equipamentos culturais.
Rebatizado como Teatro Municipal Domingos Oliveira, o antigo Teatro Maria Clara Machado, no Planetário, no bairro Gávea, Zona Sul, reabriu em setembro, após três anos e meio fechado, desde o início da pandemia de Covid-19. A troca do nome se deu em uma homenagem ao dramaturgo carioca, morto em 2019, aos 82 anos. Domingos Oliveira esteve à frente da direção do teatro do de 1996 a 2001.
Já o Teatro XP, cujo nome agora é I love Prio, localizado dentro do Jockey Club Brasileiro, na Gávea, Zona Sul, foi reaberto no último dia 6, após dois meses fechado para reforma (a capacidade do teatro é de 362 lugares). No mesmo dia, o Hall EcoVilla Ri Happy, no Jardim Botânico, Zona Sul, também reabriu as portas, e passou a abrigar espetáculos destinados a adultos.